FIO DE CABELO

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Parte 1

O barulho da pá era o único som que se ouvia naquela parte do bosque onde o homem estava... lágrimas se misturavam à  poeira que cobria o rosto daquele que cavava... ele olha, a profundidade ainda não era suficiente...
O som de pássaros anunciam que o amanhecer estava próximo..._Maldição! O amanhecer do dia lembrava o nome dela. Maldição! Esquecerei isto também? Esqueceria a sensação do suor de seus corpos depous de fazerem amor? Poderia colocar isto em uma caixa para que fosse enterrado? Era inútil...
Finalmente o buraco ficou adequado... caberia as lembranças dela...
Na caixa de madeira do tamanho das destinadas a sapatos estavam, o vestido velho  verde escuro do noivado , o símbolo do infinito deixado para trás,  o bilhete do hospital, os pedaços da caneta que brutalmente ele quebrou, as fotos, antes de fechar a caixa ele olha uma a uma, a pulseira, o anel de compromisso,  a aliança, a pequena presilha de cabelo, o fio de cabelo que o fez tomar a decisão  de pegar o carro e vir até  o bosque. A caixa agora envolvida por um saco plástico jaz no fundo da pequena cova e na esperança de apagar suas memórias  boas e ruins vividas com a única mulher para quem um dia ele abriu a porta do amor. A pá  volta a fazer o barulho e a terra é  colocada de volta, o objeto some debaixo da terra... as lágrimas não cessam... O sol nasce... mais um dia na conta da vida solitária que vivia... já  eram dois anos... A cada dia que nasce mais distante dela Yamam se sente... Dois anos, 730 dias... a dor? Esta dor só  aumenta...
Na região do Mar Negro... em uma pequena escola rural  professora abre a porta para os pequeninos entrarem... eram doze crianças em idade de alfabetização, dentre elas Yusuf seu sobrinho. Que tinha agora sete aninhos... desenvolveu um talento nato por criar contos e na forma infantil entre palavras e desenhos os escrevia. SEHER reconhecendo o talento da criança, enviou cópias  dos manuscritos a  uma editora...
No fundo da sala de aula uma linda menina dormia ... agora com um ano e cinco meses, olhos verdes e cabelos pretos cacheados como os de Yusuf.
A noite chega... A mansão deixou de ser um lar... nada tinha sabor, cor ou vida. Ziah se fechou em seu mundo, depois que Ikbal foi expulsa de casa por armar junto com a engenheira da empresa um flagrante falso onde Seher encontrou Yamam nu no escritório  com a mulher em seus braços, alertado por Nedim ele fez exame de sangue onde acusava que havia sido dopado, mas ao voltar para casa ela já  havia partido, desde então  a busca sem sucesso. Os empregados também sentiam falta de Yusuf e Seher. Faltava doçura, faltava  o som de vozes e risos... Faltava a razão da alegria de todos. 
Apagam-se as luzes ao chegar a hora
de ir para a cama, 
ele começa a esperar por quem ama na impressão de que ela venha se deitar... O cheiro dela não esta mais nos lençóis, eles lavaram, Yamam  enlouqueceu no dia que o  fizeram, quebrou tudo que viu pela frente precisou ser contido por Nedim que ao ser chamado, trouxe um médico que aplicou um tranquilizante no amigo. Para amenizar a saudade ele borrifa do perfume da mulher amada que restou no frasco no travesseiro. Entre os paletós ele busca vestígios do cheiro dela e no afã de encontrar,  outro fio de cabelo é  descoberto, este vai para a gaveta ... Maldição!!! Enterrei as coisas e aqui estou eu em busca de mais. Preciso esquecer, preciso esquecer... atormentado com seus pensamentos, adormeceu...
Os três estavam em casa quando Cem chama à   porta, ele tinha nas mãos um envelope.
_Seher, chegou endereçada a você  lá em casa.
_ Você é  um homem muito ocupado para se ocupar com minhas correspondências meu amigo. Cem era o proprietário da Fazenda onde Seher lecionava. Ele a contratara assim que ela chegou na cidade, o anúncio de emprego estava no quadro de avisos da rodoviária  Na época ainda não sabia da gravidez, ele e os pais a acolheram, na cabana da fazenda ela se estabeleceu  e se sente em paz naquele mundo que criou. O que ninguém sabia era que na solidão da noite ela chorava até  adormecer. A dor da traição  não se amenizava, ela se entregou a ele incondicionalmente e novamente ele a jogou do alto e desta vez a queda foi devastadora.
Voltando ao envelope...  era a resposta da editora, eles publicaram o livro infantil de Yusuf mas precisavam da assinatura dos pais.
Voltar a Istambul, voltar a ver Yamam era no mínimo  doloroso. Mas Yusuf merecia isto, não poderia enterrar o talento dele assim. Ela resolve engolir o orgulho.
Na mansão... Uma picape adentra os portões... Cenger é  avisado, prontamente se posiciona à  porta. Yusuf desce imediatamente e salta nos braços do amigo irmão Cenger. _Pequeno mestre, que saudade!
_Onde está meu tio, Cenger?
_No escritório  pequeno Senhor.
Ele sobe em disparada.
No escritório  imerso no trabalho Yamam dá  um salto ao ouvir a porta abrir e bater devido a força nela dispensada. Seus olhos parecem lhe pregar uma peça,  Yusuf sorridente estava do alto dos degraus olhando para ele.
_Tio! Que saudades tio. Ele corre e abraça Yamam que ainda incrédulo não encontrou forças para  se levantar. _Sentiu minha falta tio?
_Muito Pacha, muita falta.
Eles ficaram ali, se abraçando até  que Cenger entra e anuncia que Seher estava na sala e o aguardava.
_Vem tio, vem conhecer  minha irmãzinha.
_Você  tem uma irmãzinha Pacha? Ele perguntou enquanto desciam.
Na sala o tio encontrou a mulher amada sentada no sofá  conversando com Adalet, Nelishan e Cenger, sorria até  que viu perto da porta de acesso à  varanda um homem  com uma criança  no colo. O sorriso sumiu, os punhos foram apertados e a mão direita apertava o braço esquerdo, ele estava com ciúmes ao pensar em sua amada nos braços de outro...
_Bem vinda.
_Obrigada.  Tenho um assunto urgente, pode me receber?
_Com certeza. Não vai me apresentar o seu companheiro.
_Que descuido o meu. Cem, este é  Yamam o tio  de Yusuf e Cem, é  o proprietário  da fazenda onde trabalho.
O amigo estende a mão  mas Yamam apenas acena com a cabeça  deixando no ar o cumprimento.
_Querida, vou esperar no carro é aproveitar para trocar a frauda de Asli ( sig. real, genuíno).
_Tudo bem, obrigada.
_Está frio lá fora, Adalet, leve o senhor para o quarto de Yusuf para higienizar a criança e o auxilie.
_Sim senhor. Por aqui, senhor Cem, vamos Yusuf.
Eles sobem depois que Seher tranquiliza o amigo com os olhos.
_Pelo jeito vocês se comunicam sem palavras
_São dois anos de convivência  Yamam, normal acontecer.
_Não para uma mulher casada.
_Não tenho nenhuma disposição de discutir sobre isto. Se fizer questão  podemos lembrar de uma manhã no escritório da empresa... Tem certeza que falaremos sobre isto, aqui é agora?
_Podemos sim.
Seher se cala, respira fundo, uma, duas, três vezes. _Cem, te espero no carro, não  demore por favor. O tom de voz era quase um grito. _Venha Yusuf, temos que ir. 
Em passos largos  a mulher se dirige à  porta mas é  alcançada pelo marido que a puxa pelo braço.  _Venha, vamos conversar, qual o assunto a trouxe aqui.
Ela suspira. _Yusuf é  o assunto. Seher conta da edição do livro somente com a autorização  dos dois, argumenta sobre o talento da criança e da motivação  que isto seria para ele.
_Tudo bem, eu assino. Quando será  a reunião ?
_Amanhã.
Cem desce. _Vamos? Resolveu tudo?
_Resolvi sim. Vamos.
A dor de vê-los saindo mais parece um punhal sendo gravado na carne de Yamam, mas não suportaria ver Seher com aquele homem. Este era o pensamento dele até  ouvir o homem dizer que iria deixá-los no hotel e seguiria viagem de volta para sua cidade.
_Fiquem aqui. Assim Yusuf mata saudades de todos e vice versa.
_Tia, podemos?
Os adultos se entreolham, fique,  será  melhor para todos. Tenho certeza disto. Volto para buscá-los assim que chamar.  Confie em mim e fique.
_Me ligue assim que chegar.
Ele abaixa beija Yusuf, entrega a bebê para a mãe depois de beijá-la. Interfone dele toca. _Mamãe, estou voltando, não,  Seher ficará.  Ela sabe que somos sua família mamãe. Fala para o pau que eles estão em segurança. O homem faz cara de quem pede desculpas. Seher sorri com carinho e pede telefone.
_Senhora Banu, não se preocupe estamos bem e em breve estaremos de volta   eles estão agasalhados. Te amo também é obrigada pelo carinho. Até  logo.
_Ela te ama garota, na verdade ama aos três. Até logo. Ele vai após entregar as malas a Cenger.
_Obrigada tia. Muito obrigada agora posso ir para o jardim ver o tio Ziah?
_Pode mas coloque o casaco, está frio. Já  vou lá  ver deu tio   também. Ali chora. E só então Yamam olha para a menina. Os olhos verdes da mãe  mas o resto não era dela. A quem teria puxado a menininha? Este era o pensamento dele quando ouve Cenger o chamando. Nem viu para onde Seher  tinha ido.
_Senhor onde coloco as coisas da senhora?
_Não sei Cenger. Por mim, no meu quarto  de onde nunca deveria ter saído. Com quem ela se parece Cenger?
_A bebê? Não sei senhor ainda não reparei mas farei isto. Ligue para Nedim, convide-o para jantar.
Pergunte à  Seher onde deve colocar as malas.
Ela volta ao quarto  antigo com Asli. 
À  mesa do jantar, família reunida. Asli no colo  de Ziah  estava sorridente. _Olha Yamam, ela gostou de mim. É  linda parece com você.
_Também achei Ziah. Somente os olhos são da mãe.
_Ela é  adotada Ziah. Mas realmente tem certa semelhança. Foi amor à  primeira vista.
_É  linda Seher. Tirar paz como Yusuf e você.
_Obrigada Irmão Ziah.
Nedim, Yamam e Cenger trocam olhares, algo estava estranho ali. Asli chora e Seher a pega.  É sono, preciso colocá-la para dormi. Adalet, vou me recolher, ajuda Yusuf para mim.
_Sim senhora, será um prazer.
Os três amigos após o jantar se trancam no escritório,  decidem verificar a voracidade sobre a paternidade da criança.
_Ela é minha, eu sinto. Minha família está  em casa e não vou perde-la mais.
_Deixe conosco. Um de nossos homens esta seguindo o sujeito que os trouxe. Tem aquele fio de cabelo dela? Ele pega a preciosidade que encontrou na noite anterior e o estende diante deles.
_Este?*
_Cenger, onde esta o fio de cabelo que arrancou do bebê enquanto estava no colo de Ziah? Ele entrega. _Tadinha, chorou de dor. Ele coloca cada um deles separados e por último. _Agora o seu meu amigo.
_Tire todo o mau cabelo quero minha Seher de volta.
Os três sorriem e se despedem.
De madrugada Seher acorda, Asli não está a seu lado, olha no chão  imaginando que pudesse ter caído, também  não a encontra. Sai à sua procura.  A porta do escritório  está  entreaberta. Como se pudesse em ovos ela entra, da porta do quarto vê pai e filha dormindo, ela agarrada ao dedo dele**. Lágrimas brotam seus olhos que senta no sofá que já foi sua cama um dia. Adormece.
A luz do sol clareia o quarto. Yamam admira sua esposa que dorme ao lado de Asli, a menina chorou e Seher não acordou ele ouviu, a pegou, junto com Adalet deu a mamadeira e depois a deitou em sua cama. Acabou dormindo,  ao acordar viu a esposa registada no sofá, a pegou no colo e trouxe para cama a cobrindo.
Asli acorda e para que Seher descanse a pega e sai.
Auxiliado por Adalet, dá mamadeira e banho,  para a menina. Yusuf também  ajuda. Seher só corredor escuta risadas no quarto de Yusuf e ao entrar encontra um Yamam todo molhado dando risadas ao ver a satisfação de Asli ao jogar agia nele  da banheira que Cenger havia comprado.
Não interfere, sai sem ser notada. Para Adalet faz sinal de silêncio o como se selasse um grande segredo. A tarde foram à  editora, tudo foi resolvido. Voltaram para a mansão,  ela comunica sua partida, iria de avião. No final da noite.
_Não  vá,  fique mais uns dias, estava com saudades.
_Yamam, não dificulte as coisas.
Ele baixa a cabeça,  não pressionaria
O avião decola, leva a princesa avó menino Com lágrimas nos olhos e deixa um gigante chorando. _Verdade vocês  meus amados...
Dez dias  depois Nedim entra apressado no escritório seguido por Cenger  Nas mãos, um envelope. _Abra amigo depressa, vamos buscar sua família.
_E se estivermos errados?
Cenger responde. _Buscaremos assim mesmo amigo.
O envelope é  aberto, com um salto afasta a cadeira. _Nedim, vamos imediatamente buscar minha esposa.

CONTOS MUSICAIS DE DRUMONDOnde histórias criam vida. Descubra agora