Fazem míseros 2 dias que tento escrever uma carta em destino a Ziemia, direcionada para a senhora Ossory, que, por falta de sorte, é minha mãe. Eu teria que escrever uma carta na qual contivesse uma afirmação ou uma negação, mas a todo modo, minha mãe não estaria esperando um não, estaria? eu teria escolha, então? Não se sabe ao certo o que uma mulher com 2 filhos casados e 1 prestes a casar faria quando seu filho mais novo decide não assinar um contrato de vida com outra pessoa. Ninguém saberia até que conhecesse a mãe que me pariu, uma mulher que consegue o que quer, mesmo aparentemente sendo tão doce quanto um morango colhido nos campos no norte das colinas ziemianas.
Há exatamente e exasperadamente dois dias, recebi uma carta de convocação, minha mãe escrevia, mas lia aquelas palavras com a voz autoritária e nada acolhedora do meu pai. A carta era clara, eu tinha duas escolhas, ou eu voltava a Ziemia, para ser apresentado como jovem solteiro pronto para ter uma prometida, ou minha herança, patrimônios e contratos estariam comprometidos. Como disse minha mãe: Porque viver em uma vida tão solitária se podemos ter ao nosso lado um amor para eternidade? Eu queria dizer o porquê, mas não estava pronto para lidar com as trágicas consequências da minha liberdade de escolha, aquela que tanto encontrei em Londres. Eu precisava ir, não para aceitar o que eles impuseram, mas para tentar argumentar, de alguma forma, o meu direito a escolher qual caminho minha vida irá seguir, esse é um direito básico de um ser humano, ser quem quiser ser, quando quiser ser, mas ser incansavelmente feliz.
Era quase duas da tarde quando decidi acatar as ordens dos meus pais, desde o casamento de Ferdinando, há 2 anos, eu não volto aquelas terras, minha família era como um poço de problemas sem fim, aquele país, aquelas pessoas, todos eram cheios de problemas, então, assim que pude, fui embora dali sem medo do futuro. A única coisa que eu tinha era a carta da faculdade e a mesada que meu pai me mandava quando ainda acreditava que após a graduação, eu voltaria para casa, mas como voltar para casa quando você sente que não possui nenhuma? Bom, minha escolha pela medicina foi repentina, eu poderia escolher fazer um curso de administração e esse ser mais um pretexto para que meu pai conseguisse um cargo para mim em sua empresa, poderia fazer alguma licenciatura e arriscar ser cobiçado por todas as solteiras em Cizar, já que um professor se mostrava um homem culto, respeitador, romântico e, acima de tudo, rico. Porém, então, eu escolhi a medicina, não por dinheiro, um médico em Ziemia não ganha tanto quanto um professor, cientista ou empresário, mas sim, porque nenhuma donzela gostaria de casar com um médico cirurgião. Isso porque, reza a lenda, que houve um serial killer há muito anos atrás, ele se chamava Frederic, era médico cirurgião, e fazia várias cirurgias clandestinas em sua casa, ocasionando em algumas mortes. Muitas de suas pacientes eram mulheres grávidas que queriam abortar, então, depois de muitas mulheres sumirem logo depois dessas consultas, ele começou a ser investigado, a polícia da época encontrou corpos de mais de 30 mulheres enterrados em seu porão, e desde então, muitas famílias não aceitavam prometer suas jovens filhas aos médicos cirurgiões. Portanto, para arrumar um empecilho nos planos da minha mãe, eu decidi cursar medicina na Inglaterra, para me tornar cirurgião, longe daquele lugar, mas, mesmo que a princípio meu plano fosse afugentar as damas, logo me apaixonei pelo curso e, consequentemente, pela profissão, o que já era de se esperar. Meu dom era salvar vidas e era isso que eu iria fazer pro resto da minha.
Estava dando tudo certo, até eu falar no casamento do meu irmão, com todas as palavras, que eu nunca iria me casar. Então, desde que Pietro conseguiu uma prometida em véspera de atingir a maioridade, há alguns meses, minha mãe enlouqueceu com o meu estado civil, o que resultou em: Ou eu voltava, ou seria o filho deserdado. Ou seja, eu perderia meu visto, já que o senhor Ossory que arrumara para mim, eu perderia meu título, mesmo sendo uma das pequenas coisas na qual me importava, No entanto, veio o mais importante, perderia o contrato que havia assinado com meu pai, onde ele entraria financiado um hospital público para Cizar, com minha administração. Estava quase tudo pronto, a obra estava em andamento e os materiais para serem comprados já estavam pré-listados. Era meu sonho, eu estava me doando de corpo e alma naquele projeto, nada poderia estragar aquele momento, até aparecer uma nova cláusula, um novo acordo. Eu estava completamente perdido, se eu ficasse, perderia tudo, se eu fosse, perderia muito. Nada importava mais, eu já estava de malas prontas, partiria naquele mesmo dia, eu seria a carta de confirmação ao qual minha mãe esperava receber. Não seria nada fácil ter que enfrentar os meus pais novamente, até porque, quando um pássaro de cativeiro conhece a liberdade, voltar para gaiola é sentença de morte. E era assim que eu me sentia, a caminho da minha própria guilhotina.
Eram quatro da tarde quando o navio partiu da Costa litorânea da Inglaterra, levei comigo um amigo de longa data, Logan Windsor, um conde quase falido do condado de Windsor. Conheci Logan em um dos prostíbulos de Londres, estava lá acompanhando a despedida de solteiro de um amigo da faculdade, e o Logan? Às vezes penso que ele estava lá para se divertir, como qualquer homem comum, mas quero acreditar na versão quase santificada que ele me contou. Nos esbarramos na entrada do toalete, ele com aquela cara de homem violado, quase desesperado a procura do cara gordo que tinha acabado de roubar sua carteira. E eu, sem paciência, pois o que mais queria era que aquela comemoração acabasse para que eu pudesse voltar aos meus aposentos e dormir um sono que um estudante quase formado de medicina merecia. Ao nos atinar, como esperado, caímos em sentidos opostos, com uma dor latejante na cabeça, mas como qualquer outra história de amizade, a partir daquele encontro, nada proposital, nos tornamos melhores amigos, ou quase isso.
A viagem durou exatamente 3 dias, não era difícil voltar para minha cidade natal, difícil era enfrentar os fantasmas da minha infância. Minha casa era como todas as casas nobres em Cisar, estupidamente grandes, escandalosamente bem arrumadas e desnecessariamente cheias de empregados. Não que eu não gostasse de ter uma casa grande, sempre arrumada e com pessoas para me servirem, mas eu amava o meu apartamento de poucos metros quadrados, minha sala cheia de roupas jogadas pelos móveis e sem absolutamente ninguém para arruinar minha paz.
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Uma esposa para Lorenzo Ossory - Livro 2
Romance[EM ANDAMENTO] O que você faria se fosse obrigado a deixar tudo que havia conquistado para trás, para ter a responsabilidade de gerir uma empresa em seu pais natal, o qual você nunca mais queria voltar? O que você faria se sua maior esperança, no pr...