28 - Maybe she's not fine, Bina.

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Joalin

— Grávida? — Pergunto confusa.

— Sim, Jo. Vamos ter um bebê! — Ela dá um sorriso meio tristinho.

Me aproximo dela para um abraço carinhoso.

Um bebê. Quando menos esperamos, surge um fiozinho de luz no meio da escuridão onde nos encontramos presos, perdidos, confusos. Houveram dias em que eu pensei em sair de casa em casa procurando por minha filha, que não vemos há 2 cruéis meses.

— Eu te amo, Sabina. — Falo entre um longo suspiro, começando a passar minhas mãos levemente por suas costas, sentindo que o corpo conectado ao meu está prestes a desabar mais uma vez.

— Jo, você acha que ela está com fome agora? Ou frio, calor... Você ao menos acredita que ela está viva? — Ouço Sabina perguntar com a voz trêmula.

— Eu não sei, Bina. Ela pode estar congelando agora ou morrendo de calor... Eu quero pensar positivo mas também quero ser realista. Eu não quero que você precise lidar com a mágica da ilusão se despedaçando bem na sua frente. — Me afasto do abraço para poder olhar nos olhos dela.

Ela não faz nada, apenas continua olhando no fundo dos meus olhos em um pedido de descanso silencioso.

— Eu sei que está cansada, agora precisa pensar em vocês dois. — Aponto para a barriga que ainda não é perceptível. — Se você me disser agora mesmo que se cansou de lutar, eu te pego no colo e luto por nós duas nessa guerra.

— Não, nem pensar! Primeiro que eu não vou conseguir descansar enquanto ela não estiver conosco e segundo que eu não vou descansar mesmo pensando que você está com essa sua cabeça de vento agindo sem pensar por aí. Eu tenho que pensar por dois? Não só eu! Nós, nós duas temos que pensar por dois. Na verdade, temos que pensar por 3! Por mais que a vontade de encontrar a Venus seja grande, temos que pensar em tudo com calma.

— Se você dormir, vai pensar melhor. Acho melhor você se deitar, se recuperar muito bem e depois teremos essa conversa. — Desço da cama e deixo a maca em posição reta.

Volto para a maca, me sentando na beirada e me lembrando de alguns motivos pelos quais não quero dar falsas esperanças para Sabina.

— Quando eu tinha uns 7 anos, minha mãe começou a apresentar os primeiros sintomas de seu distúrbio mental. Todos os dias, exatamente todos, eu perguntava ao meu pai se um dia ela voltaria a ser a "mamãe de verdade". Meu pai, sem paciência para minhas intermináveis perguntas que viriam se ele me contasse a verdade, me dizia que sim, a mamãe ficaria bem. — Sorrio de lado. — Eu passei a acreditar tão firmemente naquilo... Até que uns 5 anos depois, eu soube que na verdade, aquela era a mamãe de verdade. Eu tive que cuidar dela até meus 19 anos e quando a esperança de uma melhora vai embora, a dor é devastadora.

Ela mantém seu olhar fixo em uma determinada janela do quarto.

— Eu vejo ela de vez em quando, Jo. Tipo agora, olhando para aquela janela ali, eu pude ver seu rostinho apavorado me observando. Mas essa é a ilusão, Joalin. Passamos tanto tempo sonhando e idealizando momentos, que quando vivemos eles de verdade, percebemos que a vida é decepcionantemente uma propaganda de brinquedos.

— Propaganda de brinquedos? — Pergunto confusa.

— Sim. Nós somos as crianças, nossos sonhos são os brinquedos e a realidade é nossa mãe, nos vendo perdidos em nosso próprio mundinho encantado, enquanto ela vive a realidade e não entende como podemos imaginar coisas tão distantes do mundo real.

Agosto de 2016

Joalin

Entro no mesmo bar de sempre. Londres costuma ser uma cidade agitada, consoante, essa noite está calma. Olho ao meu redor e a única coisa que consigo ver são pessoas superficiais, contando vantagens de suas vidas para um desconhecido, que muito provavelmente nunca mais verão.

Criminal Mom | Versão Joalina G!POnde histórias criam vida. Descubra agora