Aprendi a gostar de futebol com o mundial no México em 1986. Foi Diego Maradona que me ensinou. Tive, portanto, o melhor dos mestres e habituei-me mal. Pensei que o futebol seria sempre assim – um triunfo constante. Depois, aprendi que não. No futebol também havia derrotas, desilusões, tristeza e caminhos ínvios.
Imaginei esta história no verão desse ano, entre dois domingos, de 22 a 29 de junho. Era de noite e antes de adormecer conversava com os meus novos amigos, Jean-Marie Pfaff, que me capturara a atenção com um sorriso luminoso, e Diego Armando Maradona, que me fizera rir por causa de uma bandeirola de canto. Inventei uma aventura, um sonho de olhos abertos com eles e efetivamente apaixonei-me e enamorei-me.
Chorei com o fim do mundial, cheia de medo que os tivesse perdido. Mal sabia eu que era só o início de uma longa viagem que durou anos, que teve novas conquistas, outras tantas perdas, que me alegrou e partiu o coração, que teve outro mundial, regressos e despedidas, reencontros e afastamentos.
E sempre que acrescentava um novo parágrafo a essa história, percebia que o mundial no México fora único, especial e irrepetível.
Se me perguntarem qual a minha memória mais bonita desse mundial, não vou responder com um jogo ou um golo, com uma vitória ou uma derrota, com Diego a erguer a tão ambicionada taça dourada. A minha memória mais bonita desse mundial aconteceu no dia 25 de junho, depois do jogo entre a Argentina e a Bélgica, quando Jean-Marie Pfaff e Diego Armando Maradona trocaram de camisola.
Recordar esse momento, porque agora é fácil e possível graças à maravilha da Internet e do YouTube, encheu-me de nostalgia, mas também de muita alegria. Fez-me viver novamente o sonho, com toda a emoção das primeiras vezes.
Apesar deste renascimento, desta segunda existência, esta história vai continuar onde estava: na minha gaveta dos sonhos esquecidos.
Não a quero partilhar com ninguém, porque não existe ninguém neste mundo capaz de a compreender, de perceber o que está dentro das suas palavras. De quanto é vida, passado, alma e eterno. Sou eu, são sonhos e os sonhos não se explicam. Contam-se – na maioria das vezes para nós próprios, para que não os esqueçamos. Nem sempre se revelam e tornam-se segredos.
Recentemente descobri uma entrevista de Jean-Marie Pfaff em que dizia, enquanto recordava o argentino, que ele e Diego tinham sido amigos. Quero acreditar que foi o amor de uma menina de catorze anos que, através do universo invisível, os ligou.
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Sonho de Verão
Historical FictionEste é o meu diário secreto de uma viagem inesquecível que fiz ao México, no longínquo ano de 1986. Acompanhava a minha tia para ajudá-la nos seus estudos sobre os aztecas, acabei dentro de uma aventura totalmente diferente. Esses dias ficaram para...