4. A queda

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"[...] Melhor do que a subida, só mesmo
assistir à queda."
– Glória Groove.
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A Gravidade, de maneira geral, pode ser explicada como o fenômeno físico de atração entre dois corpos, surgindo simplesmente pela presença de ambos em um ponto específico do espaço tempo.

Na Terra, essa força – agindo em função da massa e distância entre objetos – faz com que todos os corpos sejam atraídos para o centro do planeta.

Naquela sala, o centro do planeta tinha olhos cor de topázio. E ali, unicamente, a gravidade parecia agir em função dela.

A voz rouca, transbordando uma sensualidade nada implícita, sou por entre as paredes de mármore cinza chumbo em um tom rasgado; quase indecente.

— Alfonso Herrera, não é mesmo?

E ele, fitando-a de cima – uma das mãos correndo pelo lábio inferior enquanto outra apertava o braço de sua cadeira – teve que se auto-policiar para não perder-se diante a petulância daquele fitar libertino.

Louisa: Senhora Miller! – chamou, os passos rápidos se fazendo presentes em meio ao silêncio extremo que contagiava o ambiente – Eu preciso que a senhora se retire. Sua entrada não foi ...

Anahi: O quê? Autorizada? – questionou, cortando-a em uma indagação quase retórica.

A morena – que, nos pensamentos infames de Alfonso, seguia moldada em seu vestido vermelho sangue – apenas sorriu, levantando uma das sobrancelhas quando os olhos verdes, de pupilas muito mais dilatadas que o normal, semicerraram-se em um questionamento silencioso.

O que ela fazia ali?

Louisa: Por favor. – Pediu, sucinta, e Alfonso não precisou desviar o olhar para notar o desconforto latente naquele murmúrio.

Anahi: Tudo bem. – concordou, as bochechas rosadas dando-lhe um leve toque de doçura que, certamente, não transcorria para o resto de seu corpo – Eu posso sair se for necessário, mas porque não perguntamos a Alfonso ... – pausou se estou autorizada ou não a ficar?

Alfonso?

Ele – em uma contestação a forma íntima com que seu nome fora pronunciado pelos lábios avermelhados –, trancou o maxilar, sendo retribuído por uma risada fraca; um sorriso leve se destacando em meio a expressão cínica que dominava àquele rosto.

Que diabos ela poderia querer com ele?

Ainda sentado em sua mesa, ele pigarreou, deixando que os olhos caíssem – apenas por alguns segundos – sobre o porta-retrato prata ao lado de seu computador. Ali, eternizada em uma moldura espelhada, a memória ainda recente de um casal feliz, sorrindo em meio a flores brancas e taças de champanhe rose, fez-se presente, tratando de disputar um espaço – ironicamente, oposto – à figura da mulher em sua frente.

Ela – incrivelmente sedutora com seus os olhos acinzentados, corpo moldado em um vestido preto justo, e um fitar malicioso – parecia obstinada, queimando-lhe a pele apenas com o peso de sua presença convidativa.

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