IV. Sentença da Alma.

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Cada passo meu para mais perto era sincronizado com minha respiração pesada. O inspirar e expirar profundo ditados em lentidão e intensidade. Havia alguma coisa peculiar ali. Algo que transparecia taciturnidade, talvez uma sensação nefasta que simplesmente não conseguia explicar.

Aos poucos o silêncio que me acompanhava foi sendo tomado por burburinhos e rezas padronizadas. Meu olhar alternava entre Jimin e o homem ao seu lado, analisava os semblantes contrariosos, a forma como tudo parecia uma encenação e o jeito com que Jimin se retraía a cada vez que o outro apoiava a mão em seu ombro.

— Ei, o que vai fazer? — o timbre grave de Taehyung veio em um sussurro.

— No que isso te interessa? — revirei os olhos, sorrindo de canto em claro deboche ao ter meus olhos encontrando os do homem distante. Jimin pareceu engolir em seco. — Ora, ora.

— O que faz aqui, garota?! — ele enrijeceu os músculos, travando o maxilar em raiva nítida.

— Pra ver você é que não é. — sorri minimamente com um teor de sarcasmo, levando as orbes até o garoto de cabelos cor de mel que retribuiu o olhar por apenas breves segundos.

— Não trate a moça assim, sr. Park, que descortês. — a mulher com o qual ele conversava sorriu docemente para mim, pondo uma mão sobre a outra e deslizando o olhar sobre mim. Ela tinha os cabelos negros na altura dos ombros com alguns fios grisalhos, parecia ter seus 40 anos no máximo.

— Ela é uma alma suja, não consegue ver? — ele riu soprado. A Bíblia negra em sua mão me chamou atenção assim que ele a pressionou contra o peito.

Bocejei, o mirando entediada.

— Hyung, eu...

— Calado. Você precisa ser purificado no culto de hoje. A sentença da sua alma deve ser diminuída. — o mais velho virou-se para o menor e o encarou com um ódio tão visível que o vi estremecer. — Não seja uma decepção.

Por um segundo, eu pisquei os olhos e jurei ter visto e ouvido errado. Cabisbaixo, Jimin foi pego pelo braço e praticamente arrastado para dentro da igreja. Fiquei ali, estática, sem acreditar no que tinha acabado de acontecer e, nesse meio tempo, nem percebi que o olhar da senhora ainda permanecia em mim.

— Bom, parece que o clima não é dos melhores para um discussão mais plena. — um sorriso sutil se firmava nos lábios finos da outra, quando ela se curvou em uma pequena reverência. — Que a paz do Senhor esteja com vocês. Vamos, irmãs! O culto irá começar.

A mulher chamou as outras três que ainda faziam o sinal da cruz e rezavam diante da igreja sombria.

— Posso ir junto? — pedi, tombando a cabeça para o lado e escutando um " o que você tá fazendo?" sussurrado de Taehyung. — Acabei ficando curiosa.

— O momento... — ela me analisou dos pés à cabeça e claramente fingiu um sorriso doce. — ... não é o mais apropriado. Quem sabe um outro dia.

Antes que eu refutasse qualquer coisa, ela deu as costas e fechou o portão sem que nem mesmo uma pequena brecha do que havia lá dentro escapasse.

— Não é apropriado? — repeti num murmúrio, rindo soprado.

Com certeza havia algo estranho ali do que só mais uma igreja comum, e eu iria descobrir o que era queiram ou não.

[...]

Um estalar de língua soou de minha boca quando deixei os ombros caírem e continuei a fitar o chão distraída em um loop infinito de dúvidas e perguntas sem resposta.
Tornei o olhar para cima quando um ranger de porta soou súbito, juntamente de um assobio cantarolado que logo tomou o silêncio do lugar, fazendo com que eu encarasse a porta entreaberta e o moreno que agora me fitava sério com um cigarro pendendo no centro dos lábios bem desenhados.

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