UM BOM AMIGO

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Mirella Fernandez

A manhã daquele dia passou me atropelando, não consegui tempo sequer para tentar falar com Stéfani e até onde fiquei sabendo ela não tinha comparecido as aulas daquela manhã. O clima na faculdade aquele dia não estava dos melhores. Após as aulas, fiquei em casa analisando um papéis que meu pai queria que eu desse uma olhada e quando terminei decidi ir até a empresa, aquela era a forma perfeita de distrair minha mente.

Cheguei no andar do meu pai, não encontrando sua secretária em sua mesa, o que me surpreendeu, ela sempre estava lá.

Dei duas batidinhas rápidas na porta de sua sala e entrei encontrando os dois se separando os mais rápido que conseguiram. Abri a boca em surpresa, me desculpando e fechando a porta novamente em seguida. Deixei os relatórios ali em cima da mesa de Verônica e peguei o elevador novamente, tentando me recompor como pude.

Verônica era bonita, casa dos trinta e poucos anos e solteira. Aquilo me parecia bem óbvio agora.

Eu não vou dizer que nunca havia suspeitado dos dois, é claro que eu já vinha há algum tempo achando que algo podia estar acontecendo e não julgava meu pai, ele era viúvo há sete anos, além de ser rico e ter seu charme, aliás havíamos puxado muito dele.

Sinceramente eu não me importava, mas eu não estava preparada para ver outra mulher substituindo o lugar da minha mãe na vida dele. Aquela possibilidade entrava em mim como uma facada.

Preferi não ir para o apartamento, lá seria o primeiro lugar que ele me procuraria, então dirigi um pouco sem rumo, sem saber exatamente para que onde ir, meu pai me ligou três vezes. Eu não estava preparada para falar com ele. Quando me dei conta estava em um bar que a turma costumava muito ir, eu não bebi, não a princípio.

Meu celular tocou novamente, verifiquei quem era e o atendi.

- Onde você está? O papai tá louco preocupado, pra você ter uma ideia ele até me ligou. - meu irmão falou brincalhão.

- Eu tô bem, não se preocupa. - Pedi e coloquei minha mão na cabeça, não que ele pudesse ver.
Vi a figura loira se sentar ao meu lado e deixar um beijo no meu rosto.

- Tem certeza? - A voz de Muryllo chamou minha atenção do outro lado da linha.

- Tenho! - Falei tentando acreditar na minha própria mentira.

- Pegar o papai no flagra com outra mulher pode ser bem traumático. Eu sabia que você não ia reagir bem. - Ele falou um pouco mais sério que o habitual agora.

- Eu tô bem Mu! Só não esperava. - Falei não querendo falar sobre, mas estava curiosa. - E pra você?

- Pra mim o que? - Perguntou  também curioso.

- Está tudo bem ele estar com outra mulher? - Aquelas palavras ditas por mim mesma em voz alta doeram.

- É claro que está! Ele errou em muita coisa, nos pressionou demais. Mas sempre se dedicou muito a nós dois, ele merece poder começar com outra pessoa sabe? A mamãe também ia querer isso! - Meus olhos se encheram de lágrimas, eu não consegui responder nada. - Mi? - Meu irmão chamou.

- Depois a gente se fala tá? - Foi o que conseguir dizer.

- Mi? - Chamou de novo. - Nada muda entre nós três, nada apaga as memórias que tivemos com a mamãe. Fica bem. - Falou e eu apenas respondi com um "tudo bem" desligando o telefone em seguida. Fiquei quieta por alguns segundos.

Eu queria correr para Stéfani, queria ter um momento em paz com ela e dizer tudo o que eu estava sentindo naquele momento, mas como ela me receberia?

Nossa última conversa havia deixado claro a sua falta de confiança em mim e aquilo havia me machucado também.

Eu não precisava de mais daquilo. Então optei por continuar onde eu estava e dessa vez pedi uma dose.

- Eu conheço esse olhar. - Biel falou ao meu lado, eu até tinha esquecido da sua presença.

- Claro que conhece Ga! - Quando adolescentes nós passávamos tempo de mais juntos, nunca havia ficado, mas não por falta de querer da parte dele, eu podia dizer que ele me conhecia bem.

- O que tá rolando? - Perguntou cruzando os braços.

- Eu não quero falar disso, eu vim aqui justamente pra esquecer, mas ninguém está colaborando muito bem! - Falei sabendo que não havia sido a pessoa mais educada do mundo, mas eu realmente queria esquecer o que sentia naquela hora, virei a dose que o garçom colocou na minha frente, sentindo o líquido rasgar minha garganta.

- Bom, então eu posso te ajudar. - Falou mostrando o pino de cocaína que havia acabado de tirar do bolso.

- Você anda com isso pra cima e pra baixo mesmo? - Perguntei um pouco chocada.

- Na verdade não, mas parece que eu costumo acertar os dias que vou precisar. - Falou dando de ombros.

- Você não é um bom amigo. - Falei negando com a cabeça, começando a pensar naquela possibilidade.

- BadMi, a gente se conhece a tempo o suficiente pra você saber que eu gosto de aproveitar a vida. Gosto que as pessoas que eu amo também aproveitem e outra, eu não sou um viciado. Eu uso quando eu quero ou quando eu quero não lembrar das coisas. - Falou tranquilo sorrindo, aquele sorrisinho dele nunca sumia. Naquele momento aquilo estava me irritando.

Eu não vou mentir, a sensação de não pensar em mais nada e ter outros sentimentos me deixou tentada e me sentindo um lixo. Eu lutei durante todo o tempo que estava ali com ele para não aceitar e por fim o que foi que aconteceu?

Isso mesmo, eu acabei usando. Não é porque Biel quem havia me oferecido que ele parecia satisfeito, na verdade ele parecia culpado após ver que não havia resolvido muita coisa.

Se era para que eu me sentisse melhor aconteceu exatamente o contrário. Eu me senti péssima e suja.

Não era a primeira vez que eu usava, não era a primeira vez que minha mente me julgava, nem que eu pensava que as pessoas que mais amava se sentiriam horríveis me vendo daquela forma. Me senti estúpida por não me segurar, por não ser e não ter a perfeição que muitos esperavam. Eu sabia que era bem melhor do que tudo aquilo.

Saí dali um pouco alta, nada exagerado. Eu sabia que meus olhos denunciavam o meu uso, mas tinha total consciência de tudo o que havia feito. Deveria ser por volta das oito da noite quando cheguei no apê, Leticia não estava ali. Eu tomei um banho longo, colocando um conjunto nem quente e nem fresco de moleton e entrei no meu carro novamente.

Parando dessa vez em frente a casa da minha namorada. Eu não queria forçar a barra e nem chateá-la, naquele momento eu só precisava vê-la, nem que fosse de longe. Fazer o que eu não havia tido coragem para fazer mais cedo. Se eu tivesse ido até ela ai invés de fugir, eu não estaria tão arrependida agora.

Mas eu não tive coragem de ir até sua campanhia. Fiquei dentro do meu carro por um bom tempo me perguntando se eu deveria fazer aquilo, novamente os pensamentos encheram a minha mente e eu me segurei como pude.

Peguei meu celular discando seu número, até ouvir sua voz do outro lado da linha. Foi impossível não sentir todo o peso daquele e dos último dias.

Eu queria muito sumir.

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Oi nenéns,
meio bad o capítulo. Não façam nada disso em casa ou fora dela.

Como vocês acham que a Teté vai receber a Mi?

Autora ama vocês!

O lugar que o amor pisou - SterellaOnde histórias criam vida. Descubra agora