Capítulo Três

27 6 68
                                    

A noite foi, por falta de melhor palavra, estranha. Não consegui fazer mais que mandar uma mensagem ao Emmett a explicar sucintamente o que tinha acontecido e a implorar para ele não contar aos meus pais, porque passei a noite toda junto da médica que a Polícia tinha pedido para mim. Não sabia até que ponto era aquele o seu processo habitual, mas a médica era simpática e manteve-me acordada durante toda a noite, por risco de eu ter uma concussão. Podia ter sido mais chato, mas ela passou todo o tempo a falar comigo e a tentar afastar a minha mente do meu irmão, que estava debaixo do mesmo teto que eu, embora eu não soubesse onde. Caleb tinha tentado que eu falasse com ele, mas não fora bem-sucedido.

A ideia de um homem que já era polícia, segundo o que Steve tinha referido antes de me deixar com a médica, há mais de quinze anos não conseguir puxar uns míseros cordelinhos fez-me rir, mas não me importei. O meu plano para aquela manhã era procurar Emerson, contactar a minha mãe – felizmente eu não vivia com os meus pais, mas sim com a única das minhas primas que decidira comprar uma casa em vez de arrendar um apartamento. Claro, ajudava o facto de ela ser modelo desde que éramos adolescentes e ter bem mais poder de compra do que qualquer um de nós, mas isso era irrelevante. O que era relevante era o facto de ela não me cobrar o mesmo montante de renda que qualquer outra pessoa, na sua zona, pediria.

Estava no processo de beber o segundo copo de água daquela manhã quando um bater soou na porta do pequeno escritório em que passara a noite. Não era bem um consultório médico, mas os kits de primeiros-socorros e a maca encostada a uma das paredes disseram-me que era utilizado frequentemente como tal. Levantei a cabeça do pequeno copo de vidro onde a água fresca e transparente esperava que eu a bebesse e esperei que a médica se levantasse para a abrir a porta. Durante a noite eu já me tinha mexido um pouco, mas sempre com ela a agarrar os meus braços – eu sentia-me bem, mas a médica era ela. O que é que eu podia fazer?

- Bom dia, Emma. – a voz de Caleb despertou-me da sonolência que me envolvia. Inconscientemente, sorri-lhe. Só o conhecia há menos de doze horas, mas ele inspirava-me confiança. E, de qualquer forma, era a primeira cara familiar que eu via depois de horas a conversar com a médica e com as paredes. – Como estás?

- Melhor. – garanti, numa voz baixa. Olhei para a médica, como que a pedir a sua confirmação. Ela sorriu-me e assentiu.

- Se tiveres quem te leve a casa, Emma, podes ir embora. – pensei, durante uns segundos, em quem eu poderia contactar para me ir buscar. Eram nove da manhã de um domingo e toda a minha família gostava de dormir até, pelo menos, ao meio-dia e a minha prima estava fora da cidade, para uma sessão de fotografias.

- Não posso esperar pelo Emerson? Quero falar com ele. – olhei para o Caleb, curiosa. Ele levantou um braço para passar uma mão pelos seus cabelos loiros e suspirou. Tive vontade de fazer o mesmo, porque o seu olhar estava um pouco derrotado, mas o que eu fiz foi levar o copo de água à boca e soprar lá para dentro. As bolhas fizeram-me rir.

- O teu irmão... - Caleb olhou num instante para a médica, como que a pedir-lhe autorização para entrar completamente na divisão, e deu dois passos em frente. Fechou a porta, devagar. – Ele tinha muito mais droga com ele do que todos os outros. Vai ser condenado por posse.

Arregalei os olhos. Consegui sentir-me a empalidecer. Não consegui evitar perguntar-me o que teria acontecido se eu não tivesse ligado para a esquadra, como era o meu hábito. Se o meu irmão realmente tinha droga consigo e não estava apenas a consumir...eu fiz uma boa ação. As coisas tinham evoluído sem eu notar – na última vez que conversara seriamente sobre os seus vícios, ele garantia-me que só consumia o que conseguia pagar e que só comprava quando ia consumir. Algures desde essa última conversa, os vícios de Emerson pioraram.

Laços de FerroOnde histórias criam vida. Descubra agora