Prólogo

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"Andrew! Meu Deus, Andrew!" Liz não era uma pessoa culta, nem tão pouco sabia como reagir ao ver o seu filho tão jovem e inocente que tremia na cama, os lençóis encharcados do suor que escorria incessantemente pelo corpo do rapaz de seis anos.

Andrew mal teve tempo de interiorizar o que se passava, quando entrou de rompante no quarto da criança e pousou os olhos sobre a mulher chorosa ao lado do filho a meio de uma grave convulsão.

Tudo aconteceu rápido de mais quando, ainda em pijama, o homem aflito tomou o pequeno nos seus braços, correndo escadas abaixo acompanhado pela mulher que chorava incessantemente.

No caminho para o hospital, os pais preocupados tentavam inutilmente acalmar o filho tremelicante, que se encontrava num estado semi-acordado, parecendo alheio a tudo o que se passava em sua volta. A criança parecia ter dificuldades em respirar, o ar mal chegava aos pequenos pulmões obstruídos.

Elizabeth avisou. O seu instinto de mãe indicara-lhe que as dores de cabeça excessivas que Luke havia tido recentemente não eram normais, ela sabia que algo se passava. Apenas não conseguia conjugar todos os sintomas e chegar a uma conclusão, o desespero também não ajudava na concentração.

Quando o casal rompeu pelas urgências, os médicos apressaram-se a retirar a criança em sofrimento dos braços do pai, carregando-a para longe daqueles que o amavam mais do que tudo.

"A senhora não pode entrar aqui, o médico virá falar com os senhores assim que possível." Foi a resposta apressada que Elizabeth recebeu, antes de o enfermeiro desaparecer pela grande porta branca.

Foram horas torturantes em que Andrew teve que acalmar a esposa, que gritava e clamava o direito de acompanhar o pequeno e indefeso fruto do seu ventre. Depois de uma injeção difícil de administrar que deixou a mulher adormecida, Andrew esperou pacientemente notícias do seu filho há muito levado dos seus braços, enquanto descansava a cabeça sobre o braço da esposa que jazia sobre a maca.

Pareceram lamentáveis séculos até que um homem na sua meia idade se aproximou do casal, vestido com uma bata branca igual à que muito outros usavam.

"Andrew e Elizabeth Hemmings?" a voz grave foi o suficiente para que Andrew e a sua mulher já acordada e mais calma se erguessem, os corações acelerados com a possibilidade de receber uma notícia do seu filho. "Venho entregar-lhes boas e más notícias." Liz não pode conter as lágrimas que desceram pela sua face ao considerar a hipótese de se passar algo de grave com o seu precioso menino. "Queiram acompanhar-me, por favor."

O homem não-tão-intimidante levou o casal abraçado para uma pequena sala de reuniões, permitindo que se acomodassem confortavelmente nas cadeiras.

"É um assunto delicado o que tenho para vos falar, pelo que preciso que mantenham a calma e se lembrem que o mais importante agora é o bem-estar do Luke." o casal assentiu tremulamente, as mãos unidas numa passagem de força e coragem. "O vosso filho sofreu aquilo que chamamos de ataque epilético, acompanhado de convulsões. A boa notícia, é que ele já se encontra estável e neste momento está a dormir numa das nossas salas." Andrew permitiu-se libertar um suspiro de alívio, pelo menos Luke agora estava bem. "Preciso que me digam se têm notado alguma anomalia no comportamento ou bem-estar do Luke ultimamente. Qualquer coisa que vocês possam considerar insignificante, refiram na mesma."

Liz fungou um pouco, limpando as lágrimas quase secas nas suas bochechas.

"C-como assim, doutor?"

"Problemas como dores de cabeça, alterações de humor, dificuldades de concentração." O homem exemplificou, obrigando o casal a rebuscar na sua memória os passados meses.

"O Luke tem vindo a ter dores de cabeça mais fortes que o habitual, e também mais frequentes." Elizabeth indicou, vendo o doutor assentir lentamente, como se assimilasse a informação.

"E náuseas, problemas de equilíbrio...?"

"Lembro-me de ele ter vomitado algumas vezes, mas o Luke sempre foi uma criança com tendência a comer pouco e a vomitar o que come frequentemente. Chegamos a consultar o pediatra e ele indicou-nos que isso acontecia com algumas crianças, e que passaria com o tempo." o homem da bata branca assentiu, no momento em que alguém bateu à porta.

Uma rapariga aparentemente nova e também vestida com uma bata branca entrou, entregando um grande envelope ao doutor e saindo logo em seguida, não sem antes lançar um pequeno sorriso reconfortante ao casal, que não pode evitar sentir-se mais assustado com esse pormenor.

Foi quase torturante para os dois o modo como o homem de cabelos grisalhos abriu lentamente o envelope, analisando cuidadosamente o que quer que os papéis contivessem.

"D-doutor, está tudo bem?" Andrew perguntou a medo, apertando com força a mão da esposa que envolvia a sua.

"Preciso que sejam fortes agora, e que se lembrem que o mais importante aqui é o vosso filho e o seu bem estar. Não importa o que aconteça." O casal concordou, vendo o homem erguer aquilo que parecia um raio-x no ar, colocando-o contra a luz. "Conseguem ver? Isto é o cérebro do Luke." A garganta de Andrew secou ao ver o pequeno promenor marcado na folha, e tudo o que se ouviu depois foi a pobre Liz quebrar perante as palavras do médico. "E isto aqui, é um tumor."

COMA ✖ Muke ClemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora