Laços de Ferro

Capítulo Doze

Uma semana depois, a Lexie cumpriu a sua quase-promessa. Aqueles dias serviram para nos tornarmos amigas – quando a Ariana estava mais ocupada, com os seus trabalhos da escola, eu ocupava-me entre observá-la, ajudá-la e falar com a sua tia emprestada por mensagem. Lexie era um bom refúgio para as preocupações que me esperavam no fim da semana e eu sentia-me confortável com ela. Numa ou duas vezes, o seu irmão mais novo – Connor – aparecia também, surpresas que Ari adorou, e eu conheci o adolescente um pouco melhor, também. Não era bem um adolescente, tinha dezanove anos e, do que a sua irmã mais nova e o seu cunhado me disseram, estudava Química na faculdade. O seu objetivo era trabalhar na área farmacêutica.

Conter o meu riso perante a ironia de um adolescente que brincara com drogas acabar nessa área foi um pouco difícil, mas, felizmente, nem Lexie nem o próprio levaram a mal. O humor seco do mais novo ajudou a que eu gostasse dele muito rápido. Durante aquela semana, criou-se a rotina de Caleb me ajudar a cozinhar o jantar, enquanto conversava com a sua filha sobre o nosso dia e partilhava histórias da esquadra. Não foi difícil entender que Ariana adorava ouvir o seu pai falar do seu emprego – e, com a quantidade de histórias sobre polícias que Lexie lhe tinha escrito, não estranharia se ela criasse uma fascinação pela carreira, no futuro.

Os meus planos eram simples, para aquele último dia na casa de Caleb e Ariana Pattinson. Depois de a menina ter ido ao médico e ser oficialmente proclamada não-contagiosa, a Lexie e o Steve obrigaram Caleb a fazer uma pequena festa para celebrar. Varicela não era nada demais, pensara eu, mas entendi que, naquela família, duas semanas sem se verem eram quase uma eternidade. Na família Flores seria precisamente a mesma coisa, portanto nem julguei nem me queixei. A ideia de celebrar com Ariana o nosso último dia – e noite – juntas agradou-me, porque achava que precisávamos da desculpa para uma despedida mais concreta. Portanto, os meus planos eram passar a tarde agarrada a Ari, conhecer todos os seus familiares e amigos que ela me apresentasse, e ir embora com a segurança de que ela não sentiria a minha falta.

Bem, que não sentiria muito a minha falta. Se ela se esquecesse de mim num dia, eu ia ficar ofendida.

Camila ainda estava na cidade, então seria ela a ir-me buscar. Estava curiosa para ver como os amigos e familiares de Caleb reagiriam à sua presença, para saber se ele tinha comentado com eles a minha ligação à supermodelo. Estava, também, bastante expectante para ver duas pessoas famosas no mesmo pequeno quintal: de um lado, Declan Miller, o jogador de futebol, do outro, Camila Flores, supermodelo. O mundo era pequeno, mas o quintal de Caleb era mais e, ainda assim, teria espaço para duas celebridades e as suas carreiras.

- Emma, Emma, Emma! – ouvi Ari gritar, enquanto subia as escadas a correr.

- Candy! Não corras nas escadas! – ouvi o seu pai a repreender, num tom sério. Ri baixinho, apenas para mim própria, e compus a minha expressão antes que a menina chegasse ao meu quarto.

Quando ela chegou, já eu estava sentada na minha cama, de braços cruzados e uma sobrancelha levantada. Ari abriu a porta de rompante e soltou um sorriso enorme ao ver-me pronta, mas o seu olhar rapidamente desviou para as malas que eu já tinha arrumado, em cima da cama. Suspirei e levantei-me para tentar distraí-la, mas todo o seu corpo pareceu perder um pouco da energia perante a realidade que o quarto de hóspedes vazio trouxe. Eu iria embora e não iriamos dormir juntas, num futuro próximo.

- Se ficares triste, vou fazer questão de ir dizer à Lexie para não te dar nenhum dos bolos que ela fez. – avisei, com um indicador apontado ao seu nariz. Ela fungou.

- Pessoas tristes deviam comer mais bolos! – cruzou os braços, mas eu não fui enganada pelo seu tom refilão. Puxei-a para os meus braços e abracei-a com força, pousando a minha cabeça no topo da sua. – És a minha melhor-amiga, Emma.