Hands

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Acordei um tempo depois sem saber ao certo que horas eram, ouvi um barulho seco na sala e levantei coçando um dos olhos, precisava ver quem era. Encarei o meu relógio, eram quatro da manhã, não podia ser meu pai, ele só viria para casa em algumas horas, segundo ele mesmo esse horário era super animado no hospital. Caminhei quase me arrastando em direção a sala, era o Alex, ele havia batido a perna na mesa de centro, o sorriso bobo no seu rosto quase me fez rir, seu rosto estava melhor, provavelmente tinha bebido
-sorte sua não ter chegado mais tarde, se tivesse acordado meu pai ia quebrar sua cara-
-nunca acordaria ele- Turner respondeu passando por mim e indo em direção ao quarto, cheirava a bebida, talvez a noite tivesse sido muito divertida
-como foi o show?- perguntei sentando na ponta da minha cama, Alex estava deitado com o braço sobre os olhos, havia tirado apenas o sapato social e estava sem blazer, mas já havia chegado sem ele
-uma merda, mas foi divertido depois, fomos ao trailer e tal-
-entendi, esse chupão no seu pescoço foi feito pelo Cook?- perguntei tocando com o dedo indicador no chupão, Alex desviou e depois tirou o braço para me encarar
-não, o Cookie é muito mais gentil- dei risada e ele fez o mesmo, Turner sentou na cama e tentou pegar o copo d'água na mesa de cabeceira, ele realmente estava bêbado
-como foi com o Chase?- falei entregando o copo para o garoto que agradeceu com um aceno de cabeça
-tudo bem, o filme de terror foi bom-
-quer ir comigo de novo amanhã?-
-ver o mesmo filme?-
-é, eu pago, pode até escolher o tamanho da pipoca-
-quero a gigante-
-isso é um sim?- o empurrei pelo ombro enquanto negava com a cabeça, óbvio que era, queria ficar mais tempo perto dele, mas também era óbvio que o garoto precisava dormir, seu sorriso bobo era fofo e engraçado ao mesmo tempo
-dorme logo, estranho- Alex concordou deitando e se cobrindo com o lençol, apaguei o abajur e fui dormir no quarto do meu pai.

Turner dormiu até a hora do almoço, quase gritei de susto quando ele apareceu na cozinha do nada, estava estudando de cabeça baixa e o máximo que eu vi foi um vulto branco passando atrás de mim
-merda, garoto, que susto-
-opa, bom dia, vamos pro filme?-
-ainda lembra disso? Pensei que estava bêbado- Alex se aproximou para ver o que eu estava estudando e deu um peteleco fraco na minha orelha, ele havia tomado banho e cheirava a sabonete de bebê e desodorante masculino
-tenho uma proposta-
-qual?-
-vamos trocar a pipoca gigante por um jantar depois do filme, o que acha?-
-quanto recebeu nesse show? Tudo bem, aceito, mas seca o cabelo antes, vai ficar gripado se sair assim no frio- o vocalista balançou a cabeça aleatoriamente fazendo várias gotas de água voarem, o empurrei tentando proteger meus livros enquanto ria
-vai logo se arrumar, tô ansioso, vou te esperar lavando a louça- concordei devolvendo o peteleco antes de correr pelo corredor.

Vesti uma calça jeans e uma camisa preta meio curtinha de alça, a jaqueta de couro por cima e o coturno, como sempre, passei perfume e um pouco de maquiagem. Alex estava sentado na bancada anotando algo em um caderno com a minha caneta, já vestia uma jaqueta marrom por cima da blusa xadrez, quando me viu o garoto deu um sorrisinho e se levantou fechando o caderno, seu cabelo estava mais seco agora, será que era alguma música?

Andamos para o cinema enquanto o vocalista me contava sobre o show da noite anterior, não tinha sido tão bom, mas ele não contou tantos detalhes quanto eu gostaria, tipo quem fez esse chupão no seu pescoço, gostava de saber dessas coisas, eles saiam com muitas meninas agora então era um pouco difícil de saber sobre todas, Alex não falava de forma romântica sobre nenhuma e, aparentemente, todas elas pulavam em cima dele, deve ser a vantagem de ser o vocalista
-podemos dividir a conta depois-
-que? Não mesmo-
-não precisa gastar tudo comigo, faz com que eu me sinta mal-
-qual é, quero gastar meu primeiro dinheiro da banda com algo especial e... você precisa me deixar pagar algo pra você-
-você já leva um monte de comida pra casa-
-claro, não ia comer de graça todo tempo, agora para de falar, não pode conversar no cinema- assenti desistindo daquilo, Alex vez ou outra chegava em casa com uma sacola de comidas, do tipo das chiques que não tínhamos sempre, não me sentia tão confortável com isso, mas não importa quanto eu ou meu pai falássemos, ele era simplesmente a pessoa mais teimosa do mundo, no fim, Alex acabava fazendo algo realmente delicioso e sujava uma tonelada de louça, que sobrava para mim, estranhamente eu não me importava, porque enquanto estava lavando ele tocava violão e cantava sentado na bancada.

O filme começou e todos pareceram animados, acho que dessa vez conseguiria prestar mais atenção por não estar tão nervosa por causa do Chase, passei boa parte do tempo torcendo para que ele segurasse minha mão, então sem isso poderia focar. Na hora que a protagonista estava subindo para o sótão, Alex bateu no meu braço, gritei alto e o garoto começou a gargalhar, arrancando risadas do cinema inteiro, corei na mesma hora, que vergonha
-seu babaca- falei o empurrando com o meu ombro, Turner parou de rir secando algumas lágrimas e se aproximou de mim, nossos braços estavam encostados agora, aquele bobão estava ocupando meu apoio de mão. Empurrei a mão dele e coloquei a minha, Alex a colocou de volta sem tirar os olhos da tela, as aproximei um pouco mais fazendo nossos dedos mindinhos se encostarem, recuei, o que
estava fazendo? Senti novamente nossas mãos se encostando, o vocalista parecia focado no filme, quase indiferente, por que eu estava tão nervosa? Não faria nada, pronto, era um bom filme e por que meu coração batia tão forte? Recuei minha mão como se tivesse levado um choque quando ele colocou o mindinho sobre o meu, droga, meu rosto estava queimando, virei o olhar discretamente para Turner que tinha um sorrisinho de lado no rosto.

-beleza, mas por que ela levou aquele cara estranho pra casa?-
-ué, você tá na minha casa, não tá?-
-cala a boca, M, não é de longe a mesma coisa-
-verdade, eu te detestava, então não era uma estranho- Alex me deu língua e eu o empurrei, estávamos andando por uma avenida bastante movimentada a uns três ou quatro quarteirões do cinema, várias pessoas estavam na rua conversando e rindo, a noite estava linda. Quando finalmente parecia que íamos entrar em um acordo sobre que restaurante escolher, meu pai ligou, sua voz estava rouca, ele não parecia tão bem, droga, precisava ir para casa agora
-estamos voltando, fica na cama, certo?- desliguei puxando Alex pela mão na direção contrária, o garoto me segurou tentando fazer com que eu parasse de andar
-ei, calma, o que foi?-
-ele não tá bem, temos que voltar e...- Turner colocou as duas mãos no meu rosto, estava tão agitada que quase o empurrei por extinto, suas mãos estavam quentes
-M, escuta... calma, vamos voltar, ele está bem- concordei respirando fundo, paramos para comprar uma canja e algumas torradas, segundo o Alex aquilo era a cura de gripes e resfriados.

-pai? Tá melhor? O mané te comprou uma canja-
-obrigado, Alex, desculpa ter atrapalhado o passeio de vocês-
-não se preocupe, senhor, a M já não aguentava mais ficar comigo- os dois riram e eu aproveitei para arrumar os travesseiros do Arnold, quando ele deitou para descansar eu consegui relaxar um pouco mais. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo descuidado e sentei na minha cama
-valeu pelo cinema, foi maneiro-
-é tão estranho quando você é legal-
-e você é insuportável, dorme cedo, temos aula amanhã- falei dando as costas para o vocalista, não conseguia ver sua reação e não sei se queria, sentia uma frio muito estranho no estômago.

Não consegui dormir, a sensação das nossas mãos se encostando ia e voltava como um raio na minha cabeça, fora que eu estava com fome, não havíamos jantado e apenas a pipoca não era o suficiente para me manter firme até o dia seguinte
-tá acordado?- perguntei baixo entrando no meu quarto na ponta dos pés, Alex estava sentado na minha mesa de estudos escrevendo algo em um caderno, a fender estava do seu lado sem o amplificador
-não, sou sonâmbulo-
-meu Deus, você é mesmo um babaca, o que tá fazendo?- sentei no braço da cadeira, Turner fingiu que ia cair e depois voltou para a posição de antes, seu braço ficou perigosamente perto das minhas costas e aquilo fez um arrepio percorrer meu corpo
-compondo e você? Ficou com medo do filme?-
-óbvio que não, estou morrendo de fome-
-eu também, quer que eu cozinhe algo?- neguei olhando pela janela, Alex acompanhou meu olhar e depois o voltou para mim sem entender
-troca de roupa, vamos sair-
-sair? Tá doida? São três da manhã e temos aula-
-vai logo, Turner- peguei uma roupa qualquer e entrei no banheiro, Alex me segurou pela mão
-você é completamente pirada- dei de ombros e o empurrei para fora, fechando a porta, já sabia exatamente aonde levá-lo.

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⏰ Última atualização: Aug 09 ⏰

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