Tromboner

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-amigos é uma palavra forte- disse passando tinta azul no seu rosto, Alex fez o mesmo comigo e logo os dois estavam destruídos, se eu não tivesse cabelo poderia facilmente ser confundida com um membro do blue man group
-qual é, você não tem coração?-
-você que pintou minha cara inteira-
-eu disse que gosto de você-
-eu ouvi, Turner, mas você deve ter batido a cabeça, nos conhecemos a uns 3 anos e o máximo que fez foi piadinhas sobre mim-
-você também não é a pessoa mais legal do mundo-
-desculpa atrapalhar sua vida muito legal com minha presença- falei irônica jogando um rolinho de fita adesiva nele que colocou os braços na frente do rosto antes de ser acertado
-admite, M, você também gosta de mim-
-do que tá falando?-
-sempre senta perto de mim na aula de biologia e de história-
-gosto de destruir você nos debates-
-também gosta de fazer dupla comigo pra dissecar sapos-
-verdade, você faz tudo sozinho, eu só anoto os resultados no relatório-
-meu Deus, eu desisto...- o garoto falou fazendo uma careta e jogando os braços para cima de forma engraçada, gargalhei colocando a mão sobre a barriga
-filha?- meu pai disse abrindo minha porta de arrastar, ele nunca batia, mas eu também não batia então estávamos iguais nisso. O homem encarou Alex e depois o carpete sujo e voltou sua atenção para mim com uma das sobrancelhas erguidas, sorri vendo que Alexander estava vermelho que nem um tomate e levantei do chão
-pai, esse é o Alex, da escola, estamos fazendo cartazes pra banda-
-ele é da banda?-
-agora sim, vocalista e guitarrista-
-uau, prazer te conhecer, Alex- o garoto levantou como se acordasse de um transe e passou a mão suja no jeans antes de a oferecer para Arnold que a encarou divertido
-esse aperto de mão vai ficar para depois, quer jantar com a gente?-
-claro, senhor Osterno, muito obrigado-
-por nada, vou começar a preparar- meu pai fechou a porta que fez um barulho alto, parecia uma baleia, precisava colocar um pouco de óleo nela
-congelou?- perguntei balançando o garoto de um lado para o outro, Alex negou ainda com as bochechas coradas, ele ficava meio fofo assim
-não esperava ver seu pai, será que ele pensou que...-
-não, se você fosse meu namorado ou algo assim ele saberia, vem, vamos lavar as mãos para comer- seguimos para o banheiro que também ficou todo azul e depois para a cozinha, nossa casa era pequena, não éramos de longe ricos, meu pai não me deixava trabalhar para ajudar em casa, ele preferia que eu focasse nos estudos, mas de vez em quando eu conseguia fugir disso e fazer pequenos trabalhos pela vizinhança que sempre acabava me pagando a mais por pena, novamente, parecia que o fato da minha mãe ter morrido nos deu um tumor no cérebro ou alguma doença incurável

-o senhor precisa de ajuda?-
-obrigado, Alex, pode olhar o macarrão?- Turner concordou ficando ao lado do meu pai no fogão, Alexander parecia ainda mais magro perto dele, meu pai era um homem bem grande
-sabia que hoje é o dia dela de fazer o jantar?- Arnold disse para o garoto que ergueu os olhos da panela para o encarar e depois os dois olharam para mim, dei de ombros ainda digitando uma mensagem para o Matt
-eu sempre faço o seu almoço então acho que é justo-
-como pode ser amigo dela? É muito chata- Alex riu e eu neguei com a cabeça, então agora eles estavam amiguinhos? Maneiro, meu pai adorava falar de mim com as pessoas. Sentamos juntos na mesa quadrada da cozinha, Alex estava claramente nervoso mas relaxou depois de um tempo, Arnold puxava muito assunto com ele que respondia de um jeito animado, o homem sempre foi assim e tinha uma facilidade impressionante para fazer amizade
-se conhecem a muito tempo?-
-uns 3 anos, mas ela não é muito de falar comigo-
-não se preocupa, é assim mesmo, ela demonstra que gosta das pessoas de jeitos não convencionais-
-é? Tipo como?-
-não sei... por exemplo, quando nós brigamos ela nunca pede desculpa, simplesmente vem ficar perto de mim como se fosse um filhote de cachorro ou sei lá- os dois gargalharam e eu soltei o garfo que estava segurando, coloquei a mão na cintura e neguei com a cabeça, se ficássemos aqui mais tempo meu pai poderia expor mais coisas sobre mim, coisas que com certeza eu não queria que o Turner soubesse
-podem parar de falar como se eu não tivesse aqui? Chega, vem, Alex- puxei o garoto pela mão que tentou ao máximo resistir, ele definitivamente gostou mais do meu pai
-preciso ajudar com a louça-
-não precisa, vem logo-
-volte quando quiser, Alex, foi um prazer-
-prazer foi meu, senhor- Alexander gritou já do corredor, chegamos no meu quarto novamente e eu soltei sua mão, Turner tinha um sorriso divertido nos lábios e apoiou as mãos na cintura de forma convencida
-então você gosta de mim-
-cala a boca, vamos, vou te acompanhar até a porta- Turner parou novamente na cozinha para se despedir do meu pai, o empurrei em direção a porta da frente
-nos vemos amanhã?-
-não tenho escolha, tenho?-
-não, não tem, obrigado de novo, M- Alex deu uma risadinha antes de sair pela rua, o observei se afastar enquanto negava com a cabeça, amigos? Até parece.

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