Um novo dia surgiu, a chegada marcada por uma intensa frieza, de nuvens colorindo o céu com tons acinzentados e apenas alguns pássaros tímidos ousando cantar pelos arredores. O chuvisco constante conferia uma atmosfera melancólica à paisagem, enquanto as gotas d'água dançavam em sua coreografia silenciosa pelo ar gélido.
Taehyung estava sentado no colchão, olhando para os próprios pés que tocavam o chão de madeira. A sua respiração calma soava e os seus olhos vagavam de um lado para o outro. Um longo bocejo escapou de seus lábios, fazendo com que finalmente se levantasse e fosse para o banheiro.
O banho quente ajudou que os seus olhos abrissem. Assim, vestiu uma roupa leve e confortável, e buscou pelo pequeno porta-comprimidos guardado na cômoda perto da cama. A gaveta estava uma bagunça, cheia de papéis, tecidos picotados e fitas, então demorou um tempo até achá-lo.
Quando achou, pegou dois comprimidos e os levou à boca, engolindo sem precisar de água. Afinal, os anos passaram e aquilo tornou-se costumeiro para ele. Levantava, tomava remédio, cuidava da vida. Levantava, tomava remédio, cuidava da vida. Taehyung aprendeu a ignorar o comprimido machucando sua garganta.
Olhando-se uma última vez no espelho, saiu do quarto. Seus passos preguiçosos ecoaram pelos corredores, provocando rangidos que não o perturbaram. Continuou assim até chegar na cozinha, onde as janelas abertas deixavam entrar a luz suave da manhã, acompanhada de um aroma doce de morango ao leite.
Na pia, SeokJin estava concentrado na preparação de um bolo, seu cantarolar suave soando pelo ambiente. Ele estava distraído, lambendo os dedos para limpar a cobertura que sujou o balcão.
Sem fazer barulho, Taehyung se aproximou dele e esbarrou o ombro em suas costas, provocando um leve susto. SeokJin rapidamente ficou em alerta, seus olhos encontrando os de Taehyung com raiva e surpresa.
— Caramba, Taehyung! — SeokJin gritou, os olhos arregalados. Ele tentou empurrá-lo de volta, mas Taheyung desviou com um leve sorriso. — Eu já te disse para você parar de fazer isso! Que saco! Quase me matou de susto!
— "Parar de fazer" o quê? Eu nem fiz nada.
— Ah, vai! Sai pra lá, sai! — SeokJin balançou as mãos. — Ah, calma! Ei, calma! Você já tomou os remédios? — perguntou, os olhos tomando um leve tom de preocupação. — Hoseok pediu para eu te lembrar, já que o doutor mudou a sua receita. Você precisa tomar dois comprimidos agora com água — destacou as últimas palavras —, ir estudar para o seu teste final da faculdade e depois se arrumar para ir ao psicólogo.
Taehyung não conseguiu deixar de rolar os olhos, pegando uma garrafa de água na geladeira enquanto SeokJin falava e começando a seguir caminho em direção à saída da cozinha.
— Eu não sou nenhum bebê para não saber o que fazer.
— E o Hoseok falou que é para você colocar meias nos pés! As pantufas não vão te proteger do frio, Taehyung!
Ainda conseguindo escutar SeokJin, Taehyung olhou para os próprios pés e sentiu as bochechas quentes. Estava mesmo usando uma pantufa, era quase como uma rotina: precisava usar aquela pantufa todos os dias.
Foi o primeiro presente que recebeu em anos. Jimin tinha dito que comprou a pantufa especialmente para ele. Taehyung sentiu que aquilo era um lembrete de que nunca estaria sozinho. Ele não queria sentir aquilo de novo.
Pegando o controle da televisão, ignorou quando SeokJin passou por onde estava e murmurou um "folgado". Um sorriso brincou em seu rosto. Assim, finalmente sozinho e em silêncio, decidiu continuar a ver o seriado que estava maratonando há um tempo.
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Ômega da cidade [FÍSICO].
Fanfiction| LIVRO FÍSICO PELA EDITORA SINGULARITY. Em um mundo separado por classes, Taehyung odiava-se por estar na mais baixa. Quando foi mandado para longe de casa, pouco imaginou que seus pais o odiassem o suficiente para deixá-lo em um lugar qualquer afa...