capítulo 2

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Seis meses atrás

— Eu já vou, mãe! — grito de dentro do banheiro.

Odeio o fato de minha casa ter apenas um banheiro e não ter paz na hora de me arrumar. Faço um rabo de cavalo simples no meu cabelo ruivo e embaraçado e escovo meus dentes antes de sair e me encaminhar para a cozinha.

Encontro minha mãe assobiando alguma música da sua adolescência enquanto coloca ovos mexidos em um prato.

— Bom dia, meu anjo. — ela sorri, bem humorada como sempre.

— Bom dia. Não sei como você consegue ser tão feliz nesse horário, mãe. — digo, sentindo-me amargurada com a vida apenas por estar acordada tão cedo.

Ela ri e me entrega o prato com os ovos e algumas torradas.

— Sempre fui uma pessoa que ama acordar cedo, querida.

— Para mim, esse tipo de pessoa era apenas uma lenda.

Coloco uma quantidade exagerada de ovos na boca e minha mãe balança a cabeça.

— Ellie, você é uma figura. — minha mãe sorri. — Bem, seu pai vai me dar uma carona até o hospital antes de ir trabalhar na oficina, podemos te deixar na escola.

Levanto as mãos para o céu. Minha mãe trabalha como enfermeira no hospital St. German, já meu pai é mecânico em sua própria oficina.

— Aleluia! Finalmente não irei chegar suada na escola. Talvez hoje eu consiga um namorado.

— Alguém disse namorado? — meu pai entra na cozinha, fingindo indignação. — Você só irá namorar com 30 anos.

— Pai, você começou a namorar com quantos anos mesmo?

— Estão prontas? — ele desconversa.

Solto uma risada e me levanto, levando meu prato até a pia. Meus pais não foram o primeiro namorado um do outro, então, eles tiveram muitas experiências amorosas até se encontrarem.

— Sim, querido. — minha mãe sorri para ele.

Pego minha mochila e nos encaminhamos para o carro. Ao sair, vejo Tony, melhor amigo de meu pai, colocando lixo do lado de fora.

— Ei, Tony. — aceno para ele.

Ele está sempre usando roupas surradas e com a barba por fazer, é como se fosse meu tio de sangue.

— Bom dia, Ellie. — Tony vem em minha direção e sorri ao ver meu pai. — Peter, meu parceiro, quando você voltar do trabalho, preciso de uma ajuda com o meu carro.

— Sua sucata?

— Sucata é você! — o amigo de meu pai exclama e ambos caem na gargalhada.

Tony também é mecânico e sua oficina fica ao lado de minha casa. Meu pai e ele sempre trocam experiências e passam horas arrumando o carro de Tony em que apostava corridas quando os dois eram mais jovens.

— Claro que ajudo, Tony. Tenho algumas ideias para dar uma turbinada nele.

Nos despedimos de Tony e vamos para o carro. Meu celular vibra no meu bolso e eu o pego.

Você prefere esse body rosa ou esse vestido florido?

Reviro os olhos. Sam e seus problemas fashions de toda manhã.

O que te fizer se sentir tão poderosa quanto a Mulher-Maravilha, respondo

— Se um dia eu faltar, confiaria apenas em Tony para cuidar de vocês duas. — meu pai diz, de repente.

— Que conversa é essa, querido? — pergunta minha mãe, acariciando a parte de trás do pescoço dele.

Guardo meu celular na minha bolsa e começo prestar atenção na conversa.

— É algo a se pensar, Liza. A vida é um sopro. Nunca sabemos o que pode acontecer.

— Você está proibido de me deixar, Peter. Você prometeu ficarmos velhinhos juntos. — minha mãe diz, chateada com o assunto.

— Você será uma velhinha adorável. — ele sorri.

— Vocês dois são muito melosos. — brinco, arrancando sorriso de ambos.

Meu pai para na frente da escola e eu abro a porta para descer. Contudo, sinto um impulso e olho para trás.

— Eu amo vocês, família.

Meus pais me olham orgulhosos.

— Também amamos você, Ellie. — minha mãe diz com os olhos marejados.

— Amamos você além da vida, querida. — conclui meu pai.

Sorrio e desço do carro. 

***

Atualmente

Chego ao hospital como um foguete. Caminho rapidamente para a recepção.

— Suzzy, o que aconteceu? — pergunto, angustiada.

— Ellie, não era para você estar na escola? Poderia vir depois.

— Eu não ia conseguir ficar na aula. Me diga o que aconteceu. — imploro.

— Querida, se acalme, sua mãe está bem. — diz docemente — E viva.

Solto o ar, me sentindo tão aliviada que eu poderia chorar.

— É sobre a conta do hospital. Sabemos da sua situação, mas te damos o máximo de tempo que conseguimos. Você precisa pagar até amanhã.

Passo a mão no rosto. Eu só tinha hoje para conseguir a grana.

— Certo. Eu...Eu posso vê-la?

— Fique à vontade.

Caminho até o quarto dela. O lugar que venho praticamente todos os dias nos últimos 6 meses. Se não ficasse no hospital, eu diria que o quarto é bem aconchegante. Além da cama, um sofá grande e confortável ocupa grande parte do recinto. Coloco minha mochila no chão e sigo para onde minha mãe está. Seus cabelos ruivos do mesmo tom que os meus estão esparramados pelo travesseiro como uma coroa, sua pele está pálida, deixando evidente suas sardas. Sento no cantinho do colchão e seguro sua mão.

— Oi, mãezinha. Me chamaram aqui no hospital e eu achei que tivesse acontecido algo com você. Por isso que eu não estou na escola, não fique brava comigo. Tony está cuidando bem de mim, ele não me deixa faltar um único dia e me ajuda no dever de casa. Dá pra acreditar? — dou uma risadinha. — Mas apesar de estar sendo cuidada, vou precisar fazer novamente o que for necessário para você continuar sendo bem cuidada aqui. Um dia, quando você acordar, eu vou te contar tudo e espero que você não se decepcione comigo.

Aproximo-me dela e dou um jeito em sua testa. Me afasto da cama e pego meu celular, discando o costumeiro número para quando falta dinheiro. Ele demora apenas dois toques para atender.

— Ellie.

— Dimitri, eu quero participar hoje.

Ele solta sua risada rouca e irritante.

— Você sabe onde nos encontrar.

— Você sabe onde nos encontrar

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Quando sair, apague a luzOnde histórias criam vida. Descubra agora