You can stay with us

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-desculpa aparecer do nada, não consegui pensar em outro lugar para ir- arregalei os olhos tocando seu rosto da maneira mais delicada que consegui, Turner fez uma careta de dor mas depois sorriu fraco
-por que tá me olhando com essa cara? Sua esquisita-
-o que aconteceu? Tá doendo? Óbvio que tá, que pergunta idiota, eu...-
-calma, tá tudo bem, podemos entrar? Estou morrendo de frio- concordei rápido enquanto levantava e estiquei minha mão para ele, Turner a pegou e não a soltou até estarmos na cozinha, suas mãos estavam muito geladas
-droga, queria que meu pai estivesse aqui, não tenho ideia de como fazer um curativo bem feito-
-não precisa fazer curativo, só tenho que tomar um banho-
-óbvio que precisa, esse corte tá horroroso-
-nossa, obrigado, minha auto estima agradece- Turner disse em tom de piada mas eu não consegui rir, estava muito nervosa, peguei um kit de primeiros socorros e limpei os machucados, minhas mãos tremiam muito, não era a maior fã de sangue, mas sabia que precisava limpar para prevenir infecções
-não precisa fazer isso se não quiser-
-só... me traz memórias ruins, vou conseguir, não se mexe- Alex continuou fazendo caretas de dor, ele as fazia de forma exagerada para me fazer rir e teria funcionado se não estivesse tão ansiosa para acabar logo
-seu cabelo... tá com sangue- falei engolindo em seco, parecia que o ar estava faltando no meu pulmão, além do cabelo a camisa social que ele usava também tinha algumas manchas de sangue seco
-certo, calma, deixa eu pegar isso aqui- Turner tirou a liga que prendia uma das minhas tranças e prendeu seu cabelo, ficou parecendo um york shire e dessa vez não pude evitar de sorrir
-melhorou?-
-sim, devia aderir esse penteado- o garoto gargalhou e depois tirou minha mão do seu rosto a segurando, eu havia acabado, quase desmaiei mas correu tudo bem, quando meu pai voltasse amanhã ele poderia cuidar melhor disso
-vou pegar uma toalha limpa para você, se sentir tontura ou qualquer coisa do tipo grita, ah... você obviamente precisa tomar cuidado quando for molhar o rosto- Turner concordou com uma expressão engraçada no rosto e andou em direção ao banheiro com um rebolado exagerado, pedi que ele não brincasse no banho, não aguentaria ver mais sangue hoje. Coloquei um pouco de sal de baixo da língua e tomei um enorme copo d'água, minha pressão havia caído.

Alex saiu um tempo depois usando as roupas do meu pai, aquilo era muito engraçado, deviam caber uns três dele naquela camisa
-esse visual com o penteado filhote de cachorro seria perfeito, com certeza conquistaria a Emily-
-muito engraçado mesmo- Alex disse deitando na minha cama, também tomei um banho e deitei ao seu lado, queria muito perguntar o que havia acontecido mas talvez não fosse o certo, Turner estava quieto, provavelmente já dormindo, não queria encher seu saco, ele precisava descansar
-obrigado-
-não precisa agradecer-
-claro que preciso, fiquei preocupado, achei que ia desmaiar-
-é, não sei como meu pai faz isso todo dia, não conseguiria-
-não gosta de sangue?-
-é que...- apertei um pouco as mãos, eram memórias horríveis, não devia lembrar tanta coisa daquela época, eu era apenas uma criança, mas estavam claras como se tivessem acontecido a apenas alguns dias
-minha mãe teve câncer... no pulmão, ela cuspia tanto sangue, Alex, ela...- falei olhando para as minhas mãos, precisava ser forte, quantos anos já haviam se passado? Por que eu conseguia sentir o sangue quente e pegajoso?
-ela tossia e quando eu ficava na ponta do pé para vê-la suas mãos estavam cobertas de sangue, eu...- encarei minhas mãos assim como tinha visto minha mãe fazer tantas vezes, Turner sentou e tomou minhas mãos para si, o ar novamente estava faltando nos meus pulmões
-desculpa... ter te feito lembrar disso- concordei o puxando para um abraço, Alex correspondeu surpreso, era a segunda vez que eu o abraçava, na verdade, na primeira eu não consegui corresponder porque estava chocada demais para fazer alguma coisa, então, em tese era a primeira
-quem fez isso comigo foi meu pai- nos afastei enquanto negava com a cabeça, Alex mordia o lábio inferior enquanto olhava para o chão, se ele chorasse acho que ficaria sem saber o que fazer, não era forte o suficiente, eu desabaria junto
-por que? Como ele pôde?-
-não é como se fosse a primeira vez, mas não consegui aguentar e o empurrei quando comecei a ficar tonto, ele caiu e eu saí correndo quando minha mãe começou a gritar-
-você vai morar com a gente-
-o que? Claro que não-
-vai sim, você não pode voltar pra lá-
-tá tudo bem, quando ele me vê assim costuma dar uma treguá nas brigas por um tempo-
-não vou deixar ele encostar um dedo em você de novo- falei sentindo meus olhos marejando, Alex estava muito machucado, não acredito que o pai dele fez isso, ainda mais com sua mãe olhando, isso me deixava com tanta raiva que eu nem era capaz de expressar, como ele ousava espancar o próprio filho?
-não sei como te agradecer por tanto- Turner levantou o rosto para mim, seus olhos estavam cheios de lágrimas mas ele sorria, fui incapaz de segurar as minhas próprias lágrimas e o abracei novamente, estava chorando de maneira compulsiva, Alex não falou nada se limitando a passar a mão pelo meu cabelo
-amanhã eu vou com você buscar suas coisas, não tudo mas o máximo que conseguirmos trazer, podemos fingir que vamos estudar ou sei lá, ele não vai fazer nada comigo perto, certo?-
-certo-
-ótimo, vou conversar com meu pai amanhã e ele pode até ficar nos esperando do lado de fora, caso algo aconteça-
-não queria envolver vocês nisso-
-se for pelo meu pai nem se preocupa, ele gosta muito de você, na verdade, é até estranho- Alex riu enquanto passava a mão na bochecha, algumas lágrimas solitárias haviam escorrido mas ele parecia mais calmo agora, também estava me sentindo melhor, manteria minha promessa de protegê-lo, faria isso apesar de qualquer coisa. Realmente não sou a pessoa mais legal do mundo, nem a mais meiga ou algo do tipo, mas sei ser muito leal com meus amigos de verdade e agora Alex é um deles, daria minha vida por ele sem pensar duas vezes.

Acordei no dia seguinte sentindo um peso sobre o meu corpo, virei devagar e quase gritei de susto quando vi que o braço do Alex estava sobre mim, meu Deus, ele dormiu na minha cama? Pior ainda, ele estava me abraçando? Levantei da maneira mais sutil que consegui, era cedo, precisava preparar algo para Arnold comer, ele sempre chegava do plantão morrendo de fome e depois dormia por várias horas, nesses momentos eu, ou qualquer pessoa que trouxesse, precisava ficar em silêncio total, era uma das regras da casa
-nossa, sanduíche de ovo, salada de fruta, café e a filha mais bonita do mundo, o que mais eu posso querer?- Arnold disse entrando pela porta dos fundos e colocando suas coisas sobre a máquina de lavar, parecia exausto, sua roupa azul de enfermeiro estava toda amassada, mas impecavelmente limpa
-tudo pra você, vem, senta, parece que vai dormir em pé a qualquer minuto- o homem fez o que eu pedi, servi o café em uma caneca enquanto ele mordia o sanduíche, meu pai geralmente lia o jornal enquanto tomava seu café da manhã, mas agora provavelmente estava usando todo o seu esforço restante para se manter acordado
-pai... na verdade... preciso falar uma coisa pro senhor-
-eita, isso não é um bom sinal-
-é só que... bom, não vou falar os motivos agora mas o Alex vai ter que passar um tempo com a gente- Arnold ergueu uma das sobrancelhas e colocou a caneca que estava segurando sobre a mesa
-ele tá bem? E os pais dele?-
-é uma longa história, Alex pode contar ele mesmo para o senhor depois da sua hibernação, é o melhor, né?-
-é sim... filha, Alex pode ficar o tempo que quiser, mas precisa avisar aos pais-
-mas...-
-mas nada, é minha única exigência, quero que os pais saibam que ele está aqui e que autorizem-
-tudo bem, papai, obrigada- fiquei junto com o homem enquanto ele terminava de comer e depois fui acordar o Alex, não queria contar a exigência do meu pai por medo que ele desistisse de ficar conosco mas não podia mentir para o Arnold, na verdade, não conseguia mentir, ele sabia ler todas as minhas expressões.

Turner estava sonolento e seguia ao meu lado de forma preguiçosa, nossas casas não eram tão longes uma da outra e o sol era bem agradável, o dia estava lindo, o garoto não parecia nem um pouco nervoso, ao contrário de mim que sentia minhas mãos tremerem, estava indo para a casa do Alex
-ei, é...-
-o que foi? Tô sangrando de novo?- Alex disse tentando olhar para o próprio nariz, neguei e ele fez uma expressão de alívio enquanto passava a mão na testa, dei risada arrancando um sorriso dele
-falei com meu pai sobre você ficar com a gente-
-o que ele disse?-
-disse que era um prazer e que podia ficar o tempo que quisesse, mas...-
-Alexander?- um homem muito alto disse parando ao nosso lado, ele tinha os olhos iguais aos do Alex e ficava alternando o olhar entre nós dois, seu terno era muito chique e ele também tinha uma daquelas maletas de filme, seu cabelo era escuro e o rosto sério e quadrado deixava o homem ainda mais assustador
-oi, pai- Turner disse de forma irônica, o sorrisinho no seu rosto fez a expressão de surpresa do seu pai se tornar uma carranca de irritação.

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