Capítulo XX – Um novo si próprio.
__Por que ainda estamos em São Francisco?
Julian Wilks, o primitivista que havia levado Ellsworth para a Ajuda Mútua, parecia desconcertado, uma nova pergunta ainda mais intrigante se sucedeu:
__Meu deus! – O empresário estava transtornado olhando para o espelho – O que vocês fizeram com o meu rosto?
__Sente-se Ellsworth.
O empresário sentou-se desnorteado e logo fez mais uma pergunta:
__O que essa criatura está fazendo aqui?
Disse ele apontando para Alice Sachs, a repórter da NN que havia o entrevistado. Julian respirou profundamente e disse:
__Você precisa assistir uma coisa.
Dizendo isso projetou um filme mental em uma parede de vidro do seu apartamento, era uma transmissão de um programa de notícias: nele Alice Sachs, pouca coisa mais jovem, dizia de modo técnico:
__Thomas Ellswort, o empresário excêntrico que já havia manifestado seu interesse por prolongar o máximo o possível sua vida, recebeu alta ontem do Centro de Biologia Sintética e Engenharia de Tecidos de São Francisco (CBSET-SF), sendo o primeiro ser humano a receber um novo corpo, construído inteiramente através de métodos artificiais. O procedimento consistiu no uso da Biologia Sintética para a reconstrução de seu genoma, com a adição de polimorfismos mais adequados e a correção de mutações, uma célula tronco construída também através da Biologia Sintética, foi estimulada a dividir-se. Os tecidos gerados foram cultivados em moldes sintéticos e cada órgão, construído separadamente, foi agregado de modo a constituir o primeiro corpo humano inteiramente gerado através de procedimentos sintéticos. O código neural de Ellsworth foi copiado de seu cérebro, que foi mantido como Backup em um centro de criogenia e manutenção, cujo nome não foi divulgado, e transferido para as redes neurais de seu cérebro sintético. O empresário não quis gravar entrevistas, mas disse com bom humor que “passou por todos os testes de memória autobiográfica e que se sente como antes, só que mais novo e mais atraente”.
__Que Diabo é isso? – Questionou Ellsworth ainda mais confuso.
Julian suspirou e disse:
__Isso que você acabou de ouvir aconteceu há dois anos.
__Pare de brincar comigo, seu primitivista de uma figa!
Julian pareceu instantaneamente preocupado e, enviando um código tranquilizante para o cérebro de seu interlocutor, prosseguiu:
__Você é aquele cérebro que ficou como backup...
Ellsworth gargalhou e indagou de modo ríspido:
__E eu tenho que acreditar nisso?
O primitivista tentou falar de modo compreensivo:
__Eu sei que é difícil de acreditar. – E emendou – Mas o que você viveu após a cirurgia ocorreu apenas naquele centro de criogenia.
O empresário emendou ironicamente demonstrando uma feição que misturava raiva e desnorteio:
__Eu não empobreci, não fui à Yorktown, nada disso aconteceu?
__Aconteceu no seu cérebro...
__Já sei! – Arregalou os olhos – Depois vocês roubaram o meu cérebro de backup do centro de Criogenia, mandaram construir um novo corpo e pronto!
__Perfeitamente. – Concordou Julian sem ter apreendido o sarcasmo na voz de seu interlocutor.
Ellsworth ergueu um pequeno cinzeiro de led e o arremessou contra a parede, mandou ambos os presentes para lugar indelicado e tomou o corredor, seguiu-se o barulho do empresário forçando a trava magnética da porta de saída.
Após minutos tentando, o empresário desistiu e ficou jogado contra o chão do corredor, Julian continuou estático sentado no sofá, Alice que assistia tudo aflita, após sentar-se no sofá, afirmou:
__O que podemos fazer agora?
__Acho que esperar um pouco...
Diante de seu olhar repreensor, Julian justificou-se:
__Nós já sabíamos que essa seria a parte mais difícil...
Ela mordeu os lábios e disse mexendo as pernas ansiosamente:
__Tudo foi invasivo.
__De que outro modo poderíamos agir?
__Poderíamos... – E emendou enfadada – Que droga!
Julian olhava para a jovem enquanto acendia um cigarro e pensava consigo que a antiga repórter da NN ainda estava longe de entender a real gravidade da situação.
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Amor maior que 2
Science Fiction"__Todos estão buscando escapar.... Ora se projetam no outro, ora se projetam no futuro. Sempre uma fuga do agora. O estrangeiro concordou admirado. Talvez Ellsworth, lendo seus pensamentos, realmente estivesse certo: conhecia pouco de Faina. Ela...