Capítulo 8- Quatro em um.

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KIM SEOK-JIN

Eu anseio. Meu coração pendura o mais profundo e faminto desejo de devorar cada alma podre que perambula sorrateiramente por essa Terra.

Ele me chama, e eu aceito. Ele me devora, e eu aceito. Ele me expulsa, e eu aceito.O que poderia eu negar? A fome me cativa, me transforma. A fome é quem eu sou.

No singelo e inocente choro eu fui abandonado por minha mãe, era inverno. Lembro-me até hoje do vento gelado batendo em meu rosto e acariciando minha pele prematura.
Naturalmente essa memória deveria ter sido deletada de minha mente, já que, eu era um bebê, e biologicamente não estava consciente o suficiente para sequer saber quem Eu Sou.

Mas eu sei.

Eu sempre soube.

Me chamo Seok-Jin, mas não curto muito esse nome.

Conhecem a frase que usam para descrever o Todo Poderoso? "Deus é três em um, Deus Pai, Deus Filho, e Espírito Santo".

Digamos que eu sigo uma logística semelhante. Sou Jin, e eu sou quatro em um. Eu Sou.

Sou quatro. Vocês me chamam de "Os quatros cavaleiros do Apocalipse".

Guerra.

Fome.

Peste.

Morte.

Eu saboreio a desgraça como o mais doce e suave prazer carnal. Me delicio com a fome, como o mais lindo e farto banquete. Sinto as pragas acariciando minha pele, como se caminhasse em um jardim de belas plantações mal aparadas. E vejo o luto percorrer em minhas veias, como se a saúde fosse na verdade o que domina meu ser.

Eu sou.

Fui adotado por doze famílias, todas felizes querendo apenas uma criança para chamar de sua. Mas... eu não nasci para proporcionar felicidade, eu vim até os humanos para espalhar a ânsia.

Todos fizeram exatamente o que minha mãe biológica também fez. Me abandonaram na porta do mesmo orfanato antigo e mal cuidado. Um ambiente sombrio e macabro.-Mas eu não tiro a razão de nenhum deles. Afinal eu causei a miséria de todos aqueles que ousaram enfiar o nariz onde não deviam.

A mulher que deveria ser minha mãe por exemplo, acabou sendo sugada toda energia de seu corpo, tudo por mim. Sempre que eu era amamentado nunca era suficiente para saciar minha fome. Então eu acabava sugando mais do que deveria.
No orfanato, deixavam dias sem me alimentarem. Então enquanto eles dormiam, eu drenava todo tipo de alimentação que havia naquele local, dentre vacas, ovelhas, plantações.- Tudo. Absolutamente tudo.- e devorava cada um desses nutrientes, tornando a terra inválida, e os animais mortos.

Mas a fome nunca saira de meu ser.

Quando completei seis anos de idade, desistiram de me manter na adoção, ninguém me queria.

E não demorou muito para se espalhar na cidade que havia uma criança que carregava a desgraça consigo, me livrando de qualquer chance de adoção que ainda me restara depois de anos.

QUARTO DO PÂNICO.Onde histórias criam vida. Descubra agora