Capítulo 13 - Cidade Estrelada

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                 Sete anos e dois meses depois

Taeyong subia aquela ladeira inerte em pensamentos, de forma que nem tinha percebido como seu corpo sedentário estava cansado e como sua garganta estava sensível por estar respirando pela boca o ar frio daquela manhã, seu peito subia e descia, buscando não deixar faltar oxigênio em seus pulmões. Estava um pouco envergonhado por estar cansado em subir uma ladeirinha, seu corpo estava desesperado como se estivesse subindo o Everest

Ao subir toda a ladeira, olhou para trás, verificando a altura que tinha percorrido, passar tantos anos fora o fez esquecer como as ruas da sua cidade natal poderiam ser cansativas, mesmo pegando costume em andar por elas. Levou suas mãos aos joelhos e tentou controlar sua respiração, limpando o suor do rosto com a manga do seu moletom e continuou andando até chegar ao lugar que mais tinha frequentado nos últimos vinte dias.

Graças ao faro da Valentina, que tinha conseguido informações sobre a tão esperada Exposição de Arte e Fotografia, ele tinha conseguido localizar Jaehyun, só não tinha conseguido ainda reunir coragem para o encarar e encarar seu passado novamente. Se sentia um covarde ridículo, naquela altura, além de ter perdido a coragem, tinha certeza que já tinha perdido o grande amor da sua vida. E sempre que pensava naquela possibilidade, seu peito machucado sangrava.

Apesar de ser um bairro com pequenos pontos comerciais, como aconchegantes cafeterias e adoráveis lojas de doces e sorvetes, todas as ruas daquela localização eram calmas. Estava em frente a um galpão grande de dois andares, tinha aproximadamente o tamanho de um campo de futebol, as paredes eram brancas e acolhia uma placa grande no topo do prédio, intitulado "Projeto Acolhedor". As janelas do segundo andar eram grandes e ocupava quase toda a parede, de um canto a outro, de baixo até em cima, já no primeiro andar tinha uma porta grande de vidro.

Não sabia exatamente como funcionava aquele projeto e sobre o que tratava, mas sabia que se fosse para os fundos do prédio poderia ver claramente o que acontecia dentro daquele galpão tão grande. A parede traseira tinha aberturas de iluminação e ventilação, Taeyong não sabia se as pessoas de dentro poderiam o ver, mas nunca percebeu olhares para si. A parte de trás do prédio era um beco largo que as pessoas usavam para colocar lixos, na grande caçamba que tinha ali, outras pessoas sempre colocavam aventais para secar em dias ensolarados, ele sempre ficava impressionado com o fato de ninguém roubá-los do varal.

Se sentou em um banco de concreto que tinha ali, geralmente aquele lugar cheirava a cigarros e nem era de se surpreender ver bituca no chão, mesmo que ao lado do banco tivesse um pequeno lixinho, ali era um fumódromo. Sempre ficava ali, de onde sentava, tinha uma visão perfeita de dentro do galpão, onde via várias crianças e adolescentes pintando todas as tardes, claro que era separado por turmas, já que todos os dias eram grupos de pessoas diferentes.

Cruzou as pernas e olhou no relógio, faltavam trinta e cinco minutos para a aula começar, tinha cerca de três alunos espalhados pelo chão, rindo e falando alto. Não tinha chegado cedo demais, na verdade ele sempre gostava de chegar meia hora antes, onde poderia colocar a cabeça no lugar e ouvir os passarinhos cantando, anunciando que a tarde apenas estava começando.

- Preciso lembrar de trazer uma garrafinha de água - Falava para si mesmo, ainda tentando relaxar o corpo - Preciso começar a fazer exercícios também, essa dor na canela sempre que ando muito, é chata pra caramba.

Pegou o celular e buscou em sua agenda o número do Jaehyun, que tinha conseguido depois de vasculhar a pauta de Valentina, claro que ele fez isso escondido, se ela soubesse estaria o perturbando na primeira oportunidade que tivesse. Com muito cuidado, para não apertar na opção de ligar, clicou a foto do perfil do rapaz. Uma foto tirada dentro do carro, com o cinto de segurança contra o peito, tirada por alguém que Taeyong não fazia a menor ideia de quem seria. Jaehyun esboçava um sorriso gigante, onde as covinhas estavam visivelmente aparentes e deslumbrantes, um daqueles sorrisos que Jaehyun costumava dar para ele, sempre que contava uma piada sem graça.

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