Capítulo 6- Máscara

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O homem vive, vive o homem. Pela luxúria, pelo sabor da vingança, pelo completo desejo ambicioso de ter aquilo que não é seu. O homem vive! Mas eu não vivo no homem.

Park Jimin

É estupidamente ilário, o quanto todos patéticos seres dessa Terra imunda e repleta de pecados, tentam pagar-se de boas, quando na verdade seus corações são os mais sujos e pecaminosos.

"A bolsa que essa mulher está usando é maravilhosa cai muito bem nela!". "Uau que corpo lindo!". "Seu cabelo está tão lindo hoje!". "Como faz para deixar a pele tão macia assim?". "Essa roupa ficou incrível em você"

Inveja.

Para que suprimir tanto suas ambições? O que isso já ajudara a sociedade? Nada eu vos digo. Tudo porque essa máscara fajuta que colocamos no rosto para esconder de tudo e de todos do que não gostamos, ou do que sentimos e desejamos. Para que assim passar-mos uma imagem de bom Samaritano para quem nos rodeia.

Patéticos.

Meus pais são conservadores, me privam do mundo ao meu redor, de comidas caras ou fartas, de roupas boas. E até mesmo coisas mais simples como ir a escola, brincar com outras crianças. Tudo por que acreditavam que caso o fizesse eu iria ser corrompido, pela luxúria e pelo pecado de todos que me cercavam.

Mal sabem eles.

Certo dia mamãe resolveu permitir minha saída- foi a primeira e a última vez que o fizera.- Estava eu alí, sentado no meio fio olhando o nada e imaginando o quão patética é essa vida que vivo, o quanto eu queria ter tudo do bom e do melhor. Como eu queria ter nascido em uma família respeitável e ter o prazer de dizer "Minha mãe me ama". Era apenas isso que eu desej-

Um anjo?

Do outro lado da rua havia um garoto, com uma tristeza visível em seu rosto, uma tristeza linda e hipnotizante, seus cabelos eram sedosos e balançavam com proeza parecia até que estavam dançando contra o vento, uma dança suave e majestosa. Seus olhos eram tão penetrantes quanto a galáxia, sua boca era fina com uma pequena pinta em baixo, dando um ar de pura perfeição, seu nariz era grande, porém se encaixava perfeitamente em cada detalhe encantador de seu rosto. Ele era lindo.

Aquela criança que mais parecia ter sido tirada dos céus e posta na Terra, segurava as mãos de uma mulher com olhar esnobe, que sequer correspondia o aperto de seu filho na sua mão. Ela usava um chapéu vermelho e chamativo, parecia que caminhava em uma passarela de moda enquanto desfilava pelas ruas do subúrbio, usava um vestido cor de vinho que combinava perfeitamente com seu chapéu. O que aquelas pessoas faziam alí?

Eu queria ser ele. Ele...

-PARK JIMIN! ENTRE.- Dizia Sr. Park meu pai, com um tom seco de puro desdém, com expressões de nojo e repugnância.

Por um breve momento senti o peso do olhar dele sobre mim, congelei. Porque aquele garoto me chamava tanta atenção? Eu quero ser igual a ele.

Dei os ombros e adentrei em casa.

Mamãe estava em pé sob a cozinha lavando os pratos com a cabeça baixa, meu pai sentou-se na poltrona que tinha na sala despojadamente e voltou a assistir um programa que não sub indentificar no momento.

-Mulher! Depois que terminar aí pegue minha Bíblia lá no escritório.- Falou ele sem tirar sua atenção da tv.

Mamãe apenas assentiu. Seu cabelo era bagunçado demonstrando o quanto ela não tinha tempo para cuidar de si, sua expressão decaída refletia cansaço. Seu olhar virou-se para mim com desprezo e fitou-me rudemente.

-Aqui est- caiu no chão brutalmente, ela que segurava um copo com água e a bíblia em outra deixará cair no chão, o som do copo de vidro quebrando tornou-se ensurdecedor.

Ela levou um tapa.

-QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO MULHER?- Disse o homem furioso.- JÁ FALEI PARA VOCÊ NÃO ENTRAR NA FRENTE DA TV QUANDO ESTOU ASSISTINDO!- Deu para ouvir soluços da mulher, enquanto a mesma ainda estava caída no chão descrente.- LIMPE ISSO AGORA.

Eu queria mata-lo.

-Saia daqui moleque, isso é entre eu e sua mãe.-Disse ele como uma ordem para subir para meu quarto.- criatura nojenta!- murmurou quando eu dei as costas, alto suficiente para que eu pudesse ouvir.

-Não por favor! Eu prometo que irei lim- AGH!- Um gemido de dor fora ouvido.

-Eu ainda vou mata-lo com minhas próprias mãos.- Disse adentrando ao quarto.

Era pequeno e mal iluminando, tendo espaço somente para uma cama de solteiro velha, um guarda roupa de segunda mão e uma escrivaninha com alguns livros antigos. Era aquela mesma paisagem desde os meus quatro anos.

Eu Park Jimin, tinha seis anos quando tudo aconteceu.

Quando acendi a luz pareceu-me que estava em outro lugar, mas ao mesmo tempo em lugar nenhum, era um vazio, mas ao mesmo tempo era lotado. Como se fosse a definição mais pura de Início e Fim.

Aos poucos a escuridão foi tornando-se em um vermelho escarlate, e o vazio ganhou forma.

Logo lembrei-me de um versículo bíblico que meu pai sempre dizera: "No princípio criou Deus os céus e a Terra.
E a Terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo."

Mas naquele momento não era Deus quem havia iniciado sua criação. Era Ele.

-Ola pequeno pecador.-Uma voz forte e rouca ecoou por todo o vazio, fazendo um som torturante em meus ouvidos.

O tom avermelhado formou-se em luz, me deixando em cegueira enquanto seu brilho intensificava-se.

-Que-em está aí?-Falei em puro temor.- Mostre a sua face!

-Não é necessário que me conheças hoje!-Então calou-se causando um silêncio ensurdecedor.

O brilho sessou tornando  escuridão novamente, e seis rostos apareceram diante de mim. Estes que sorriam ladino e macabramente como se conseguissem ler até o mais profundo de minha alma.

-Bem vindo irmão.-Disse um rosto que reconheci assim que bati o olho. Era ele, o garoto angelical que vira mais cedo. Mas algo era diferente nesses dois encontros, dessa vez ele não esbanjava luz que me fez confundi-lo com um anjo, ele me parecia mais um... Demônio.

Eles me apresentaram como Park Jimin o pecado da Inveja.

QUARTO DO PÂNICO.Onde histórias criam vida. Descubra agora