Laços de Ferro

Capítulo Onze

Às duas e meia da tarde, Ariana já tinha feito os seus trabalhos da escola, falado com a sua professora e já tínhamos almoçado. O Sol estava a tentar-nos, pela janela da cozinha, e eventualmente eu perdi a minha força de vontade. Eu própria me sentia um pouco presa dentro de casa com tão bom tempo lá fora e, depois de medir a febre de Ariana e me certificar que ela estava bem melhor que dois dias antes, calculei que ficar um pouco no quintal não haveria problema. As borbulhas que preenchiam todo o corpo já não pareciam borbulhas, mas pequenas feridas que começavam a cicatrizar. Estava orgulhosa de Ariana por ter conseguido controlar tão bem a sua própria comichão, mesmo que, de vez em quando, cedesse.

Decidi que fazia sentido deixar Ariana correr um pouco pelo seu próprio quintal e, enquanto ela o fazia, ocupei-me a regar as flores que existiam naquele pequeno espaço verde. Existia um baloiço, com dois lugares, e Ariana correu até lá como se já não lá brincasse há meses. Os seus risos de contentamento não me escaparam, e fizeram-me rir, mas reguei as plantas até que decidi que estava um ótimo dia para brincarmos com a lã que eu tinha comprado no dia anterior. Sabia da existência de um chapéu de sol, algures na pequena dispensa da casa, e procurei-o apenas porque não queria que a menina apanhasse muito sol durante a tarde. Voltei para encontrar Ariana no baloiço, ainda a baloiçar, mas a falar com Alexandra, que estava do outro lado da vedação de madeira que rodeava a casa.

- Emma, olá! – pousei as coisas que tinha nos braços no chão e aproximei-me da mulher em questão.

- Vês, Emma? Fiquei longe da Tia Lexie! – exclamou, com um sorriso vitorioso. Gargalhei, mas assenti para a menina.

- Fizeste muito bem, Ari. Não queremos contagiar o Harry e a Nora, certo? – Ariana abanou a cabeça freneticamente, sem nunca parar de baloiçar. – Olá, Alexandra.

- Trata-me por Lexie. – e gesticulou a sua casualidade. Sorri-lhe. – O Harry e a Nora estão com o Connor e decidi passar por aqui, para ver como estão a correr as coisas.

- Hoje vamos aprender a tricotar. – admiti, com um riso suave. – Se quiseres, és bem-vinda também. Desde que mantenhas alguma distância da Ari, porque não temos bem noção do quão contagiosa ela ainda é.

- Claro! – Lexie soltou um sorriso enorme, que fez os seus olhos verde-esmeralda salientarem-se ainda mais. Os seus cabelos loiros abanaram com a vaga brisa. – Vou só dar a volta, está bem?

Tanto eu como Ariana assentimos e, quando Alexandra saiu do nosso campo de visão, ocupei-me a montar o pequeno espaço onde existia mais sombra. Estiquei um cobertor enorme na relva, para podermos estarmos sentadas no chão e coloquei uma manta mais pequena um pouco mais afastada, para Lexie se sentar. Ariana continuou a baloiçar sem qualquer preocupação no mundo e eu sorri, enquanto a observava e me certificava de que ela não estava a ir muito alto. Não queria que ela caísse, raspasse um joelho e Caleb ficasse ainda mais stressado com a saúde da sua filha – se havia algo que tinha aprendido na última semana, era que ele se preocupava. Demais, até.

Quando Lexie voltou, reparei que os seus braços estavam ocupados. Comecei a rir, ao perceber que ela tinha mesmo trazido algum tipo de sobremesa para nós. Adorei-a, naquele momento. Com exceção da minha mãe e de Lorena, quase ninguém na mina família tinha jeito – ou, melhor falando, o dom – de fazer bolos muito bons. Ambos os meus irmãos tinham passado por uma fase, juntos, em que queriam desafiar normas de género e aprender a cozinhar tudo o que havia nos livros de cozinha lá de casa. Em algumas coisas, eles eram bastantes bons, mas em bolos? Mal ficavam comestíveis.

- Se continuas a fazer isso, Lexie, vou rebolar para fora daqui. – brinquei, com um sorriso divertido no rosto.

- Não sejas tontinha, Emma. – Lexie abanou a cabeça – Não tenho tempo suficiente para isso.