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Manoela:

Desde o meu retorno da casa de praia, fico pensando em Laura. Não apenas pelo beijo na piscina, mas também pelo fato de eu já estar sob a cola da diretoria por não ter a suspendido, já que ela fez cirurgia sozinha no primeiro dia, sem supervisão de um médico superior.

Eu não queria lhe suspender, e nem iria. Estava tentando juntar provas e argumentos de que estava tudo certo com paciente, e era nisso que eu estava ficando.

Não queria comentar com ela nem com Marcos, mas parecia estar sendo inevitável, até dentro de casa já estava ficando estranho.

- Mãe, está tudo bem mesmo? - Já era a terceira vez que Marcos me perguntava ainda na quarta-feira.

- Sim... - Respirei fundo. - Na verdade, estou preocupada.

- O que rolou? - Ele sentou ao meu lado no escritório. - Posso ajudar em que?

- O Conselho está em cima de mim. A Laura fez cirurgia sozinha no primeiro dia e é residente.

- Querem que a demita?

- Que pelo menos haja suspensão, mas já se passaram alguns dias. Não fale disso com ela, eu vou resolver e ela não vai ser suspensa nem demitida.

- Posso ajudar em algo? Procurar alguém?

- Não, por enquanto é guardar esse segredo que eu vou tentar resolver tudo.

- Tá certo.

Marcos levantou e foi para o quarto. Aproveitei e mandei uma mensagem para Laura.

"Oi, está acordada?"

Desliguei o computador e levantei, logo ela respondeu.

"Quase dormindo, amanhã tenho prova logo cedo. Preciso descansar."

"Precisa de ajuda para estudar? De alguma forma, sou sua professora."

"Você é minha chefe."

"Você está no hospital para aprender como residente."

"É, você tem razão. Esse lance de professora-aluna me excita."

Ela enviou a última mensagem até com uma figurinha safada e acabei rindo. Apaguei as luzes da casa e fui para meu quarto, deitei na cama e fiquei pensando em alguma mensagem para lhe mandar.

"Estou ansiosa para sábado."

Mas ela não respondeu. Talvez tenha dormido nesse meio tempo. Troquei de roupa e não demorei tanto para dormir.

No dia seguinte, quinta-feira, Laura entrou no hospital quase meio dia devido às provas que estava fazendo, a acompanhei pelo olhar até ela sumir pelo corredor junto com o médico chefe da cardio.

- Está olhando para quem?! - Fernando apareceu atrás de mim.

- Para todos. Tenho uma cirurgia agora, você me acompanha até a sala?

- Pode ser, depois vou observar os meus alunos.

- Esse negócio de ser médico-professor te anima de alguma forma? Às vezes eu acho cansativo, outras vezes eu gosto.

- Não, eu gosto. Principalmente quando eu posso ver os alunos evoluindo bem, crio amizade e até saio para beber. - Fernando respondeu enfiando as mãos nos bolsos. - Algum problema com alguém?

- Não, é que às vezes existem pessoas que eu não queria ter como aluno. - Parei em frente a sala de cirurgia que eu iria usar e suspirei. - Além de professora e médica, eu sou chefe.

- Quando eu era residente, eu me excitava ainda mais quando sabia que tinha uma chefe gostosa, inclusive dormi com duas. - Ele riu e revirei os olhos. - Eu me apaixonei por uma, mas ela não quis nada.

- Claro, menino novo assim não dá certo para ter relacionamento sério. - Respondi e Fernando me encarou. - Tu acha que dá certo uma mulher mais velha com gente nova? Não!

- Depende, se houver amor dá sim.

- No meu caso não é amor, é querer... Você sabe.

- Não se meta em encrenca com médico residente ou interno. Eles são uns bichos que se mexer com um, mexe com todos.

Fernando saiu andando e suspirei. Entrei para minha sala e fui realizar minha cirurgia.

De noite, ao sair do hospital, Juliana estava encostada no meu carro.

- Oi. Boa noite. Será que mereço um jantar com a mulher da minha vida? - Juliana perguntou sorrindo abertamente.

- Estou cansada, mas podemos comer em algum local que seja rápido. Comida fit?

- Pode ser.

Juliana entrou no meu carro e fomos conversando até o meu restaurante fit favorito. Pedi uma salada verde completa, enquanto Juliana pedia um escondidinho de carne do sol.

- O Marcos está dando plantão hoje... - Juliana disse me olhando.

- Sim, ele me mandou uma mensagem.

- Posso dormir lá na sua casa hoje. A Mariah já deve estar dormindo ou estudando no quarto.

- Estou cansada demais. Só quero que o final de semana chegue.

- Eu também, quero pegar uma praia e tomar uma cerveja.

- Prefiro vinho e jantar gostoso. - Respondi e ela balançou a cabeça. - Que foi?

- Eu topo esse plano aí.

- Ah, não, estou combinando com outras pessoas. Antigas amizades. - Respondi encarando o prato. - Podemos ir outro dia.

- Tudo bem.

Terminamos de jantar e deixei Juliana em casa. Fui para casa, dei um beijo em Mariah que estava estudando, fui para o meu quarto tomar um banho e dormir.

No sábado, mandei mensagem para Laura logo cedo, já que ela sequer tinha me respondido na noite da quarta-feira.

Me respondeu apenas à tarde com a seguinte proposta:

"Oi! Pensei em fazer o jantar na minha casa. O que acha?"

Pensei e concordei. Seria muito mais fácil e privativo.

"Me mande seu endereço. Estarei na sua casa às 20 horas."

Ela me mandou o endereço e voltei a trabalhar em casa. No meu escritório, consegui alguns bons argumentos para enviar para o Conselho sobre o caso da suspensão de Laura.

Já à noite, enviei a carta para o Conselho e fui tomar um banho. Quando eu já estava me vestindo, Mariah entrou no quarto.

- Mãe, para onde vai?

- Jantar fora.

- Posso ir?

- Não, é um jantar importante. - Calcei um salto e peguei a bolsa. - Você se vira para jantar.

- Vou pedir algo então. O Marcos está aí estudando, eu me viro com ele.

- Muito bem, usou a cabeça para algo. - Passei perfume e peguei a chave do carro dentro da bolsa. - Não durma tarde.

- Você vai dormir fora de casa?! - Mariah perguntou se olhos arregalados. - É com a Juliana que você vai sair?

- Tchau, Mariah. Boa noite.

Saí de casa e chamei o elevador. Coloquei o endereço de Laura no aplicativo do celular e cheguei em uns 15 minutos. O porteiro interfonou e ela liberou minha subida.

Meu coração acelerou quando vi seu apartamento à minha frente e uma música calma lá dentro. Antes de tocar a campainha, desliguei o celular e escutei um barulho de chave na porta.

Dei um passo para trás e quando Laura abriu a porta, estava usando apenas um roupão de banho preto e cabelo preso em um coque.

- Oi! Acho que me atrasei um pouco.

Ela mordeu o lábio e senti um arrepio em minhas costas.

- Entra, seja bem-vinda.

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