capítulo 1

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O despertador toca de forma estridente e eu tenho vontade de jogá-lo pela janela. Tudo que eu queria era poder dormir até tarde, mas a vida não é tão fácil assim. Levanto-me da minha cama e esfrego meus olhos para me livrar do sono. Como faço diariamente, arrumo minhas cobertas e travesseiros, afinal, minha mãe sempre me disse que um dia não começa da mesma forma quando não arrumamos nossa cama.

Vou até meu pequeno guarda-roupa para pegar minhas costumeiras calças pretas, camiseta e jaqueta jeans. Visto-me rapidamente, ajeito meus cabelos ruivos com a mão e sigo para o banheiro para escovar os dentes. Mesmo estando sozinha nesta casa há seis meses, não consigo me acostumar com o silêncio que me persegue. Pego minha mochila jogada no chão e ao passar no corredor, me detenho para olhar no porta retrato da minha família. Na foto, meu pai está sorrindo com o braço pelos ombros de minha mãe, também toda sorrisos e ambos estão olhando para mim, pequena, que estou fazendo graça para deixá-los alegres. Uma lágrima escorre pelo meu rosto e eu a limpo rapidamente.

Não é o momento de desabar, Ellie, censuro minhas emoções querendo transbordar.

Suspiro fundo e sigo para a porta da frente. O dia está nublado, demonstrando indícios do inverno se aproximando na Califórnia. Com isso, caminho em direção a Oficina Mecânica do Tony ao lado de minha casa. Vejo Tony sentado de costas para a entrada segurando uma xícara de café e não resisto ao impulso de assustá-lo. Chego bem próximo de seu orelha e digo:

— Bom dia, Tony.

— Valha-me Deus! — ele exclama, derrubando um pouco de seu café no chão.

Solto uma gargalhada estranhamente animada pelo horário.

— Muito engraçado, Eleonor. — o homem de meia idade semicerra os olhos para mim, fingindo indignação. — É assim que você trata o seu querido e amado tutor?

Cruzo os braços com um leve sorriso no rosto.

— Sim, Tony, o que seria de mim sem você? — digo com sinceridade.

— Bem, deixa eu dizer o que uma pessoa responsável diz: Você não tem que estar na escola, não, mocinha? — ele coloca a mão em sua barba branca e me olha com uma cara de falsa indignação.

— Tony, essa pose de adulto responsável não combina com você, mas sim, estou indo para a escola, só passei para dizer um oi e avisar que vou passar no hospital para ver minha mãe antes de vir para cá.

— Tudo bem, filha. Dá um beijo na Liza por mim.

— Pode deixar. Tchau, Tony.

— Boa aula, Ellie.

Saio da oficina e caminho pela calçada em direção ao norte, para minha escola. Não fica muito longe daqui, contudo, é o suficiente para me deixar toda suada e com um péssimo humor. A California High School é o colégio que estudo desde que era bem pequena, por isso, conheço 90% dos alunos que aqui estudam, o que não é exatamente algo bom, visto que, adolescentes tendem a ficar cada vez mais sem noção.

— Ei, Ellie, a campanha do agasalho está chegando, vê se descola alguma blusa além dessa jeans. — diz Daniel Hanks, a pessoa com menor cérebro da escola.

Não faço questão de virar em sua direção, apenas mostro meu dedo do meio a ele. Sigo meu caminho rumo ao prédio para chegar ao meu armário o mais rápido possível. Considero a escola algo mais próximo com um zoológico do que qualquer outra coisa. Nunca conseguirei entender como adolescentes podem se preocupar com coisas tão fúteis tão cedo como baile de inverno. Samantha Geller aparece no corredor segurando panfletos e distribuindo para todo mundo que passa por ela, oferecendo ainda um sorriso gentil.

— ELLIE! — Sam solta seu grito estridente ao me ver e vem na minha direção.

Apesar dela ser a maior patricinha da Califórnia High School, ela é a pessoa mais doce que eu conheço e por isso, se tornou minha melhor amiga.

— Sam! — tento imitar minha amiga, mas falho na missão.

— Eleanor Evans, você está sendo convocada a comparecer ao baile de inverno.

Faço um ruído animalesco para demonstrar minha recusa.

— Você sabe que eu não gosto, Sam.

Ela aponta o dedo indicador para mim.

— Mas sua mãe ama bailes de inverno. Você não acha que ela merece te ver em um vestido de baile?

Sorrio, timidamente. Eu amo como Sam fala sobre minha mãe como se ela estivesse saudável entre nós.

— Talvez você tenha razão. — digo e quando ela começa abrir um sorriso vitorioso, eu acrescento: — Mas só talvez.

— Será I-N-C-R-Í-V-E-L. — Sam bate palmas, animada. — Vamos sair um dia para escolher seu vestido. Não vejo a hora.

Passo meu braço por seus ombros e a guio em direção a sala de aula.

— Você é o brilho no meu fundo escuro, Sam.

Ela me olha com os olhos brilhando.

— Que lindo, Ellie. Você tem um coração mesmo!

Dou um cutucão nela em protesto.

— Ei!

Nesse momento, o sinal toca e Sam se desvencilha de mim, rapidamente. Ela odeia se atrasar para a aula.

— Te ligo mais tarde, Ellie. — grita já se afastando.

Começo a caminhar para minha sala, mas me detenho ao sentir meu celular vibrar em meu bolso. Olho a tela e vejo ser do hospital. Seguro a respiração e aperto para atender.

— Alô? — digo, já sentindo minhas mãos tremerem de nervoso.

— Ellie? Você poderia vir até o St. German para conversarmos sobre sua mãe?

— Ela... Ela... — gaguejo, incapaz de formar qualquer frase coerente.

— Quando chegar conversaremos.

— Quando chegar conversaremos

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Quando sair, apague a luzOnde histórias criam vida. Descubra agora