Louis P.
Eu e meu pai estávamos no carro voltando para casa depois de um garimpo de duas horas na loja de ferramentas.
No meu colo estava uma enorme caixa preenchida de bugigangas e pequenas peças para completar a máquina do tempo de meu pai.Sim. Uma máquina do tempo.
O velho não era um homem de muitas crenças mas a única coisa que ele acreditava fielmente era no tempo - e no amor também, mas ele não fala muito sobre. Ele acreditava que nem sempre as pessoas pertenciam a época em que nasceram e mesmo que pertencesse, ele achava injusto que os nossos melhores momentos ficassem presos apenas no passado, solitários, sozinhos e "pegando poeira" em nossa memória. Era justo que de vez em quando voltássemos a aqueles momentos para nos sentirmos bem e vivos novamente. Era isso que meu pai defendia, e eu o ajudava.
Meu pai era juiz muito bom e um cientista nas horas vagas também. Era um cara muito inteligente. Nunca se envolveu na área da ciência na faculdade. Ele queria seguir os passos do avô que o criou e não se arrepende, tudo que ele sabe sobre a área científica foi a partir de livros antigos e experimentos que quase o mataram diversas vezes.
O tempo passou a navegar pela mente do meu pai quando ele completou 11 anos: O melhor dia da vida dele (depois do meu nascimento, de acordo com o mesmo). Ele estava tão feliz em seu 11° aniversário e faria de tudo para voltar naquele dia. Todos os seus amigos estavam ali, seus pais e familiares também. Ele ficou mais empolgado com a presença da mãe e do pai do que com o resto já que eles viviam viajando então nunca tinha tempo para o filho e entupiam ele de coisas materiais para saciar a ausência. Papai também ganhou os melhores presentes dele aos onze: Um telescópio do avô e uns dez livros de Galileu sobre astrologia e a história da ciência. Ele os guarda com todo cuidado do mundo.
Aos 12 ele já tinha o projeto da máquina pronto. Demorou três meses para construir. Três meses perdidos já que a primeira tentativa havia sido falha, mas ele não desistiu, até que completou 16 anos e os caras de 16 anos não tem os mesmos interesses de uma criança de 12. Conforme os anos iam se passando, ele ia ficando mais desanimado com as máquinas falhas e resolveu viver a adolescência como um adolescente comum e começou a namorar.Ele voltou com o projeto assim que eu nasci pois de acordo com ele, eu era um sinal. Um sinal de que a máquina do tempo daria certo. Eu nunca entendi muito bem o porquê disso mas fico feliz em ser a motivação do meu pai para algo bacana e grande.
- Quer passar naquela lanchonete que você gosta? - Ele perguntou sem tirar os olhos da estrada.
- Pode ser! - Me forcei a sair do meu mundo para responder. Quando tomei consciência das coisas ao redor, pude ouvir com clareza a música que tocava na rádio. - Que música boa... A voz dessa moça é muito bonita.
- Sim... - Ele deixou um sorriso escapar antes de prosseguir - É uma cantora do meu tempo, ela tem uma das vozes mais bonitas que eu já ouvi.
Tirei do porta-luva a capa do cd da música que tocava, analisando todo o repertório na parte traseira até chegar na parte frontal onde a foto de uma moça - não muito mais velha que eu - se destacava, pousei meus olhos sobre o seu rosto delicado, completamente hipnotizado.
Era a menina mais linda que eu já tinha visto em toda a minha vida.
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TIMELESS, Louis Partridge.
JugendliteraturO pai de Louis, um cientista amador, volta a trabalhar num antigo projeto de máquina do tempo e acaba enviando seu filho para os anos 80 onde ele conhece S/n, uma cantora iniciante e antigo amor de seu pai.