Troublemakers

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-Matthew fucking Helders, se eu atrasar de novo o senhor Milburn vai me matar, enterrar e chamar o diretor Manfred pra dançar tango no meu caixão- falei segurando alguma parte da bateria do meu melhor amigo, não fazia ideia de qual, mas era uma daquelas menores, era a terceira viagem que dávamos e ambos já estavam suados
-é por um bom motivo, M, vamos- bufei irritada descendo as escadas, Jamie Cook, que fazia aula de cálculo dois comigo, apareceu do nada e pegou o que eu estava segurando, seu cabelo estava arrumado com gel, usava uma blusa preta e um casaco por cima, ele não parecia, mas era um baita gênio
-finalmente, Cookie-
-não me chama assim, Matt, demorei porque estava terminando de estudar, você sabe, tenho competição com a equipe de quiz essa semana-
-nossa, isso é realmente muito nerd- tampei a boca com a mão para impedir uma risadinha, o garoto me olhou feio enquanto cruzava os braços, não fazia sentido fazer brincadeiras com o garoto por ser inteligente, mas fazíamos mesmo assim
-você não concorda com ele, né?-
-bom, Jamie, é bem nerd mas... você deve ser orgulhar- falei assentindo com a cabeça de forma séria e Matt passou o braço ao redor do ombro dele
-pra que estudar se vamos ser estrelas do rock?-
-ainda nem achamos um vocalista, seu bobão-
-tudo no seu tempo, mi amigo- Cook revirou os olhos enquanto colocava sua mochila no ombro e dividia o peso da melhor maneira no corpo magro
-tchau, M, obrigado pela ajuda-
-por nada, Jamie- Matt piscou com um dos olhos e ia dar as costas para seguir o amigo quando eu o segurei pela camisa, meu melhor amigo tinha o cabelo curto que ficava ondulado quando crescia um pouco, um nariz grande e o meu sorriso favorito no mundo, era divertido e irritante ao mesmo tempo, igual a sua personalidade
-não esquece que vai me dar uma carona hoje-
-como esqueceria, mi amor?-
-cala a boca, Helders, seu espanhol é péssimo- falei dando risada, ele deu de ombros passando a mão pelo cabelo que ficou para cima
-tô te devendo essa, amo você- acenei poucos segundos antes de olhar meu relógio, merda, estava muito atrasada, atrasada e em instantes morta, provavelmente.

Corri pelo corredor esbarrando com algumas pessoas que me olharam feio, eu estava ferrada, com certeza, virei na última sala antes do final do corredor quase caindo de cara, droga de chão liso
-senhorita Osterno, atrasada de novo, surpresa seria se estivesse aqui na hora, certo?- meu professor de história disse apoiando uma das mãos na lateral do corpo, ele era bem pálido e usava seu cabelo escuro para o lado esquerdo, parecia um pouco com um rato, mas um rato amigável e não aqueles de esgoto
-desculpa, senhor Milburn, não vai se repetir-
-acho que ouvi isso aula passada, sente-se, por favor- concordei me apressando para a minha carteira, eu amava a aula de história e gostava do senhor Milburn, era ruim decepcioná-lo, mas aparentemente eu tinha um talento especial em estragar tudo, era realmente boa nisso
-bela derrapada no corredor, pareceu um carro de corrida sem freios-
-cala a boca, Turner- falei para o Alex, um garoto que sentava atrás de mim na aula de história e na de biologia, ele sempre tentava me vencer nos debates e nunca conseguia
-devia jogar fora esse relógio, acho que ele não funciona, e outra, quem tem um relógio de 24 horas?- passei a mão no cabelo e respirei fundo virando para encará-lo, ele me deu um sorrisinho divertido, quis pegar o garoto pela gola da sua camisa polo, quem usa polo marrom? Respirei fundo, preciso me acalmar, o sorriso passou para um biquinho irônico e a calma foi embora mais rápido do que eu achei que fosse possível
-e você devia jogar fora essa sua...-
-senhorita Osterno e senhor Turner, gostariam de explicar sobre o pacto de Varsóvia? Não? Certo, foi o que eu pensei- abaixei na cadeira querendo sumir, que dia longo, precisava ir para casa e terminar de editar o vídeo que estava fazendo, não estava nem perto de ficar perfeito e a perfeição era o exigido para conseguir uma vaga na equipe municipal de cinema
-ei, os dois, venham aqui- o professor pediu assim que eu e Alex pisamos fora da sala, recuamos alguns passos, Turner olhou para o senhor Milburn com a melhor cara de inocente que conseguiu, ri fraco, aquilo era bobo, Alex era bobo
-a quanto tempo são amigos?- nos entreolhamos com as sobrancelhas erguidas e depois de volta para o senhor Milburn
-amigos? Não somos amigos- falamos ao mesmo tempo e nos entreolhamos novamente, o professor riu cruzando os braços sobre o peito, odiava quando falávamos ao mesmo tempo, e por pior que fosse, acontecia com certa frequência
-vocês têm as melhores notas da sala mas soube que causam confusão por aí, você, por exemplo, senhorita Osterno, nunca chega na hora e quando chega ainda conversa com o senhor Turner-
-ele que conversa-
-isso não é 100% verdade, afinal, não dá pra conversar sozinho-
-muito bem, Turner, tem toda razão, por isso vão para a detenção juntos-
-o que?- perguntamos ao mesmo tempo novamente, empurrei o garoto pelo ombro para que parasse de falar e ele ergueu a bolsa que havia escorregador um pouco do braço em que estava apoiada
-detenção, na biblioteca, soube que a senhora Sanders precisa de ajuda com algo-
-mas senhor Milburn...-
-nada de mas, vai ser só por hoje, não vai arrancar um pedaço- concordei saindo da sala, droga, era só isso que faltava, merda Matt, vou te matar quando puder sair daqui.

Andei junto com o Alex em silêncio para a biblioteca, a senhora Sanders era professora de química, ela me odiava, quase taquei fogo na sua bolsa no semestre passado, mas foi totalmente sem querer, só queria mostrar ao Matt como fazer uma mágica usando fósforos e acabou saindo um pouco de controle
-olha só, a incinerária- entreguei o papel da detenção e ela sorriu vitoriosa, seu rosto magro ficava ainda mais cruel com aquele corte de cabelo chanel, a professora era uma típica vilã de filmes infantis, posso dizer quase sádica, Alex repetiu meu gesto enquanto a professora batia o indicador no queixo, ela obviamente colocaria um trabalho impossível para a gente
-precisam organizar esses livros em ordem cronológica e em ordem alfabética, é fácil, assim que acabarem podem sair- a senhora Sanders disse nos levando para a parte de trás da biblioteca, arregalei os olhos enquanto negava com a cabeça
-professora, devem ter uns mil livros aqui-
-que bom que vocês são dois, né? Boa sorte- fiquei observando enquanto ela se afastava e encarei o garoto que havia pegado alguns livros na mão, sádica, 100% sádica e cruel
-você precisava falar comigo? A sua piadinha sobre eu ter derrapando nem foi engraçada-
-do que tá falando? Eu tô aqui porque o senhor Milburn ficou estressado com seus atrasos e acabou descontando em mim, além disso, a piada foi ótima-
-você se acha muito engraçado, Alexander? Sabia que...- ouvimos um barulho alto vindo da porta dos fundos, algo como um rugido, nos juntamos instantaneamente, olhei para o garoto e afastei quase na mesma velocidade de antes
-você não vai até lá, certo?-
-claro que eu vou- respondi andando da forma mais silenciosa que consegui, Alex soltou o ar pela boca, frustrado, começando a me seguir, empurrei a porta dupla e espiei por uma pequena brecha, tive que colocar a mão na boca para evitar um grito, uma risada ou até os dois.

Puxei Turner pela manga da camisa para que ele também visse, o garoto mordeu o lábio com força segurando uma risada, era melhor sairmos de lá, ele não aguentaria por muito tempo, sua cabeça estava vermelha. Dei um passo para trás sem tirar os olhos da cena quando Alex escorregou derrubando uma pilha de livros, o barulho ressoou pelo corredor, tive tempo apenas de arregalar os olhos quando os professores vieram na nossa direção. Merda, estávamos perdidos, com certeza ficaríamos de detenção para o resto da vida.

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