Naquele tarde de segunda-feira, eu estava feliz, torcendo pelo expediente acabar e correr pra casa, onde Lucas prometera preparar uma massa de pizza que havia aprendido. Coloquei meu colete a prova de balas, peguei arma, munição e fui para a última missão do dia. Mas, ainda tenho dificuldades pra lembrar como tudo aconteceu. Lembro do cheiro forte de gasolina, do galpão que invadimos cães, homens armados e a dor dos tiros que me atingiram. O que se pareceu algumas horas de sono profundo foram dias.
Quando abri os olhos, havia minha mãe ao meu lado e aquela não era minha cama, mas a maca de um hospital. Perguntei-lhe o que havia acontecido, mas ela só conseguia dizer que estava grata por eu ter acordado. Outras pessoas entraram no quarto, eram meus amigos policiais. Tinham o mesmo ar de alívio.
_Onde está Lucas? _perguntei, sem me preocupar se causaria alguma dupla interpretação.
_Ele foi embora, Fael. _ minha amiga dissera e eu senti um aperto no peito.
_Como?
_Pediu transferência.
_É melhor não falarmos disso... _minha mãe pedira e eu não sabia como “disso” já tinha um sentido tão amplo pra eles.
Eles se retiraram e minha mãe falou que “meu namorado viera me visitar”. Jhon? Essa não! Será que isso tinha a ver com a partida de Lucas? Como ele pudera ter ido embora? Senti-me tão triste, tão fraco.
_Ele é uma boa pessoa. _disse-me, parecendo pensar alto.
_Jhon?! Ele não vai entender que nós terminamos?
_Não... Falo do Lucas.
_Lucas?! Mas, ele não é meu namorado.
_Não? Ele pediu pra deixar essa carta pra assim que acordasse, lesse.
Peguei o envelope de papel pardo e o abri, com o soro preso por um tubo ainda na mão.
“Rafael, se quando acordar, eu não estiver ao seu lado, não quero que pense que não estou aí com você. Quero que saiba que passei o momento mais horrível da minha vida quando me disseram pelo rádio que achavam que você tinha morrido. Corri pra lá e, quando cheguei e vi seu corpo sem reagir, eu quis morrer junto. Tudo só faz sentido com você. Eu tomei a decisão de me afastar pra não atrapalhar nossa profissão. Não trabalharemos mais juntos, porque quero poder chegar em casa todo dia e te ver, isso vai ser muito melhor...”
Eu não terminei de ler e a porta se abriu. Era meu Lucas, vestido com um jeans justo e uma camisa social branca. Estava matadoramente lindo e eu só consegui sorrir.
_Acho que já dormiu demais, não? _pegou na minha mão e se inclinou pra mim. _Não me prega mais um susto desses!
Eu estava mudo, tentando acreditar que aquele tiro fizera tudo se tornar real:
_Você contou pra todo mundo...?
_Eu vou deixá-los a sós. _minha mãe piscou e saiu.
_Já não importa, perder você realmente foi...
_Eu estou aqui.
_Graças a deus... _seus olhos azuis ainda me olhavam apaixonado. _Quando eu vi o plástico preto sobre o corpo, assim que sai da viatura, achei que ia ter um ataque do coração. Minhas pernas não se mexiam, pensei que o mundo tinha parado. Eu corri até lá, mas vi que o seu corpo era o outro, sendo carregado pelos paramédicos.
_Foi tão ruim assim o que aconteceu?
_Vai ser melhor a partir de agora.
_Nós estamos namorando? _não deixei de rir e fazer um tom de brincadeira.
_Bom, já adiantei essa parte pra você.
_Como teve coragem?
_A morte nos dá coragem.
_Quando me disseram que foi embora também senti um aperto.
_Eu estou perto agora, mais perto. _beijou minha boca.
_Hum..._sorri e ele afastou os lábios. _eu tive uma idéia.
_Aqui? _seus olhos brilharam. _Seu louco?!
Beijamo-nos apaixonadamente.
Fim
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7 Dias de amor e guerra!
Short StoryQuase achei que era um anjo caído do céu no lugar errado quando aquele par de olhos azuis translúcidos me olharam apavorado de medo em nossa primeira missão... Jogou o cabelo pra trás balançando de leve a cabeça, como se quisesse tirá-lo dos olhos...