capítulo 5

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Adrenalina tomou conta de mim assim que coloquei os pés dentro do carro. Naquele momento, eu me senti poderosa, imbatível. Nada podia me parar e eu ganharia aquela corrida por ele.

Acelerei o veículo até que eu tivesse a sensação de que iria sair voando como um foguete. Quando eu começo a dirigir, minhas veias pegam fogo e só deixam de queimar quando eu cruzo a linha de chegada. Além do mais, ele estar me esperando no final faz tudo valer a pena e sinto a ansiedade repuxando meu estômago.

De repente, eu já não estou mais dentro do carro e sim na frente de um menino no altar de uma igreja. Olhei para baixo, para minha roupa, e me vi vestida com um vestido branco de noiva. Franzo a testa.

Que diabos... , a pergunta começou se formar dentro de minha mente.

— Está tudo bem, querida? — ouvi a voz familiar e levantei a cabeça para encontrar olhos escuros me encarando.

Manuel estava na minha frente vestindo um terno preto e me olhando com um sorriso gigante no rosto. Essa imagem faz uma empolgação preencher todo meu corpo. Apesar de ser a situação mais estranha que já esteve, sente uma felicidade que nunca sentiu. Parece tão certo e…

***

— Senhorita Eleanor… — acordo com alguém me chacoalhando loucamente.

Levanto a cabeça rapidamente e dou de cara com a Sra. Darghos me encarando com uma carranca. Suspiro fundo e esfrego os olhos. Eu dormi de novo durante a aula.

— A senhorita sabe que eu avisei que na terceira vez que eu precisasse acordá-la na aula, seria encaminhada para a direção, então, por favor. — ela aponta a porta.

Murmuro um pedido de desculpas e sigo para fora da sala, ignorando os olhares do pessoal da minha sala. Caminho até a direção de forma desanimada, pois já espero a bronca que levarei (novamente). Como vejo que a mesa da secretária está vazia, bato na porta que possui uma placa escrita “Melanie Williams - diretora da escola”.

— Pode entrar. — ouço e adentro a sala mais cheia de plantas que já vi em toda minha vida. Penso que a principal função da secretária da diretora é regar todos esses vasos.

Melanie olha pra mim e encosta em sua cadeira.

— Eleanor Evans, devo perguntar se a honra dessa visita é o que eu estou pensando.

Arrasto-me até a cadeira em frente da mesa. A Sra. Williams é tão jovem que é facilmente confundida com os alunos, por isso, ela prefere que todos a chamem apenas de Melanie.

— Acabei dormindo na aula da Sra. Darghos.

Seus olhos azuis me encaram seriamente, mas vejo que sua mente está trabalhando para entender o que aconteceu para que a queda de meu rendimento escolar fosse tão evidente. Antes do acidente de meus pais, minha dedicação era percebida e valorizada por todos os professores, entretanto, depois de tudo que aconteceu, minha preocupação foi redirecionada para meu sustento e a escola ficou em segundo plano. Todos sabem que meu pai faleceu, mas praticamente ninguém sabe que minha mãe está em coma, afinal, eu teria que ir para um abrigo em vez de ficar sob supervisão do Tony.

— O que anda acontecendo com você nesses últimos meses, Ellie? Você sempre foi tão dedicada…

Apenas dou de ombros. Sem saber como explicar minha complicada situação para a diretora.

— Certo. Como o gato sempre come sua língua quanto eu te pergunto sobre esse assunto, terei que arrumar uma solução para suas notas baixas e falta de atenção nas aulas. A partir de amanhã, você fará parte do clube de literatura na parte da tarde.

— O quê? — exclamo, preocupada. Como vou ajudar Tony na oficina?

Mel me encara com os olhos semicerrados, como se quisesse ver o que se passa na minha alma.

— Por que o choque? Tem algo que você queira me contar?

Respiro fundo e coloco um sorriso no rosto. Todos amam sorrisos e até deixam de perguntar demais quando vêem um.

— Não, está perfeito. Obrigada, Mel. Estou dispensada? — pergunto, docemente.

Ela assente com a cabeça, com um sorrisinho no rosto. A diretora sabe que sempre faço isso para ser dispensada logo.

— Essa imagem de garota certinha não combina com você, Ellie. — ouço quando estou saindo pela porta e dou uma risada.

— Obrigada pela parte que me toca. — grito de volta.

***

Eu não sei o que é mais estranho, eu indo participar de uma atividade extracurricular ou o grupo de Literatura se encontrar na área das piscinas. Veja bem, eu sempre fui uma boa aluna e amante da leitura, mas após tudo que aconteceu com minha família, sentar com um livro parece algo inútil comparado aos problemas da vida.

Caminho para a área externa e coloco meus óculos de sol. Esse grupo só pode ser doido ao se encontrar debaixo desse sol do meio dia. Ando entre as piscinas sentindo cada vez mais calor por estar usando minha costumeira jaqueta jeans.

Onde diabos está esse pessoal?, resmungo comigo mesma.

Quando já estou sentindo que estou abraçando o sol, resolvo parar para tirar minha jaqueta. Coloco minha mochila no chão, já me sentindo irritada por estar perdida quando ouço uma voz atrás de mim.

— Eu vou atrás dela, deve estar perdida e… — a voz interrompe quando sinto algo trombar em mim e me jogar dentro da piscina. Ouço outra pessoa caindo junto comigo enquanto estou submersa.

Emerjo rapidamente e dou de cara com o menino que estava nos meus sonhos a poucas horas atrás. Manuel.

Merda, penso. Esse garoto é o denominador comum em minhas duas vidas e isso não é nada bom. Eu sabia que tudo ia acabar colidindo uma hora, mas não esperava ser tão cedo. Manuel me olha com os olhos arregalados e sinto uma irritação primitiva tomar conta de mim. Ele pode estragar tudo em um piscar de olhos.

— Você? — diz, ainda em choque.

— Olha o que você fez! — aponto para minhas roupas encharcadas, tentando tirar a atenção de mim e o deixar culpado.

— Você? Ah, me desculpe…Eu sou um desastrado mesmo. Deixa-me eu te ajudar. Eu estava tentando encontrar a nova integrante do nosso grupo de Literatura e…— ele para de falar quando vê minha expressão de choque. — Espera, você é a nova garota? Que coincidência.

— Coincidência até demais… — reclamo e o olho de forma séria. — Olha, você não pode contar a ninguém que você me conhece. Estou falando sério.

Passo a mão no meu cabelo e o sinto totalmente embaraçado. Imagino que minha maquiagem tenha escorrido e eu esteja parecendo um panda. Ou seja, não tenho nenhuma credibilidade. Bufo, ainda irritada.

Ouço uma risadinha abafada e dou um olhar mortal para Manuel.

— Desculpe, desculpe. — diz, mas continua rindo.

— Idiota! — jogo água em sua cara e vou em direção a escada para sair da água.

— Espere! Onde você vai? — ouço-o vindo atrás de mim.

— Embora, ora. 

Os alunos ao redor começam a rir de mim e eu me limito a mostrar meus dois dedos do meio para eles enquanto sigo para dentro da escola encharcando tudo no meu caminho.

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⏰ Última atualização: Dec 10, 2021 ⏰

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