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Luke

"Menino Luke." Ergui o olhar para a enfermeira que havia acabado de entrar, vendo um sorriso agradável estampado na sua face. "Tem uma visita." Olhei para as horas no meu telemóvel e franzi o cenho. Os meus pais só deveriam aparecer mais tarde.

"Lucas!" sorri largamente ao ouvir o tom de voz familiar. A figura alegre e cacheada rompeu animadamente pelo quarto, alegrando-o numa fração mínima.

"Ashton!" exclamei, abrindo os braços para o rapaz que caiu em cima do meu corpo, confortando-me no seu aperto.

"Como é que está o meu loiro preferido?" bagunçou os meus cabelos com uma mão, recebendo um empurrão da minha parte que o fez caír no chão com um baque surdo. "Ugh, delicado como um cato." Gemeu dorido, e eu apenas ri da sua cara.

"Que estás aqui a fazer, não devias estar a trabalhar?" questionei confuso, encostando-me à cabeceira da desconfortável cama. O rapaz subiu para os lençóis, ocupando o estreito lugar ao meu lado.

"O Mr. Stephan dispensou-me por hoje, vai haver fiscalização ou uma cena qualquer, e não precisam de mim lá." Encolheu os ombros, debruçando-se sobre o meu corpo para observar o ecrã do meu telemóvel. "Que estás a fazer?"

"Só no twitter." Levantei os ombros. "Acreditas que criaram uma tag para colocarem os One Direction no Wipeout? Está nos trends mundiais." gargalhei, sendo acompanhado pelo rapaz de cabelos de ouro.

"As directioners são poderosas." Brincou e eu olhei-o estranhamente. "O que foi? Eu sou uma pessoa atualizada!" rolei os olhos e voltei a atenção para o ecrã retangular. "De qualquer das formas, não me importaria de ver Harry Styles de camisa colada ao corpo." Mordeu o lábio com vigor, fazendo-me empurrar o seu ombro ligeiramente.

"O teu grau de homossexualidade começa a assustar-me." Acusei e ele riu, abraçando a minha cintura e recolhendo-se em meu redor.

"Não fales como se fosses hetero." Bufei e ele riu. "Lukey..." chamou manhoso, enterrando o rosto na minha barriga.

"Uhn?" murmurei distraído, ainda deslizando pela timeline do twitter.

"Posso dormir um bocado? A minha mãe expulsou-me da cama cedo hoje." Murmurou contra o meu estômago e eu ri, enterrando uma das mãos nos seus cachos.

"Tudo bem, mas quando o horário de visitas acabar tens que ir." Avisei e ele murmurou um som de concordância, caindo no sono logo de seguida.

-x-

Existem muitas coisas na vida às quais desconheço a razão de terem acontecido. Há coisas que ninguém sabe porque acontecem mesmo, e talvez nunca ninguém saberá.

Eu não sei porque subi àquela árvore no dia em que parti o pé, eu não sei porque chutei aquela pedra que partiu a janela da vizinha da frente, eu não sei porque estudei tanto para o teste de Inglês que nunca cheguei a fazer.

Mas principalmente, eu não sabia porque os meus pés rumavam em direção ao quarto do rapaz de cabelo vermelho.

Depois da agitação incomum de ontem, não consegui saber mais nada sobre o misterioso rapaz que havia sofrido o terrível acidente de automóvel. Consegui informar-me daqui e dali acerca do estado da mãe, que aparentemente sofreu apenas arranhões ligeiros e uma ou outra pisadura sem gravidade.

O que me despertava curiosidade verdadeira era o ser de cabelos tingidos. O que teria acontecido com ele? Será que estava acordado?

Eu sabia que ele havia sobrevivido pois a enfermeira que me trouxe o pequeno-almoço tinha-me informado que ele se encontrava no quarto 13. E era para lá que eu caminhava neste momento.

COMA ✖ Muke ClemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora