Novembro de 2013, café expresso

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      Senti todo o sangue do meu corpo subir pro meu rosto, vergonha não era o suficiente, pensei em fechar a porta e me trocar, mas continuei ali.

- o que você tá fazendo aqui?

- como assim o que eu tô fazendo aqui? nós vamos sair, esqueceu?

- nós vamos? não lembro de ter aceitado.

- olha, se quiser ficar aqui não tem problema também- Luke sorriu maliciosamente olhando pras minhas pernas.

-vou me trocar, espera aí! - entrei no quarto bufando, a insistência dele me irritava. Ele por completo me irritava. Coloquei uma calça jeans, meu casaco preto, e voltei pra sala.

-ok, vamos.

- é sério? - a cara de surpresa dele me fez sorrir. - sim, você cansa pela insistência.

-e isso é bom?

não respondi, e empurrei ele pra fora pra poder fechar o apartamento.

Como eu imaginava algo clichê, Luke me levou no cinema, fiquei a sessão inteira com cara de brava, enquanto ele ria com o filme que escolheu. Quando o filme acabou, pedi pra ele me levar pra casa, recebendo um beicinho como resposta.

-mas eu nem te levei pra ver o mundo ainda.

-o mundo é muito grande pra ser visto em uma noite só.

-o meu mundo não.

Fiquei confusa quando ele parou o carro no parque central, desci logo atrás dele e sentamos na grama.

- esse lugar é a parte favorita do meu mundo, aqui eu posso ser só o Luke, de 18 anos, sem problemas e nada que me faça ficar triste. Você tem um lugar assim também?

-costumava ser a minha casa até você descobrir o endereço- ele riu- me conta um segredo seu Jully.

-eu mal te conheço, por que faria isso?

-eu acabei de te trazer no meu lugar favorito do mundo todo, e o mundo é realmente grande, é o mínimo que me deve senhorita.

Fechei os olhos, não sei se foi o lugar, o momento, mas me senti tranquila e de coração aberto. Depois de minutos de silêncio comecei a falar.

-meu irmão mais novo morreu ano passado- Luke continuou ouvindo sem me interromper- foi no dia do meu aniversário, eu e ele brincamos a tarde toda. Meu telefone tocou e eu corri pra atender, quando voltei.. -achei que não fosse conseguir contar o resto, mas continuei- ele não estava mais lá, procurei e chamei ele por todo lugar, encontrei ele na piscina Luke, já sem vida. A culpa foi minha, eu nunca vou conseguir lidar com isso, a dor sempre vai ser demais pra mim. Meus pais nunca me culparam, mas a falta do Jack inunda nossa casa muitas vezes. Nunca mais comemorei meu aniversário depois disso.

Senti o gosto salgado das minhas lágrimas, olhei pro Luke pra ter certeza que ainda me escutava. -Vem.-disse ele, estendendo o braço pra me levantar.

-Pra onde?

-Precisamos achar um lugar favorito pra você também pequena Jully.

A vida começa depois do café.Onde histórias criam vida. Descubra agora