Around my mind

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Seguimos para casa em silêncio, Alex andava meio trôpego pela rua, aquilo estava me incomodando, por que tão de repente? Não havia entendido o significado daquilo, mas também não sabia como perguntar
-eu também não te falei uma coisa- disse da porta do meu quarto quando ele já estava deitado, não fazia ideia se ainda estava acordado até que o garoto virou na minha direção, seu rosto estava vermelho e o cabelo caia um pouco sobre o olho esquerdo
-conta-
-Chase me chamou para assistir a um jogo dele e... bom, vamos ao cinema depois-
-tô realmente bêbado, pode contar de novo amanhã?- concordei subitamente me sentindo triste, o que era aquilo? Por que ele não estava feliz por mim? Talvez fosse realmente a bebida, amanhã tudo ficaria bem, certo? Então por que não conseguia dormir? Por que me sentia tão estranha?

Acordei no dia seguinte com a cabeça latejando, preciso preparar o café da manhã do meu pai e quem sabe tomar um café também, odiava o gosto amargo que a bebida tinha, mas me ajudaria com aquela sensação de cansaço. Esperei que Arnold comesse enquanto contava sobre o rolê da noite passada, meu pai não gostava muito do fato da bebida, mas tínhamos um acordo silencioso sobre isso, sabia que se vacilasse alguma vez, algo como exagerar, nunca mais ele me deixaria beber de novo
-pai, eu... não pude falar com os pais do Alex-
-filha, mas...-
-você não entende, aqueles machucados... foi o pai dele... o clima daquela casa, estava me sentindo sufocada, imaginar que o Alex passou a vida dele inteira lá- senti meus olhos marejando, Arnold passou o polegar na minha bochecha e sorriu
-tudo bem, vamos deixar assim por enquanto, vou pensar em algo, certo?- assenti sorrindo para o meu pai que me puxou para um abraço, o alívio que eu senti me fez respirar fundo, não aguentava mentir para ele
-tenho muito orgulho da pessoa que você é-
-te amo, papai-

Tomei um banho e avisei que iria na biblioteca, não tinha nada para fazer lá, mas queria sair de casa, estava com um aperto estranho no coração desde a noite passada, o pior de tudo é que eu sabia o motivo, estava levando café da manhã na cama para ele nesse momento, mas não conseguia entender o porquê
-ei- Alex disse quando eu coloquei a bandeja da forma mais delicada possível em cima da mesa de cabeceira, a intenção era não acordá-lo, mas aparentemente havia falhado, recuei um pouco e esperei que ele falasse. Turner colocou a mão na cabeça enquanto sentava, parecia que aquilo estava demandando muito esforço dele, era justificável, ele havia passado a cota de bebida na noite anterior
-fui um idiota ontem, queria pedir desculpa-
-você é muito estranho, sabia? Não precisa fazer isso- Alex deu dois tapinhas na cama com a mão enquanto passava a outra pelo cabelo, sentei no local indicado e esperei que ele terminasse de se espreguiçar
-preciso, acho que não vou beber com você por perto, posso falar merda e...- o encarei sem entender, Alex passou a mão na nuca e se esticou para pegar o café -não é isso que eu ia dizer, ia dizer que estou feliz por você... digo, em relação ao Chase-
-não parece feliz-
-eu tô, não consigo expressar porque essa dor de cabeça tá me matando-
-certo, você é mesmo um idiota, come tudo e tem um remédio pra dor de cabeça aí também-
-obrigado, mas... pra onde vai?-
-na biblioteca- disse saindo sem esperar respostas, tinha ouvido o que queria, Alex estava feliz por mim e pelo Chase, mas por que aquilo não ajudou? Por que ainda me sentia estranha? Acabei desistindo de ir para a biblioteca e fiquei sentada no parque olhando o lago até anoitecer.

Alex voltou ao normal depois desse dia e eu parei de me preocupar com isso, na verdade, tinha tanta coisa acontecendo que não sobrava tempo para pensar sobre esse dia estranho. Turner estava morando conosco a uma semana, era engraçado, tinham vezes que eu simplesmente esquecia e tomava um susto quando o via deitado na minha cama ou lavando a louça, também era divertido, Alex era uma ótima companhia e começamos a fazer tudo juntos, desde limpar a casa, a estudar, assistir algo ou simplesmente ficar em silêncio no mesmo ambiente, geralmente
eu editava um vídeo ou lia um livro e Alex escrevia coisas em um caderno, inclusive esse caderno era estritamente proibido, meu pai até comprou um cadeado para colocar em uma gaveta do Turner, de que lado Arnold está afinal? Ele fez isso afirmando que eu bisbilhotava as coisas, o que não era 100% verdade, sou apenas uma pessoa curiosa.

A banda estava se tornando cada vez mais popular no colégio, comecei a trabalhar marcando horários e agendando os shows, os próximos dois finais de semana já estavam lotados, todos eles apresentações pagas. O show de abertura daquele noivado seria hoje, juntamente com o meu encontro com o Chase, todos estávamos pilhados, por motivos diferentes, mas igualmente paranóicos. Nick havia ficado muito chateado quando descobriu que eu não iria com eles, foi melhor assim, não tinha nem o que vestir em um evento como aquele, precisaria ir atrás de um vestido, de fazer maquiagem e cabelo e comprar um salto novo, não usava um a muito tempo e talvez um tênis não fosse muito apropriado
-com ou sem o blazer?- Alex perguntou parando na minha frente, fiz sinal com o indicador para que ele girasse, o garoto passou o dia inteiro tentando arrumar o cabelo da melhor maneira e escolhendo uma gravata que ficasse boa, para mim as gravatas nem faziam diferença, mas ele parecia realmente perturbado com isso
-com, tá maneiro, Turner-
-valeu, decidiu sua roupa?-
-aquela primeira, não sei, estou meio nervosa- falei levantando para arrumar o cabelo do vocalista que caia sobre os olhos de maneira engraçada, Alex riu e balançou a cabeça assim que eu terminei de arrumar, bagunçando novamente todos os fios, aquele foi o penteado escolhido
-não fica, basta ser você que tudo vai ficar bem-
-nossa, você viu isso onde? Em uma caixa de cereal?-
-você é insuportável, tchau, a gente se vê mais tarde- Turner andou em direção a porta e eu o segui, ainda tentando arrumar a parte de trás do cabelo para que ficasse para baixo
-boa sorte-
-pra você também, se acontecer algo me liga, você vai fazer falta no show- Alexander acenou se apressando pelo corredor, quase pedi que ele esperasse, queria ver o show dos meninos ou talvez só estivesse mesmo muito nervosa, voltei para o quarto para me olhar uma última vez no espelho e vi uma folha jogada no chão, meu Deus, esse garoto não consegue jogar as coisas no lixo? Peguei a folha que tinha apenas um verso escrito e vários desenhos e rabiscos ao redor

she's been loop the looping around my mind

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