IX. Pastor de Lobos.

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O silêncio da noite não parecia acabar quando o Sol nascia.

Francamente, era bem mais atro quando a manhã chegava. A paleta de cores taciturna beirando o lúgubre. Embora o cheiro de mofo e uísque barato fosse despropositalmente os aromatizantes daquele prédio decaído, ainda assim se conseguia sentir um sutil aroma de lavanda.

- Eu não acho que seja uma boa ideia continuar aí. Tem noção no que pode estar se metendo? Uma seita, ou seja lá o que for, não é brincadeira.

- Achava uma boa ideia eu vir? - divaguei esperando apenas o outro negar. - Então. Eu tô aqui. E fugir não vai resolver nada.

- Vou depositar o seu salário desse mês, mas vou descontar o fato de que você não trabalhou. E fez do seu chefe um idiota. Acho que sobra uns 5 wons. Tem certeza que vai ficar bem?

- Certeza é um exagero, mas você me conhece.

- Ok. Foi a última vez que insisti, eu desisto.
O Sr. Park suspirou, a chamada sendo desligada sem mais outra palavra. Encarei a tela de meu celular por mais alguns segundos; o resquício de sinal havia sumido da mesma forma que havia funcionado há três minutos.

- Ótimo. - bufei, revirando os olhos.

- Que manhã radiante. - o tom de deboche me fez rir soprado antes mesmo de erguer o olhar ao dono. Yoongi sorria ladino, a pele pálida contrastando com a camisa preta e a calça jeans surrada. Dava para notar o semblante sonolento.

- Acolhedora. - guardei o celular no bolso da jaqueta, fechando a porta de meu quarto. - A que dou a honra da sua ilustre e rara presença?

- Caminhada matinal. Faz bem pra circulação.

Arqueei uma das sobrancelhas. O rastro de cigarro era tão forte que seria mais convincente se ele desse a desculpa de que um bicho papão não o tinha deixado dormir.

- Seus pulmões são guerreiros.

- Ah, não. Não, não. Eu não... Talvez um maço. - o outro tentou se afastar da parede na qual se reclinava, mas se atrapalhou, por pouco não tropeçando. - Droga.

- Vamos adicionar a esse maço de cigarro mais uns dois litros de uísque. - o mirei atenta, presumindo de onde vinha o cheiro de uísque.

- Que seja. - resmungou baixinho, franzindo o nariz. - Onde vai tão cedo?

- Não lembro de quando comecei a ter que te dar satisfação. - rascunhei um sorriso irônico.

Yoongi entreabriu os lábios pronto para cuspir alguma palavra azeda tal como sua feição, porém, sua voz se esvaiu quando o barulho da maçaneta girando soou e, com ímpeto, a porta do quarto 100 rangeu, dando a visão de um Jimin despdevenido e acanhado.

O silêncio arisco prevaleceu no intercalar de olhares inquietos, como num ciclo triangular.

- Desculpa, eu não sabia que... Achei que ainda não tivesse ninguém acordado. - ele coçou a nuca, cabisbaixo.

- E por que quer sair no horário em que ninguém tá acordado? - questionei, unindo as sobrancelhas. Jimin manteve a cabeça baixa, pressionando os lábios carnudos um no outro. Estava visivelmente consternado. Ou com medo.

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