"chuvisco de irritaçao"

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O ano era 2026.

Era uma manha gelada, chuvosa e triste , porem ja havia me levantado como de costume, sempre levantava cedo, esse era um dos meus costumes, coisas de garoto do interior como dizia meu avô, mas na verdade nem moravamos tao no interior, mas so o fato da cidade nao ter tanto movimento, ja a fazia parecer deserta...
Vesti minha blusa estampada com uma Foto da Lana del Rey, uma das minhas cantoras favoritas... Eu acho que a amava, amava também suas composições, suas músicas sempre eram diferentes e misteriosas... Mas emfim, coloquei a minha blusa, uma calça jeans preta, "justamente colada", e um sapato preto.. Olhei me no espelho, penteei meu cabelo com as mãos, que nao deu muito certo e fiquei na janela olhando o dia sem graça de outono começar pela droga da janela do meu quarto...
Por varias vezes me perdia olhando as gotas de chuva... Nos últimos anos, eu havia mesmo aderido a moda urban, futurísticamente desleixado, num mix sea Punk, Adoro isso.. Essas tendencias retrô... Que vao e vem.

- Que perfeito, essa chuva não vai parar nunca mais. Disse para mim mesmo sem esperanças.

Eu queria sair.. E andar la fora, entre as arvores que ainda restavam.. Afinal ,as chuvas derrubaram a maioria, Alem da modernidade , quase não existia nada natural nessas ruas... Mas pra minha sorte a rua onde moravamos era deserta e um pouco afastada de toda a bagunça .

Fiquei tanto tempo olhando pela janela e pensando que nem Havia percebido que a Chuva ja tinha passado.
Sai da janela e fui pegar minha jaqueta jeans, meus braços estavam gelados do frio que fazia... Entao a vesti e desci para a cozinha.
Minha mae ja estava pronta pro seu trabalho , tomando seu café rapidamente.

- Bom dia Elliot! Disse ela.

- Bom dia Sara! Respondi.

- Sara? Desde Quando deixei de ser sua mãe? Perguntou.

- Desde quando parou de ter tempo pra mim. Soltei seco.

- Filho me desculpe, tenho que trabalhar, voce nao sabe o quanto e dificil cuidar de uma empresa... Tudo sou eu .. Me entenda por favor.

- Qual é?! Voce esqueceu de novo que iria me apresentar no teatro... E perdeu a apresentaçao...Mae ate o prefeito estava la e voce nao!. Disse sentindo meu rosto esquentar.

- Tudo bem... Olha me perdoe , prometo ir na proxima, mas nao me trate assim, quando for mais velho entendera.

- Tudo bem mãe... Espero voce na proxima apresentaçao, que sera no sabado a noite. Vou estrear meus patins novos.

- Sabado filho? Se queixou .

- Sim...sabado , e voce estará lá.. nao é?. A fitei seriamente.

Ela me encarou um tanto incomodada mas concordou segurando sua bolsa e indo em direção a porta com seus saltos enormes.. Seu carro ja estava na frente de casa.
Antes ao menos ela me beijava antes de sair, mas agora me contentava com um aceno de dentro daquele carro azul .
Eu ate a entendia, pois ela era sócia De uma empresa de arquitetura e infraestrutura, e andava ocupada demais com a criaçao de um novo tipo de transporte, ou sei la.. Nao me enteressava muito.

- Tchaaaau! Gritei vendo o carro dela sumir em direçao ao centro da cidade.

Depois voltei pra dentro, tomei meu chá , peguei minha bolsa , minha câmera e o livro que estava lendo ; "Além das estrelas azuis" , ela era um livro bacana, datado de 2015, mas era um livro legal. E depois sai de casa.
A rua ainda estava um pouco úmida por causa das chuvas de outono, e ainda fazia um pouco de frio, que se fazia evidente com os ventos e folhas amareladas que voavam pelo céu.
Continuei andando , ate passar por uma esquina escura onde haviam garotos, fumando sei la oque, nao me importava muito, so queria andar logo pra chegar na praça do bairro e tirar algumas fotos para terminar o mural do meu quarto que custava a finalizar. Eu amava fotografias, mas queria as melhores pro meu mural..entao tirava varias em todos os lugares.

Ja estava vendo algumas arvores da praça e o monumento de vidro triangular que havia lá, quando ouvi passos atras de mim e me virei; eram dois garotos um tinha o cabelo branco ,provavelmente mal tingido com tintas de farmacia...e o outro era careca com uma tatuagem na nuca, que contornava seu pescoço.
Ambos estavam vestidos com roupas surradas, jeans largos e coturnos.
Riam e cochicavam olhando pra mim.

- Qual é a Graça? Me falem que tambem quero me divertir. Perguntei sem medo.

- Voce é a graça florzinha! Haha
O careca disse.

- Haha me deixem em paz, voltem pro esgoto de onde sairam seus sujos!

- Olha o cabelinho dele, todo engomadinho , essa menina! Disse o de cabelo branco.

- Nao sou menina , Vao se ferrar seus projetos de lixo humano. Vao atras de alguem para encherem, voces nao tem algo melhor pra fazerem? Perguntei, apressando os passos ate que um deles puxou minha bolsa, fazendo com que eu caísse no chão pois a bolsa era de lado.

- Porra! Me deixem em paz seus drogados que merda! Disse farto. Enquanto eles riam sem parar.

- Ah, molhou a roupinha dele! Disse o de cabelo branco rindo!

Levantei- me , peguei minha bolsa e disse:

- Caiam fora ou vou chamar a Polícia! Naquele momento como se tivessem lido minha mente , passou ao nosso redor duas motos da policia estadual.

Em questao de segundos os dois marginais começaram a correr, acho que deviam algo e logo sumiram na esquina.
E os policiais continuaram a fzer suas rondas. E eu segui meu caminho ate que cheguei a praça e me sentei perto da grande pirâmide de vidro.

Ainda era cedo e nao tinha muitas pessoas na praça, apenas algumas pessoas correndo em volta do lago.

Eu nao me sentia bem, sentia meu peito ser invadido por uma grande angústia, acho que senti o peso do preconceito daqueles dois estranhos.
Na verdade sempre convivi com olhares diferentes ai meu redor, e eu sabia que era diferente, mas queria ser tratado normal.

Lembro me de ouvir historias de como o preconceito machucava as pessoas no passado, e que so havia mudado a situaçao quando o governo reconheceu os danos causados e criou leis drasticas com puniçoes severas pra quem cometesse tais crimes.
Mas para mim, ainda sentia o peso da indiferença e nada parecia ter mudado, algumas pessoas ainda encaravam pessoas como eu de forma estranha e diferente.
Fazia um tempo que nao me sentia mal assim, as pessoas nao faziam ideia de como oprimiam e nos privavam de nos sentir livres mesmo em uma civilização liberalista.

Acho que todos que passam por esse tipo de preconceito sentem o mesmo que eu! E como se voce fizesse parte de um núcleo , mas nao se encaixasse nele completamente... Eu sabia que nao era o unico sentir angustia de ser quem eu era, de poder me vestir como queria ou usar o meu cabelo de um certo modo, mas de uma coisa eu tinha certeza, eu nunca desistirei de lutar pelo meu espaço, e nunca desistirei de mim. Estava disposto a ser forte, por mim e por aqueles que se sentiam como eu.
Eu estava tao triste que nao pude conter minhas lagrimas... E sim eu era assim, sensivel..mas nunca deixara transparecer.

Peguei minha camera e sequei meu rosto com as mãos .. Respirei fundo e fui ate o lago tirar fotos das flores de Ypé rosa que flutuavam sobre a água.
Tirei algumas fotos, de alguns casais que namoravam nos bancos , das arvores e de alguns idosos qur mais pareciam adolescentes correndo e se movimentando. Ate que meu celular tocou:

- Alô , Quem é? Perguntei.

- Sou eu! A voz feminina respondeu.

- Eu quem? Perguntei rindo.

- O robô clone da madonna! Disse ela rindo.

- Haha' mulher e a senhora nao morreu ainda? Perguntei .

- hahahaha' sou eu Elliot, A luana, estou indo para sua casa okay?

- Luana? Meu deus! To indo pra casa agora! Estou vom tantas saudades!quando voce chegou? Perguntei descrente.

- Vem pra sua casa! Te conto tudo quando chegar... Trouxe um presente! Ela disse e desligou na minha cara, mas eu nem liguei estava feliz... A quase dois anos nao a via, ela era minha melhor amiga. Entao guardei minha camera e fui para casa encontra- la.

Amor Futuristico : Pés descalçosOnde histórias criam vida. Descubra agora