Louis P.
Eram sete e meia e eu já estava no ponto onde marquei com Sarah ontem. Estava parado aqui há pouco menos de 15 minutos e o pensamento negativo já corroía minha mente.
Talvez ela tenha dito que viria só para eu parar de encher o saco.
Tentei não pensar muito nisso mas era difícil. Continuava escorado na casinha azul, roendo o resto das minhas unhas e olhando o movimento da rua. Como era o primeiro dia de aula, muitos carros passavam por ali, assim como alguns adolescentes de bicicleta e até a pé que estavam a caminho da escola. Lembrei que hoje também era o meu primeiro dia de aula no "futuro". Nem sei qual seria a desculpa que meus pais dariam para a minha falta de dois meses.— Ei, moleque. — Ouvi a voz feminina já conhecida que fez eu dar um pulo de susto mas também fez a tensão dos meus ombros diminuir. Ela não tinha me deixado na mão. — Foi mal a demora, acabei acordando tarde.
— Tudo bem. Vamos?
— Vamos. E já vá formulando uma história bem boa pra me contar o motivo de sua mãe ou pai não estarem aqui.
Senti meu coração errar uma batida.
Não sabia o que falar pra ela.
Meu pai me disse para falar que eu tinha fugido, mas não queria mentir para Sarah mesmo conhecendo ela a pouquíssimo tempo. Seria bom ter alguém para confiar em meio a isso tudo, para que eu pudesse desabafar sobre o que acontece aqui.
— Você acredita em ciência? — Dependendo da resposta dela, eu falaria a verdade.
— As justificativas da ciência são melhores do que as do cristianismo. — Ela deu de ombros deixando um riso nasal e eu sorri. — Por que?
— Acredita em viagem do tempo? — Tomei coragem para perguntar.
— Por que tá me perguntando isso? Não vai me dizer que você é de 2070 e eles inventaram máquinas.
— Um pouco menos. — Ela parou de andar e me olhou, analisando muito bem o meu rosto. Me senti intimidado. — 2021?
— Tá me dizendo que você veio desse ano? — Eu fiquei em silêncio, esperando ela deduziu. Ela apenas riu. — Conta outra... Você fumou maconha antes de vim pra cá? Você acha isso certo? — Ela puxou minhas pálpebras para cima e analisou meu olho, acho que para ver se ele não estava vermelho.
— Eu não uso essas coisas! Você acabou de dizer que acredita na ciência. — Desviei meu rosto de suas mãos.
— E eu acredito! Mas é diferente quando uma amostra da ciência está aqui na sua frente.
— Então você acredita que eu seja do futuro?
— Mais ou menos. — Ela voltou a andar. — Seu linguajar é estranho, suas roupas são estranhas, você não fuma e ainda me perguntou em que ano estávamos. Se você não é do futuro, você provavelmente usa as mesmas coisas que o Stephen King ou o Jim Morison usam... Ou usavam né. — Ótimas comparações, Sarah. — E como você é bem nerdzinho e bem virgem. Com certeza é fissurado nessas coisas científicas.
Pela segunda vez aquele dia, meus ombros amoleceram. Mais um peso fora embora sem nem dizer tchau.
Continuamos andando e não demorou muito para chegarmos até a escola. Passamos por mais adolescentes eufóricos até chegarmos a sala do diretor onde Sarah resolvia a parte da burocracia enquanto eu esperava na parte de fora. Os dois saíram do cômodo cor-de-creme, Sarah falou que estava tudo certo e que qualquer coisa, o número dela estava salvo na diretoria. A agradeci com um sorriso no rosto e recebi uma mão bagunçando meus cabelos. Ela seria uma companheira e tanto.O diretor me deu o papel com os horários e a senha de meu armário e me deu os livros. Fui até o andar superior onde estavam as salas e procurei o armário 218 que seria meu pelos próximos 2 meses. Teria aula de história agora, então, peguei os materiais que eu precisava e fui a procura das salas que me custou cinco minutos andando adoidado pelo corredor.
Entrei na sala e tive que me apresentar na frente de toda a classe. Como eu odiava aquilo.
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TIMELESS, Louis Partridge.
Novela JuvenilO pai de Louis, um cientista amador, volta a trabalhar num antigo projeto de máquina do tempo e acaba enviando seu filho para os anos 80 onde ele conhece S/n, uma cantora iniciante e antigo amor de seu pai.