Sexto dia

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Voltamos no sábado para casa. Lucas dirigindo, braço na janela, vento no cabelo, cantarolando uma música sertaneja que eu não gostava muito, mas hoje especialmente me intrigava sobre o quanto estava só reproduzindo ou sentindo a canção melosa sobre um amor impossível. Descemos em um bar de encontro dos amigos e dividimos uma cerveja. Foi estranho depois de todos os dias, cada um ir para um lado. Deixá-lo na sua casa apenas com um toque na sua mão curto, mas por um tempo infinito que pareceu pra mim. Logo estaríamos em nossas missões, seriamente fardados, seriamente homens, seriamente não envolvidos... E isso era triste.

À noite, eu estava em outro copo de cerveja, rindo entre os amigos, quando ele apareceu e eu juro que não chamei. Segurei o sorriso na borda do copo, oculto pelo vidro, coração reagindo

infantil, querendo se atirar em seus braços. Fiz só um aceno de cabeça e exigiu força o fingimento de que ignorava que ele puxou uma cadeira pra sentar ao meu lado. Os dois amigos foram arriscar uma partida de sinuca e estávamos só. Dei-lhe o veneno da rejeição e comuniquei que já estava de saída. Vesti minha jaqueta já de pé e acho que notei um delicioso desapontamento. Era excitante, mas perigoso o que iria propor.

Tirei a carteira do bolso pra pagar a minha conta, procurei o dinheiro e falei displicente:

_Quer ir pra casa?_disse baixinho.

_Não._ respondeu, bebendo. Tinha os olhos vermelhos e fungava. Não podia ser um resfriado. Ele devia ter chorado. Que grande confusão sua cabeça devia se encontrar.

Era como uma dor aguda saber que não iria querer ficar comigo mais, porém, eu precisava lidar com a rejeição. Ainda olhei-o por um segundo. Estava lindo, com uma camisa azul clara com inscrições em inglês, jeans grosso desbotado, cordão no pescoço, relógio prateado, másculo, mas delicado. Um homem, mas olhando rapidamente enganaria como garoto.

Passei pela porta de saída com as mãos nos bolsos, procurei a chave do carro. Sonhando que poderia ser um filme, esperei que ele aparecesse por dois minutos e isso não aconteceu. Como também não aconteceria de novo nossas noites de amor. Só aconteceu pra mim...

Liguei o carro de pau e coração doído. Não tinha felicidade pra tocar uma ali. Dirigi pra casa e lá me deixei levar por um livro, uma boa música, deitado no sofá só de jeans, sem camisa. Estava cochilando quando o iphone vibrou na mesa do abajur. Franzi a testa e o atendi com um reflexo, sem abrir os olhos.

_Ainda está em casa? _era a voz de Lucas.

Abri os olhos.

_Por quê? _respondi.

_Esqueci uma coisa com você. To chegando. _desligou.

Sentei-me no sofá. Ele estava chegando aqui em casa? O ronco da sua moto potente me deu a confirmação. Larguei o livro e caminhei até a porta, abrindo-a.

Ele estava com uma jaqueta especial de motoqueiro, luvas pretas de couro e parecia pra mim mais sexy que nunca. Tirou o capacete e balançou o cabeça para arrumar o cabelo. Deixou a moto reluzente e possante inclinada e me olhou sem alegria, sem desejo, eu chamaria quase com tristeza e decepção.

Sem palavras, esperei-o passar pela soleira da porta, fechei-a e aguardei. Ele viera com as próprias pernas, que então começasse a falar. E as cobranças vieram, logo após os intermináveis vinte segundos que levou pra tirar a luva, a jaqueta e depositar junto com o capacete no móvel da entrada, indicando que não seria rápida sua visita:

_Droga, Fael! _bradou e deu um pequeno murro na parede ao lado do meu rosto, nossos olhos tão próximos. _Por que diabos me beijou?

_Primeiro, foi você que me beijou. Segundo, fomos muito além de um beijo... _pus as coisas no lugar pra não querer me pressionar com aquele amor míope.

7 Dias de amor e guerra!Onde histórias criam vida. Descubra agora