Emmett cobriu a boca e o nariz com ambas as mãos, rezando em silêncio. O som de ténis a derrapar no chão com as mudanças bruscas de direção e os gritos, tanto de atletas e treinadores como da assistência, preenchiam o ambiente do pavilhão. Contudo, os ouvidos do jovem não eram capazes de captar nada, de tão concentrado que estava em seguir com os olhos os movimentos da morena vestida de verde e amarelo.
O seu braço direito era rápido, cortando o ar em todas as direções com uma precisão invejável. O volante obedecia aos seus comandos na grande maioria das vezes, procurando cair nas áreas abertas do outro lado da rede. Mas a adversária da australiana, vestida de amarelo e vermelho, tinha pés rápidos e utilizava toda a extensão do campo sem dificuldade.
O jogo estava renhido. O marcador assinalava 18-15 no terceiro set e ambas as jogadoras tinham a estamina por um fio. A australiana, Leah Harris, ganhara o primeiro set. A chinesa, Li Yin, vencera o segundo e estava agora, lenta mas claramente, a liderar o terceiro.
Leah recuperou três pontos antes de um erro de cálculo e um mau serviço a colocarem à beira da derrota. Emmett reprimiu um grito de conselho, desviando o olhar para o selecionador nacional no fundo do campo da australiana. A sua ansiedade era visível.
20 - 18.
A tensão naquele court era de cortar à faca. Quem vencesse aquele jogo teria oportunidade de disputar a medalha de terceiro lugar.
A chinesa serviu e Leah devolveu o volante tão rápido que quase nem foi possível vê-lo. Emmett acompanhou o movimento das pernas delas com mais atenção do que o objeto que sobrevoava a rede durante os quase dois minutos que se seguiram. Porém, ele viu. A raquete estava separada do volante por uns escassos milímetros. Mas a mulher, mesmo tendo esticado todo o corpo, não foi capaz de o apanhar.
E assim, o set terminou com a vitória chinesa.
A vila olímpica era espaçosa, com inúmeras áreas verdes entre os prédios que, depois dos Jogos, seriam usados para habitação da população da cidade W. Os atletas que não estavam em treinos ou provas encontravam-se espalhados pelo espaço, aproveitando o sol e o wifi gratuito para acompanhar os eventos desportivos pelo telemóvel.
Emmett estudava a multidão que passava a partir do seu lugar no jardim à porta de um dos dormitórios para os atletas. Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, a pessoa que procurava apareceria. Ela tinha o hábito de correr para o chuveiro do quarto para afogar as mágoas sempre que as coisas não corriam como ela tinha planeado.
— Leah! — chamou de repente, ao reparar que a mulher se aproximava.
Os olhos dela, um pouco apáticos e brilhantes, encontraram-no e as suas pernas elegantes e compridas, ainda que cansadas, levaram-na até ele.
Emmett abriu os braços quando ela se chegou suficientemente perto. Leah colocou o saco no chão ao lado das rodas da cadeira, sentou-se no seu colo e enterrou a cabeça no peito do namorado, soltando as lágrimas que estivera a conter desde que perdera.
Emmett abraçou-a com força, afagando o seu cabelo com uma mão e desenhando pequenos círculos no fundo das costas dela com a outra.
— Estiveste muito bem — sussurrou, com a boca encostada ao ouvido dela. — Estou tão orgulhoso de ti.
Leah chorou à vontade, sentindo o calor e o carinho do Emmett a envolvê-la como um cobertor. O seu telemóvel vibrou no bolso do casaco da seleção australiana, mas ela ignorou-o. Tudo o que ela queria era soltar a sua frustração ao mundo e acolher em troca todo o apoio e toda a familiaridade que abraço do namorado lhe oferecia.
Eventualmente, o telemóvel dele tocou também, mas Emmett desligou a chamada sem precisar de olhar o mostrador. Se ele fosse ao treino, não seria capaz de se concentrar. Mais lhe valia ficar ali, com Leah nos braços, do que deixá-la a chorar sozinha e correr para um pavilhão onde não estaria presente de corpo e alma. Jethro, o seu treinador, poderia fazer o sermão que quisesse depois.
Quando as lágrimas da jovem acabaram, ela levantou a cabeça devagar, procurando os olhos de Emmett. A primeira coisa que viu foi um sorriso doce que lhe era dirigido. Depois, ignorando a tentação de beijar aqueles lábios, continuou a subir o seu olhar até encontrar as íris verdes que transbordavam ternura e preocupação.
Ele sabia que aquela era a segunda participação da namorada nos Jogos Olímpicos. E ainda que um quinto lugar fosse melhor que uma não classificação, Emmett sabia que Leah não estava nada satisfeita com o resultado. Haveria tempo para ela compreender que aquela classificação não era, de todo, horrível. Mas, naquele momento, algumas horas depois da derrota, a tristeza e a frustração falavam mais alto. E ele queria ter a certeza que ela não se afogava naqueles sentimentos.
Emmett inclinou-se, beijando-lhe os olhos e o trilho das lágrimas, beijando o nariz e as maçãs do rosto, beijando as bochechas e o queixo, deixando o melhor para o fim. A impaciência de Leah evaporou-se quando o namorado a puxou para um beijo lento e delicioso, tal como ela gostava. Eles beijaram-se, uma e outra vez, esquecendo-se por completo de que estavam em público. Os sentimentos que queriam transmitir um ao outro e as sensações que viajavam pelos seus corpos eram mais importantes do que tudo o resto.
Emmett acabou por quebrar o beijo, deixando a namorada acalmar a respiração enquanto lhe beijava a testa carinhosamente.
— Eu amo-te — disse ele, esfregando o seu nariz no dela.
Leah ajeitou a sua posição no colo do namorado para o poder abraçar confortavelmente. Depois, encostando as suas testas, repetiu o gesto do Emmett.
— Eu também te amo.
[987 palavras]
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Se não podes andar, voa ✔
Short Story🥉 ᴄᴏɴᴛᴏ ᴠᴇɴᴄᴇᴅᴏʀ ᴅᴏ ᴛᴇʀᴄᴇɪʀᴏ ʟᴜɢᴀʀ ᴅᴏ ᴅᴇꜱᴀꜰɪᴏ 24 ᴅᴏ ʀᴏᴍᴀɴᴄᴇʟᴘ ꜱᴏʙʀᴇ ᴏꜱ ᴊᴏɢᴏꜱ ᴏʟÍᴍᴘɪᴄᴏꜱ. Emmett Welsh joga badminton desde criança. O seu mundo, que girava em volta do desporto, parece congelar e ruir quando uma doença, escondida na sua árvore gene...