[...] E uma das condições necessárias para se pensar certo, é não estarmos demasiado certos de nossas certezas."
— Paulo Freire
___________________________________Quinta feira, 10:15 a.m.
Cafeterias de bairro deixavam Brittany com um gosto amargo na boca.O cheiro áspero do café nacional combinado com o falatório das mesas repletas de clientes eram, em dias normais, situações sequer cogitada junto aos itens tediosos da realidade da loira; mas naquela manhã, acompanhada por uma morena falante e um copo descartável de tamanho médio, a escapatória parecia inexistente.
Hande: Eu pensei em alguma galeria menor, sem muitos exageros ... — comentou, desbloqueando o celular enquanto digitava algo rapidamente. — Olhe, essa aqui parece parece ser bem legal.
A afirmação veio acompanhada de algumas fotos internas do local. A Carl Hammer art Gallery — ou apenas Hammer, para pequena classe artística — ocupava o pavimento térreo de um antigo prédio no centro de Chicago. Tinha um aspecto clássico; as paredes eram pintadas um tom de bege amarelado e o piso de tacos brilhava com a resina recém encerada.
A morena sorriu, animada, estendendo o telefone roxo para que a loira pudesse passear pelas imagens por alguns instantes.
Brittany: Legal? Tem certeza? — Questionou, o tom irônico totalmente presente em suas palavras rasas. — Quer dizer, parece ser meio pequena ... além de muito velha. — Ressaltou.
Hande: Aí, não fale assim! — Ralhou. — Não é velha, é antiga ... e esse é justamente o ponto. As telas são todas coloridas, super contemporâneas ... quero que a exposição seja em um lugar que transmita uma ideia contrária!
Brittany: E esse lugar não poderia ser, sei lá ... uns duzentos mil anos mais novo? — Contrapôs.
Hande: Quer saber? Cale essa boca! — Exclamou, recolhendo o celular antes de revirar os olhos escuros. — É uma ótima ideia, pare de querer infernizar minha vida.
Diferente do irmão — Que reinava soberano com seus olhos verdes, fitar duro e expressões impassíveis —, Hande Herrera tinha olhos castanhos intensos, assim como os cabelos que caiam longos e lisos por suas costas magras. Era divertida; dona de sorrisos largos — que pareciam não ser capazes de deixar seu rosto —, de uma beleza exótica descomunal, de uma personalidade carismática e de valores incrivelmente livres.
Livres o suficiente para fazê-la se tornar o que sempre sonhara ser;
Uma artista plástica de alma brilhante.
E, de certa forma, o contraponto impiedoso de tal liberdade em relação a vida regrada do irmão — que crescera com um futuro que lhe fora planejado, com a liderança de uma empresa em seus ombros e um amor um tanto quanto premeditado em seu peito — talvez fosse o ponto principal para a proximidade latente que os unia com uma força descomunal.
Na mesa, a loira seguiu por observar a cunhada, não contendo o riso baixo que escapou de seus labios com a expressão insatisfeita que se instaurou ali.
Era incrível como Hande, apesar de todos os pesares, se parecia absurdamente ao irmão quando era contrariada.
Brittany: Tudo bem, a ideia é até boa ... — Cedeu. — mas o lugar continua sendo meio pequeno.
Hande: Nada que não se resolva cortando alguns convidados da lista! — rebateu, voltando a sorrir quando Brittany lhe contestou com uma careta. — Vamos, não seja implicante! Já disse que este evento vai ser bem menor do que os outros! Tenho certeza que você vai acabar gostando.
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Porcelana
FanfictionO pecado tem sabor a luxúria; a luxuria tem textura de porcelana. Havia apenas uma ordem simples, concisa e enfática; Não coma a maçã. Independente da serpente, dos murmúrios e de suas suplicas. Independente de quão tentadora possa parecer. Não com...