Capítulo 4

125 16 5
                                    

Minha mãe havia me contado tudo, ela falou que com a morte do meu pai, a empresa passaria para algum dos seus filhos, naquela situação, para o filho mais velho, Ferdinando, mas meu pai tinha dito que com a mudança de Ferdinando para a Capital, ele havia saído da direção de sua empresa, para administrar a loja de instrumentos musicais que a esposa herdara do pai. Era difícil para ele entregar a empresa nas mãos de alguém que não terá tempos suficientes para lhe dar a devida atenção; poderíamos até falir, falou papai. Então perguntei sobre Pietro, afinal, ele havia passado todo esse tempo trabalhando para a empresa, de alguma forma, ele seria um ótimo administrador. Papai quase engasgou, não era uma opção entregar a responsabilidade da empresa nas mãos de Pietro, de fato, ele havia passado muito tempo trabalhando com meu pai, porém, era um homem totalmente incapaz, chegava atrasado diversas vezes, não finalizava nenhuma tarefa na data pedida, e por falta de atenção, quase fez a empresa perder muito dinheiro. Segundo meu pai, ele com certeza levaria a todos nós à falência em poucos meses.
Não quis perguntar o motivo pelo qual eu era tão apto a ser o mais novo chefe do negócio da família, eu nunca me vi como administrador, eu era médico, médicos não trabalham na administração de uma empresa, não quando não era voltado à saúde, eu era o homem menos capaz da família. Mas antes mesmo de abrir a boca, minha mãe começou a falar várias, do que ela chamou de, qualidades notórias sobre minha pessoa.

1º Eu era um homem responsável.
2º Eu era o único da família que estava livre para construir uma rotina específica e personalizada para dar conta da empresa.
3º Eu tinha feito uma matéria de administração na faculdade, estava por dentro de muita coisa do meio.
4º O mais considerável, eu já tinha um vínculo muito importante com a empresa, afinal, era ela quem patrocinava o hospital público de Cisar, o qual eu iria administrar.

Nunca imaginaria que minhas qualidades fossem postas daquela maneira, como pré-requisito para uma vaga de emprego, mas naquele caso, eu não era um candidato, eu era o escolhido. Minha mãe continuou falando sem parar, falou de coisas nas quais não me lembraria minutos depois, até que a conversa chegou no fio solto da história. Ela falou que para eu poder ser o que eles queriam que eu fosse, eu teria que casar e ter um herdeiro, para que esse herdeiro possa, também, administrar a empresa quando possível, e assim por diante... Questionei sobre os filhos de Ferdinando, Pietro, e que minha irmã me perdoe, os de Johanna também. Mas além deles ainda não terem filhos, com exceção de Johanna, que estava grávida, nenhum dos meus irmãos seriam capazes de treinar tão bem uma criança para um cargo que já o estava predestinado. Então, todas as cobranças sobre casamento era para que eu pudesse dar um herdeiro apto a seguir o mesmo destino que eu.
O que meus pais esqueceram, mas eu não, era que mesmo que eu aceitasse, eu teria que abandonar toda minha carreira, o hospital onde trabalhava em Londres, e também tudo o que tinha construído por lá, amigos que já considerava família, minha liberdade e tudo que eu mais amava naquele país. Eu teria que voltar para Ziemia, ver diariamente pessoas passando fome, mulheres casando com homens que mal conheciam e impuros negros tendo que viverem sob as sombras dos lixos da nobreza. Eu teria que ir contra todos os princípios que adquiri em toda minha vida, eu teria, além de tudo, que me casar com alguém que eu não amasse, para ter um filho que já teria um destino traçado, um filho que nunca iria poder provar a liberdade que tive. Aquilo tudo era demais pra mim, minha barriga embrulhava de tal forma que sentia o gosto ácido do vômito na minha língua. Em um pulo, pedi uns dias para pensar, afinal, uma bomba tinha caído sobre minhas pernas, eu tinha o direito de pensar, assim como, eu teria o direito de recusar, caso quisesse.

Passei os último dias após a convocação quase sumido, passava o dia todo fora de casa junto a Logan, íamos em bares, restaurantes, bazares, caçamos, andamos a cavalo, passávamos boa parte do tempo fazendo algo para que eu pudesse, de algum modo, esquecer a conflitante realidade que me esperava. Quando voltávamos, passava rapidamente na sala de chá da minha mãe, onde todas as noites, antes de dormir, ela ficava a conversar com Halina, aliás, em todos esses dias, eu não havia me desculpado, eu não estava disposto a ser um patife, mas eu estava esperando o momento certo para que pudéssemos conversar. A minha presença naquela casa era quase nula, já a dela, era bem perceptível. Logo de manhã, conseguia sentir o cheiro do seu perfume pelo corredor, seu cheiro fixava em meu traje de uma forma que eu não conseguia conter a imaginação mais frenética de um homem. Ouvia sua voz todas as vezes que chegava em casa e até de manhã. Halina era uma mulher atraente, era natural dela, mesmo a conhecendo pouco, eu sentia, de alguma forma, o quanto ela era linda por fora e por dentro. Mas as lembranças do nosso encontro me faziam repudiá-la com a mesma intensidade ao qual, no fundo, eu a desejava. Era simples, eu era um homem, que não se relacionava há um bom tempo, sentindo desejo em uma mulher bonita. Embora eu soubesse que com muito pouco eu sentia tudo aquilo, minha primeira impressão sobre ela não me deixava prosseguir com pensamentos inadequados.
Eu nunca tinha sido assim.
Então, na maioria das vezes, quando os pensamentos me norteava, eu lembrava do motivo pelo qual eu, de qualquer forma, a reprimia tanto.

Uma esposa para Lorenzo Ossory - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora