Chefão

Ciência vs Negacionismo - Parte 1

Heitor, um homem tão culto e inteligente, capaz de falar não só em alemão, como o português brasileiro; o cientista se encaminha para uma palestra no Brasil, indo de avião. Ele olha para o céu, belo e azul, vendo cada átomo de hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e outros que compõem nossa atmosfera rejeitando a cor azul e a emitindo dando sua belíssima cor, os cristais condensados que formam as nuvens. O céu do país é poluído, mas há o que se salva.

Ao desembarcar do avião, ele finalmente está usando roupas que lhe dão respeito, não as vestimentas "memes" com social por cima e por baixo de bermuda de praia colorida. Ele veste um smoking preto com vários botões, por cima dele utiliza um cachecol branco que viaja por trás de seu pescoço e se curva para trás de seus extensos braços, por baixo uma gravata vermelha e um blazer branco, em sua cabeça, seu chapéu com listra branca em horizontal e finalmente, seus sapatos, que são de couro preto.

Ele anda pelas ruas de São Paulo, vendo o "Grande X" que sustenta a estrada. Invés de ir até uma universidade, ir até uma escola particular ou até mesmo técnica, ele escolhe dar a palestra numa escola pública. Antes de iniciar, ele percebe o barulho que há do lado de fora, principalmente motoqueiros, ignorando caminhões e ônibus exalando fumaça de câncer no caminho. Heitor coloca a cortina na frente das janelas quebradas e pintadas, notou como é a bagunça de uma escola pública brasileira, mesmo curando o câncer, apenas alguns alunos sabiam quem ele é... Mesmo os que tem celular não sabiam.

—Muito bem, eu vou começar por esta sala, o sétimo... C. Amanhã eu vou repassar para o período da manhã e depois, o período da noite. Eu vou estar aqui até sábado, se quiserem tirar dúvidas, eu estarei disposto sempre. Vamos começar.
—Acho que seria bom começar falando sobre astrologia, muita gente acredita nisso. - Disse uma aluna negra bem curiosa.
—Ah, é uma boa ideia. Para começarmos a falar sobre ciência e crenças, é um exemplo perfeito falar de quando ambas eram interligadas. No início, astronomia e astrologia eram a mesma coisa, alguém sabe o quê as diferenciam?

Ninguém respondeu...

—A astrologia é uma pseudociência que "estuda" os signos e o que eles mudam em nossas vidas, tal como nossa personalidade. A astronomia, diferente da astrologia, é a ciência que estuda os astros, as leis da física, o Universo como um todo. Na astrologia temos 12 signos, 13 contando com o de serpentário. Segundo a astrologia, se eu tivesse um irmão gêmeo, nós teríamos nascido com os mesmos astros acima de nós, no mesmo lugar de parto e no mesmo dia, hipoteticamente falando: Eu e meu irmão teríamos o mesmo destino. Mas... Mas... Mas... Acontece que, sabemos que isso não é verdade, gêmeos se casam com pessoas diferentes, conversam com pessoas diferentes, tem momentos diferentes e podem morrer de jeito diferentes. Meu irmão poderia morrer baleado, atropelado, doente ou até mesmo morto por um meteoro, mas... E eu? Eu continuei vivo. Só aí vocês já entenderam que acreditar em signos é uma mentira.
—Mas então como que tem gente que acredita?
—Se você contar uma mentira várias vezes para pessoas que acreditam sem provas, ela se tornará verdade pra eles. Tem gente que vê o horóscopo todo dia, e ele sempre mente: Você vai ter um dia feliz hoje; você precisa ser mais independente; hoje é um dia pra guardar suas emoções para não se prejudicar... Sempre a mesma coisa. O horóscopo nunca vai te dizer: Hoje o Pedrinho, filho da... Dona Joana, vai ser mordido por um cachorro por ter nascido no signo de touro.
—Pior que é verdade, ele nunca fala o que vai acontecer de ruim.
—Então. Os astros tem sim uma relevância em nossa vida; Júpiter desvia asteroides de nós, graças à sua gravidade; o Sol nos dá energia, calor, essencial para a vida na Terra; a nossa Lua serve como um escudo, ela tem várias marcas de impactos, mostrando que ela já nos defendeu de vários meteoros, por exemplo.
—Uma dúvida! - A mesma menina de antes levantou a mão. -Por que o nome da nossa Lua é "Lua"? Existem outras com nomes bem melhores, "Calisto" e "Titã".
—"Lua" é o nome romano de uma divindade grega chamada "Selene". O nome da nossa Lua na verdade é esse. Só pra constar, o Sol também está em romano, o original é "Hélios".
—Interessante.
—Continuando com as pseudociências, talvez não dê tempo de falar tudo agora, está perto do horário de vocês irem pro intervalo, eu vou ter que ir pra outra sala, mas... Falando rápido, alguém sugere um tema?
—Terra plana!
—Ah, essa nem eu acreditei quando vi... As pessoas acreditam em cada coisa, mesmo na era da informação. Falando de uma forma simples, a curvatura da Terra pode ser provada facilmente: Basta assistir um eclipse lunar, a Lua, ou melhor... A Selene começa a ficar escura, como se algo estivesse cobrindo ela, aquela sombra é na verdade a sombra da Terra, ficando reta para ela. Outro bom exemplo da curvatura da Terra, a gente consegue ver um navio indo pro oceano, ficando cada vez mais baixo, desce a popa, vai sumindo, até que resta o mastro e a vela, quando vai ver: Sumiu.

A sala felizmente estava quieta, prestando atenção, isso pra qualquer um que estuda em escola pública é tão raro que poderia ser considerado um milagre nas terras brasileiras.

—Por que tem tanta gente que acredita nisso?
—Religião. Eles pegam o que tem na Bíblia e interpretam do jeito que querem.
—Conheço muita gente que faz isso!
—E tem muitos... Muitos que fazem isso. Vejo vários que a usam para odiar o próximo.
—Senhor Heitor, você é ateu?
—Não. Eu sou judeu de nascença, mas não creio mais apenas no judaísmo. Eu passei a dar uma chance para cada religião se provar verdadeira, se eu morrer, como um bom samaritano que cuida das pessoas, que ajuda elas, teria chance de ir para algum paraíso. Assim que eu penso... Me identifico como panteísta. "Pan" significa "Todos" e "Theo" que significa "Divindade", eu acredito em todas, respeito todas. Acho que é utópico pensar assim, mas, por que não dar uma chance para outras crenças? O pior que pode acontecer é eu estar errado e ir pro inferno de uma crença que já nem existe mais nos dias de hoje, como os deuses astecas.