Primeiro dia

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- Fael, o que está fazendo aí, eu baixei um filme, não quer ver?_ era a voz ansiosa de Lucas.

 Eu continuei concentrado no meu livro, lendo na frente do lago que ficava próximo a choupana da minha família. Eu tinha chamado Lucas pra lá a fim de curtirmos uma semana de licença do nosso trabalho de policial. Ele iria trazer um irmão e umas amigas que desistiram. Por minha vez, eu ia trazer dois amigos que também deram bolo. Agora, ficáramos só nós dois.

Lucas me apareceu numa chata manhã de janeiro pós ressaca de fim de ano, entregue como meu mais novo novato na policia. Aos meus cuidados, disse meu superior. Olhei a ficha do cara e fiz de tudo pra infernizar sua existência. Enchi-o de trabalho, cobrei-o quase no seu limite, inventei os trotes mais cabeludos, mas o novato era bravo. Pior, ele era perdidamente, angelicalmente lindo. Quase achei que era um anjo caído do céu no lugar errado quando aquele par de olhos azuis translúcidos me olharam apavorado de medo em nossa primeira missão. O cabelo liso castanho corte asa delta completava seu rosto branco e delicado, quase feminino, sobrancelha falhada –eu não podia resistir a lembrança daquela sobrancelha. Mas, não era perfeito... Lucas era machista e ficara transtornado quando lhe contaram que eu era gay. Logo depois que a barreira caíra e começávamos a nos tornar amigos, ele soube. Lembro como foi difícil.

Era uma tarde quente de verão ensolarado quando eu corria atrás de um bandido e ele estava de papo com uma garota que trabalhava em um quiosque na praia. Tomei um tiro de raspão na perna e só com o barulho percebeu que estava em serviço. Mas, nós sabemos que quando ouvimos um tiro, é sinal de que já foi disparado e nada podia fazer. Não reportei sua falha, mas teve que me ouvir.

Eu estava só de cueca e coxa enfaixada no banheiro, quando ele entrou. Era madrugada, já não havia ninguém no vestiário, mas eu falei baixo. O barulho só se deu quando o encostei no armário de ferro:

_Ouça bem. Nunca, nunca deixe de cobrir quem está com você ok? E pare de olhar para garotas no trabalho, você arriscou a minha vida!

_Desculpe, se eu tenho esse instinto e você não!

_Como é?

_Já sei que você é gay.

Eu pisquei o olho e tentei por um segundo acreditar no que ouvia:

_Então..._ empurrei-o agora com força contra os armários que sacudiram. _Só pelo fato de eu ser gay, você pode deixar me matarem, Lucas?! É isso? Eu não mereço ter vida porque sou gay?!

_Desculpe por arriscar sua vida.

Dei um soco em sua cara e ele caiu no chão, cuspindo sangue.

_Isso foi pleo aceite minhas desculpas, seu idiota.

Empurrei a porta do banheiro e essa bateu atrás de mim. Eu não estava com raiva dele e sim com o sentimento de remorso que se seguiu ao ver seu lindo rosto sangrando. Eu tentei em vão me livrar dele. Fiz esforços para transferi-lo, tentei o recurso do desprezo não trocando qualquer palavra que não fosse estritamente essencial. Juro que juntei todas as forças, mas Lucas também uniu as dele. Era competente, engraçado, carismático, envolvente. Droga, não queria sair do meu pé. Aquele soco mexera com a sua cabeça. Ter o meu perdão virara sua missão.

Eu era mais introspectivo, preferia ler, ficar em casa, ver filmes, não chamar a atenção. Não era uma estratégia, apenas um modo de ser. Lucas era o reverso, falava pelos cotovelos, queria entender o mundo e por isso perguntava tudo como uma criança pequena em fase de descoberta (fase essa que ele não parecia sair), mascava chiclete o tempo inteiro, bebia muito. Resumindo: era um incrível garoto problema. Vão perceber que o chamo de garoto, mas não tínhamos mais que 3 anos de diferença, apenas o nosso físico era muito distante. Eu parecia muito mais velho, ele parecia muito mais novo.

7 Dias de amor e guerra!Onde histórias criam vida. Descubra agora