- Capítulo 7 -
Taissa
- Que merda! - O Evan ergueu a voz à saída do edifício. A tarde com os idosos tinha sido divertida, o Evan interagiu bem com todos os idosos, jogou bilhar com os senhores e tudo. No entanto, tinha ido tudo por água abaixo quando percebeu que estávamos atrasados para a reunião.
- Calma. Nós chegamos a tempo. - Tentei tranquilizar, embora tivesse a perfeita noção de que estava errada. Nós estávamos mesmo atrasados.
- Chegamos? Já viste as horas? São quase 18h! Temos cerca de meia hora para chegar à empresa e ter tudo pronto para começar a merda da reunião.
- Eu deixei os documentos organizados, isso já é uma ajuda. Tem calma.
Ele respirou fundo enquanto quase corria para o carro. Eu tentei acompanhar os seus passos.
- Ainda por cima deixei a merda do carro longe! - Queixou-se.
- Eu não tenho culpa, avisei que podias deixar aqui à porta. Mas como sempre o senhor teve medo que alguém roubasse a preciosa máquina. - Rolei os olhos.
- Ah, agora a culpa é minha por deixar o carro longe. - Ele riu sem humor. - Tu é que decidiste vir para este fim do mundo visitar os abandonados ou lá o que são. Coitadinhos. - Franzi o sobrolho, irritada.
- Desculpa? - Ergui também a voz e ele abrandou. - Não voltes a falar assim deles.
Ele apenas suspirou e ia falar, mas foi interrompido por um berro da Anne.
- Taissa, querida! - Voltei-me para trás, vendo-a a segurar a minha mochila ao portão. Ótimo, tinha-a deixado lá e nem tinha percebido. - A tua mochila!
- Despacha-te. - O Evan murmurou, carrancudo.
Eu apenas virei costas e corri para o portão.
- Obrigada, Anne. Não sei o que seria de mim sem a senhora! É o meu novo anjo da guarda. - Brinquei e ela sorriu.
- Ah, não te preocupes. Tens aí também um cachecol que a senhora Rose fez para ti. - Ela sorriu, estendendo-me um cachecol felpudo vermelho.
Agradeci mais uma vez a amabilidade e caminhei em direção ao Evan, que já se encontrava no outro lado da rua à minha espera no carro.
Fiquei mais animada ao ver o cachecol, estava completamente derretida pela amabilidade da avó Rose, mas tinha que me concentrar em correr para o carro para tentar chegar a tempo da maldita reunião.
Impaciente, o Evan buzinou. Irritada, apenas acelerei o passo e atravessei a rua. Estava já pronta para lhe gritar que parasse com a buzina irritante quando me atrapalhei no meio da estrada, tropecei nos meus próprios pés e caí por cima do meu braço esquerdo. Gemi imediatamente de dor ao sentir o impacto do meu braço no chão e a dor latejante começou imediatamente. Tentei mexer o braço, mas as dores eram muitas.
O Evan imediatamente saiu do carro e veio em meu auxílio.
- Taissa! Santo Deus! - Estendeu-me a mão e eu agradeci a sua ajuda, com as bochechas a ferverem de vergonha. Cair à frente dele, que horror. - Estás bem? Anda, vamos sair do meio da estrada.
- Estou... - Gemi. Ele ajudou-me a caminhar até perto do carro, embora eu andasse bem. De seguida, foi buscar a minha mochila e o cachecol que entretanto tinham ficado na estrada.
- Tens a certeza de que está tudo bem? - Perguntou, analisando-me de alto a baixo com uma expressão preocupada. Estaria ele mesmo preocupado comigo? Pensar nessa hipótese deixava-me estranhamente feliz.
- O meu cachecol... - Murmurei, vendo o cachecol que a D. Rose tinha feito para mim rasgado.
- Ah, poupa-me. - Ele murmurou. - É um cachecol horrível e o material é péssimo. Eu mesmo compro-te um numa loja de grife.
- Tu não entendes. - Ele olhou-me, confuso. - Nem tudo é dinheiro, Evan. Este cachecol foi feito para mim com amor e dedicação, não há nada no mundo que pague isso. Espero que esta tenha sido a última vez que te ouvi falar assim destas pessoas incríveis e do trabalho delas. Ouviste?
- Desculpa. - Ele murmurou.
Eu apenas virei as costas, mordendo a língua para aguentar os gemidos de dor. O meu braço estava ainda a latejar, mas eu não poderia dar parte fraca.
- Onde pensas que vais? - Ele interrogou quando eu entrei no carro, fechando a porta com o braço são.
- Onde achas que vou? Não era a porcaria da reunião e o dinheiro as únicas coisas que te importavam? Então vamos, só quero que este dia acabe. - Expliquei irritada. Ele suspirou, entrando no carro.
Quase a explodir de raiva tentei puxar o cinto com a mão sã, mas acabei por mexer bruscamente o braço magoado.
- Ah, merda! - Murmurei entre dentes, não aguentando mais reprimir a dor quente e latejante. - O meu braço...
O Evan desligou novamente o motor do carro e pegou cuidadosamente no meu braço, que estava a ficar cada vez mais inchado.
- Olha para o estado do teu braço. Achas mesmo que vamos para a empresa agora? - Ele parecia surpreso. Preocupado talvez.
- Está tudo bem. - Menti.
- Não, não está. Vamos ao hospital. - Ele cortou-me. - Nem penses que vais para a empresa assim. O teu braço está uma lástima e eu tenho que ter a certeza de que não tens mais lesões.
- Querendo ou não, a reunião é importante. - Falei, séria. - Eu aguento-me durante uma hora ou duas e depois do expediente vou ver isto. Sem problemas. Apenas anda.
- Taissa, que se lixe a reunião. És mais importante que isso, ok? - Ele murmurou, arrancando velozmente.
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We ain't Ashes
Fiksi Penggemar"Às vezes temos que renascer das cinzas, mas sem nos transformarmos nelas. Nós somos humanos, não cinzas." Onde Taissa convive diariamente com Evan, o seu chefe mal humorado que esconde um passado sombrio, e um simples convite muda tudo.