— Vai correr tudo bem — disse Leah com um sorriso. As mãos dela estavam apoiadas nas rodas da cadeira dele e os seus rostos estavam muito próximos. — Só precisas de fazer o que sabes. O resto resolve-se sozinho.
Emmett queria acreditar nela, mas os nervos ainda o mantinham cético. A grandiosidade daquele evento desportivo parecia ser mais do que ele conseguia suportar, deixando-o desconfortável.
— Foi para isto que treinaste nos últimos anos. Pensa que não vais fazer nada de novo.
O jovem acabou por retribuir o sorriso dela. Não era a primeira vez que competia numa cadeira de rodas ou, de outro modo, não teria ganho pontos suficientes para estar ali. Só tinha que encarar aquela competição como encarava as outras e o que tivesse de acontecer, aconteceria.
Leah sentiu as dúvidas dele a dissiparem e acabou com a distância que os separava, beijando-o. As mãos de Emmett subiram automaticamente para a parte de trás da cabeça dela, segurando-a para que ela não fugisse. Leah tentou afastar-se quando percebeu que ele estava a aprofundar o beijo, ao ponto de parecer que ela era o próprio ar de que ele dependia para sobreviver. Emmett tinha que ir andando para ter tempo de se concentrar antes da sua prova e ela precisava de ir para a bancada.
As mãos dela capturaram as dele, retirando-as do seu pescoço. Emmett percebeu que estava na hora e deixou que a namorada terminasse o beijo com pequenos bate-chapas nos seus lábios. Depois, Leah afastou-se dele e puxou as suas mãos entrelaçadas para a sua boca, depositando um beijo nas costas da mão direita dele.
— Para dar sorte — esclareceu, perdendo-se na floresta que habitava os olhos dele.
Emmett não conseguiu conter a gargalhada. Ele tinha feito o mesmo numa das semanas anteriores, horas antes da competição dela começar.
Um conjunto de passos pesados aproximou-se e o homem parado ao lado do casal pigarreou, interrompendo a troca de olhares.
— A família manda beijinhos para os dois — disse o homem baixo, apontando para o seu telemóvel antes de o guardar. — Está tudo colado ao ecrãs a mandar boas energias, apesar do fuso horário. Todos acreditam em ti, Em. Boa sorte!
Anthony baixou-se para abraçar o irmão mais novo e Emmett sorriu com o aperto. Anthony tinha sido o único a conseguir fazer coincidir as férias do trabalho com os Jogos. Mas mesmo que ele não tivesse mais nenhum familiar presente na cidade W, Emmett sabia que o resto da família estava em casa, a apoiá-lo pela televisão e a torcer por uma boa prova. E isso era suficiente.
Leah e Anthony despediram-se de Emmett antes de irem para as bancadas do estádio. Ainda faltavam algumas horas para as provas do escalão em que o moreno competia começarem, mas havia tanta coisa para ver, que eles não teriam que esperar no tédio.
O jovem virou a cadeira no passadiço no extremo da vila olímpica, dirigindo-se para onde o treinador e os colegas o esperavam para uma última reunião de equipa. O nervosismo que o tinha estado a corroer desde que acordara não tinha desaparecido, mas estava muito mais fraco. Saber que todos os que amava estavam a torcer por ele, independentemente da distância, dava-lhe uma enorme confiança e vontade de ganhar.
Quando, naquela noite de quarta-feira, Emmett ligara para Leah a dizer que a sua vida tinha acabado, ele estava longe de saber que aquilo não era verdade. As notícias que o médico lhe tinha dado devastaram-no ao ponto de o fazer pensar que tinha perdido o futuro que lutara por construir. Não ajudava ao seu desespero perceber que o esforço não era capaz de o fazer ultrapassar aquele obstáculo e que mais nenhum dos seus colegas tinha o mesmo problema.
Depois do diagnóstico, em negação, Emmett forçou-se a treinar. O seu treinador não o impedia de aparecer nos treinos, limitando-se a encorajá-lo a levar as coisas com calma e a fazer pausas frequentes. Eventualmente, o jovem passou a treinar apenas no seu quintal, sozinho ou com a ajuda do irmão mais novo. A vergonha de ser incapaz de se mexer como os outros e de controlar as próprias pernas era demasiado grande, roubando-lhe a coragem de aparecer à frente dos amigos e colegas de equipa.
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Se não podes andar, voa ✔
Short Story🥉 ᴄᴏɴᴛᴏ ᴠᴇɴᴄᴇᴅᴏʀ ᴅᴏ ᴛᴇʀᴄᴇɪʀᴏ ʟᴜɢᴀʀ ᴅᴏ ᴅᴇꜱᴀꜰɪᴏ 24 ᴅᴏ ʀᴏᴍᴀɴᴄᴇʟᴘ ꜱᴏʙʀᴇ ᴏꜱ ᴊᴏɢᴏꜱ ᴏʟÍᴍᴘɪᴄᴏꜱ. Emmett Welsh joga badminton desde criança. O seu mundo, que girava em volta do desporto, parece congelar e ruir quando uma doença, escondida na sua árvore gene...