Capítulo V.3 - O preço da bondade

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Após andarem mais um pouco o empresário pôs-se novamente a indagar sobre questões existenciais:

__Mas e o café da manhã?

__Como assim?

O empresário disse em tom rude:

__Você tem algum problema? – Emendou apontando para a cabeça – Vocês além de dormirem ao relento, também não comem nada nesse acampamento?

O primitivista franziu o cenho e justificou:

__Ellsworth, aqui não é uma colônia de férias...

O interlocutor sorriu ironicamente e pensou alto:

__Malditos hippies!

O primitivista então se pôs a explicar:

__Quando nós dizemos que temos de carregar o que precisamos, nós entramos em um novo problema, que é justamente entender o que precisamos...

__Certo. – Respondeu Ellsworth examinando a casca seca de uma árvore.

__Mas ninguém sabe realmente o que precisa no mundo. Então esperamos que essa decisão não parta de nós...

O empresário gesticulou indicando seu desnorteio e o primitivista novamente justificou:

__Você criou a NN, esse monte de cérebros interconectados, então você sabe que nós estamos sendo monitorados pelos outros a cada segundo, não sabe?

Ellsworth bocejou, enquanto o primitivista prosseguia:

__Aqueles pedidos de ajuda, nunca são enviados pelas pessoas que precisam, mas sim por outras pessoas observando a situação delas.

__Então, você acha que alguém vai nos mandar alguns hambúrgueres daqui a pouco?

__Certamente.

Uma hora mais tarde o primitivista abocanhava um sanduíche frio de manteiga de amendoim, diante do olhar desapontado de Ellsworth. O empresário após alguma resistência acabou comendo rapidamente um daqueles sanduíches que havia sido enviado por um ramo da Ajuda Mútua em Vermont. Tão logo, ele tomou para si outro, sob o olhar repreensor do primitivista:

__Você acha mesmo que você precisa de mais um?

__Aquela mulher ali já comeu três... – Disse isso apontando para uma mulher sentada não muito longe dos dois.

__Ela está grávida, você não vê?

__E daí... – Emendou abocanhando o sanduíche – Não precisa comer por três!

Diante do desapontamento do primitivista, Ellsworth questionou buscando não parecer hostil:

__Mas, você não acha que é a melhor pessoa do mundo para saber sobre o tamanho da sua própria fome?

__Talvez...

Amor maior que 2Onde histórias criam vida. Descubra agora