Capítulo 11

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Pov Kara

A professora Sullivam falava entusiasticamente algo sobre Platão, mas usa voz parecia distante de mim naquele momento. Meus olhos ainda estavam inchados e avermelhados, assim como meu nariz, pelo choro de dez minutos atrás, mas a aula de filosofia parecia estar sendo mais interessante para o resto da classe do que minha mão de enterro. Felizmente.

Meu corpo estava jogado de qualquer jeito sobre a cadeira, e meu rosto descansava pesadamente sobre um punho, apoiado por um cotovelo sobre a mesa. Com o olhar vagando pelas linhas do caderno, eu ainda podia sentir a sensação de culpa presa em minha garganta, como se minha dor de cabeça pulsante já não se encarregasse de me castigar o suficiente.

Quando a professora Sullivan deixou a classe após sua longa aula dupla, notei uma pessoa se aproximou da minha carteira, e ergui meu olhar pra ver quem era. Meus parabéns ao filósofo que disse as coisas sempre podiam piorar, se é que Murphy era um. Filosofia não era meu forte mesmo. 

- Eu só queria te falar que nosso trato está desfeito. - Eve murmurou, parecendo tão irritada por estar me dizendo aquilo que evitava me olhar. - Pode ficar tranquila, aquelas fotos nem existem mais.

Franzi levemente a testa, sem entender por que ela estava fazendo aquilo, mas antes que eu pudesse abrir a boca, ela já se afastava em direção à sua carteira. A única possibilidade que me veio à cabeça me fez afundar ainda mais em minha própria depressão. Só podia ter dedo dela naquela história.

Durante a última aulas, eu continuei mergulhada em meu desânimo, e mal conversei com Alex na hora da saída. Também não vi Mike, que provavelmente devia estar atrapalhado no laboratório, e assim que avistei o carro de mamãe na saída da escola, corri em sua direção. Eu precisava sair daquele lugar e ficar sozinha no meu quarto o mais rápido possível. 

Passei o dia naquele mesmo humor, só deixando meu quarto pra comer um  pouco. Quando deitei na cama após o jantar, o cansaço de uma noite mal dormida me venceu, e eu dormir pesadamente, apesar dos insistentes pesadelos. Todos previsíveis, envolvendo o acidente de Lena.

Acordei no dia seguinte, um pouco menos cansada, e segui minha rotina matinal até chegar à escola. Apreensiva pra saber se ela viria hoje, eu me sentei ao lado de Alex, como sempre, e não desgrudei meus olhos da entrada do colégio. Para minha sorte, não demorou muito e Mike chegou, conversando animadamente com alguém que não era ninguém mais, ninguém menos que a professora Luthor.

Meus olhos se cravaram nela, que parecia completamente saudável, fora o pequeno curativo  em sua testa. Não estava pálida, muito menos abatida. Parecia até bastante animada, rindo enquanto conversava, e andava normalmente, sem sinais de lesões ou fraqueza. Um alívio imenso me dominou, mas não consegui relaxar por completo, porque logo os olhos de Mike estavam nos meus, e ele sorriu fraco, parecendo ressentido com a desculpa brusca de ontem. Tudo que me faltava era ficar mal com ele, sem dúvida.

O dia se passou tediosamente, fora minha inquietação. Depois do intervalo, arrastei Mike para uma sala que sempre ficava vazia no térreo e me desculpei pela pressa do dia anterior, restabelecendo a calma em nossa relação. Apesar de tudo estar se endireitando novamente, eu ainda estava determinada a pedir desculpas a Lena e me ver livre daquela horrível sensação de culpa, mas só a hipótese de ter aquele olhar enfurecido no meu já me fazia tremer dos pés a cabeça. Eu não tive coragem de procurá-la naquele dia, muito menos no dia seguinte, e só voltei a vê-la quando minha aula de biologia no laboratório chegou, mais rápido do que eu gostaria.

Entrei no laboratório, tensa apesar dos sempre agradáveis minutos sozinha com Mike depois de sua aula, e vi a professora Luthor cercada por Eve e suas amigas. Ela estava encostava no quadro, com os braços cruzados na altura do peito e um sorriso charmoso, conversando amigavelmente com as meninas. Notei que ela já não usava mais o curativo na testa, e fiquei feliz por saber que ela estava fisicamente recuperada do acidente, que de certa forma, eu causara.

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