Inspirada na canção portuguesa Fado AMIGA de Carla Pires, letra inserida no texto. Que seja leve a viagem...
Era noite, todos da redação já haviam partido, lá fora as luzes da cidade anunciavam que as famílias estavam reunidas após um dia de atividades, sejam elas labor, escola, esporte ou até mesmo lazer.
Saudades de apenas deitar embaixo de uma árvore e preguiçosamente ler um livro, pensa a jornalista. Neste momento retorna à sua mente o que a fez permanecer ali, como se fugisse ao fazê-lo, o que lhe foi designado para amanhã pela manhã era sem sombra de dúvida um desafio.
Mas se desejava a vaga de redator precisava provar a si mesma que poderia ser fria em toda e qualquer situação. Respirando fundo como se o ar trouxesse com ele a coragem, ela resolve ir para casa.
Era madrugada e o sono ainda não tinha chegado, as memórias de tempos atrás iam e vinham como um filme diante dos olhos dela. Ensino médio, as amigas pelos cantos se encontravam com seus pretendentes, apaixonadas assim como sua irmã, mas ela, considerada a estranha, se contentava em sonhar em no mínimo conquistar a amizade dele, seu amor platônico, que taciturno e arredio a todas afastava, se contentou então a sonhar de longe com um amor que nasceu fadado ao fracasso. A pergunta que sempre ecoava em sua mente era: Pode o coração esquecer este amor?
Imaginando os beijos e que jamais teria, finalmente ela adormece.
No dia seguinte ela lia no alto do edifício "HOLDING KIRIMLI''. Inspira profundamente, precisava de toda a coragem do mundo para prosseguir, era aquele momento a curva na reta chamada saudade. Saudades do que nunca viveu, além do que sua imaginação permitir.
No reflexo da porta giratória ela confere a aparência, saia lápis preta, blusa branca com detalhe de lado na gola, no braço o blazer da cor da sala, o scarpin pretos e bolsa vermelha, nas mãos a pasta de trabalho...
Se aproxima da recepção e se apresenta. A jovem anuncia a convidada e a direciona à sala da presidência.
Ao entrar no elevador, novamente, ela respira forte. Sentia as mãos suarem, seu rosto estava vermelho e o sentia queimar. A secretaria a conduz porta adentro, ele estava de pé, de costas, olhando pela janela. Nedim que estava sentado no sofá, se levanta e a cumprimenta, de maneira cortês ela retribui o cumprimento. Finalmente ele se vira, seus olhos se encontram, os dele frios os dela ficaram trêmulos, a emoção ao vê-lo pessoalmente depois de anos a desestabilizou.
_Bem vinda senhorita. Não ousou desviar os olhos que estranhamente o encantou.
_Obrigada. Ela lutava para não deixar que percebessem o tremor em sua voz. _Obrigada por nos receber, assim como solicitou, serei breve. Podemos começar?
_Não se apresentará senhorita? Perguntou Nedim.
_ Perdão , sou a jornalista do Jornal Gazeta, meu nome é Seher Kerimoglu, senhor Nedim.
_Me conhece?
_Este é meu trabalho, senhor. Na verdade ela sabia tudo sobre o seu amor platônico, amigos, trabalho, familiares. _ Vamos iniciar senhor Yamam?
Ele indica o sofá para que ela se acomodasse, os olhos dele pareciam buscar segredos na mente dela, enquanto ela lutava para escondê-los. Já estava quase finalizando a entrevista sobre a nova licitação quando simultaneamente o telefone dos dois tocam.
Eles atendem, ambos apenas ouvem, ele a olha, tinha lágrimas naqueles olhos verdes, Nedim que aos dois observava nada entendeu.
_Preciso sair, me desculpe. Falaram em uníssono e sem aguardar consentimento da parte contrária ambos saem. Entram no elevador. O cheiro de baunilha e limão se mistura na pequena caixa de metal. Suas memórias afetivas são imediatamente ativadas, eles se olham e ali se perdem até que o barulho avisa que chegaram ao térreo. Sem nada dizer eles saem do prédio. Ambos seguiram para o hospital onde Kevser estava prestes a morrer.
Seher chega, encontra a irmã prestes a entrar para a cirurgia, que lhe entrega Yusuf como legado. A morte vence e leva sua irmã, chorando Seher recebe o relicário. Dali segue para casa.
Dois dias depois o pai também morreu. Uma semana depois ela se apresenta no trabalho mas por não ter publicado a entrevista é demitida.
Era noite, sentada diante da lareira em sua casa ela pensava no que lhe aconteceu em uma semana, ficou completamente sozinha no mundo, sem emprego, não ficaria naquela casa. Resolve sair da cidade e levar consigo seu sobrinho Yusuf. Mas faria com calma. No dia seguinte no horário em que com certeza Yamam não estaria, ela vai à mansão e sai dali com Yusuf nos braços, seguindo para a região do Mar Negro, ao segurança entregou uma carta.
Yamam no final do dia chega e recebe do funcionário a carta.
"Senhor Yamam, minha irmã pouco antes de morrer me pediu que tirasse meu sobrinho da mansão, atendendo ao pedido dela e por conhecê-lo decidi pegá-lo na sua ausência. Não pretendo devolvê-lo ao senhor. Yusuf é meu legado. Seher "
Completamente fora de si, o tio de Yusuf coloca todos os homens à procura da tia do menino, da sua boca apenas saia a frase, vou matá-la com minhas mãos. A babá, os seguranças foram demitidos, Nedim foi convocado e por dias sem sequer dormir, buscou pelos dois, porém não os encontraram.
Dez dias depois, estava à mesa no café da manhã quando a campainha tocou, tia e sobrinho foram anunciados.
Descontrolado Yamam se levanta mas se rende ao olhar amoroso de Yusuf que gritou tio e se jogou em seus braços, os pequenos braços envolveram seu pescoço, depois beijou sua face, foi como se um tranquilizante tivesse sido aplicado.
_Yusuf, a tia está indo, depois eu volto. Me dê um abraço.
_Tia, não vá.
_Esta é sua casa meu amor, será feliz aqui. Nunca esqueça que te amo mais que a mim mesma. Estarei sempre por perto. Ela sai sem dizer mais nada.
_Tio, não deixe ela ir, por favor.
Seher já estava no táxi quando ele saiu à sua procura, não houve tempo, ela partiu. O cheiro de baunilha que o fazia lembrar de aos atrás estavam impreguinaso nele
_Yusuf, ela disse para onde iria?
_Não disse. Sabe tio, tia é metade mãe, igual você que é metade pai.
_Vou trazê-la para você, Pacha.
_Promete?
_Prometo. O tio recebe outro abraço do pequeno sobrinho, em sua mente apenas os olhos verdes e tristes da tia tinham espaço, pensava no efeito que a jovem tinha sobre ele. Ele se levanta, e junto com Cenger e Nedim segue para o escritório.
_Quero encontrá-la, ela ainda não saiu da cidade. Convoque todos os homens Nedim para que achem a tia. Cenger, tente sutilmente tirar informações de Yusuf, algo que nos levará a ela.
Ambos se retiraram deixando o homem solitário e impressionado com a atitude altruísta da tia, mas além disso percebeu que estava se apaixonando, os olhos dela o hipnotizavam cada vez que os encontrava.
No jantar, Yusuf conversava animadamente, Yamam aproveitou e pediu que ele descrevesse o local onde ficaram.
_Era uma fazenda, o carro da tia demorou a chegar, às vezes íamos à praia mas não era legal como aqui, lá tinha muitas pedras enormes. Ele faz o gesto, abrindo os braços e indicando o tamanho.
_ Como era a casa Pacha?
_Era pequena mas parecia de conto de fadas. O tio Kerem sempre nos visitava, cortava lenha e eu o ajudava a levar para dentro, ele às vezes jantava na nossa casa outras nós jantamos na casa dele, lá tinha a mãe e o pai dele. Ele é legal, mas prefiro você tio.
Debaixo da mesa Yamam cerrava os punhos com raiva ao pensar em outro com ela.
_Nos conte mais capitão. Pediu Ziah.
_ Era uma fazenda com plantação daquele negócio que eu não posso comer mas a tia adora no chocolate.
_ Avelã? Pergunta Adalet.
_Isto mesmo, avelã.
_Tio Ziah, tem plantações de flores também, você ia adorar. Um dia eu pedi uma para dar para minha tia, ela chorava escondido à noite, mas eu a via. Um dia ela sonhou e falou seu nome tio.
_ Lembra o que ela disse Pacha?
_Ela falava, Yamam, você podia ter sido meu amigo. Só ser sua amiga me bastaria. O que ela quis dizer, tio? Perguntei a ela, mas não entendi a resposta.
_Qual foi a resposta que ouviu da sua tia, Pacha?
_Ela respondeu que às vezes desejamos o amor de alguém mas a amizade é boa também, melhor que nada. Yamam ficou pensativo, tentando entender se ela o amava ou não.
_Nedim, a descrição parece Mar Negro. E também a cidade Ordu, onde as praias são rochosas e há grande produção de avelã.
_Eu escutei isto tio, Mar Negro. Eles falavam, mulher do Mar Negro, homem do mar Negro.
_Amigo, temos uma pista da nossa fujona.
Ninguém percebeu que debaixo da mesa IKbal enviava as mesmas pistas para que os homens eliminassem a tiazinha.
_Cenger arrume minhas malas e de Yusuf iremos buscá-la.
_Super! Vibrou Yusuf.
Dois dias, este foi o período em que Yamam, Yusuf e Nedim andaram pela cidade de Ordu. Eles estavam sentados em um café, de manhã quando ouviram o nome do menino.
_Yusuf? É você?
Os três olham em direção à voz.
_ Tia Lyah! Yusuf se levanta e corre até a mulher, que se abaixa para receber o abraço.
_O que faz aqui garoto? Sua tia sabe que está aqui?
Os outros dois homens se aproximam.
_Ele sente falta da tia, viemos buscá-la. Sou Yamam, tio de Yusuf, e este é Nedim, um amigo.
_ Yamam Kirimli. Seher me falou de você. Acho bom que tenha trazido Yusuf, ela está muito triste com todos os acontecimentos.
_ Como podemos encontrá-la?
_ Ela mora em minha fazenda, venham comigo, eu os levarei até ela.
Eles seguem o carro da senhora por uns vinte minutos e ao chegarem na propriedade deparam com uma plantação a perder de vista de aveleiras. Yamam dirigiu mais uns cinco minutos até chegar a casa principal. Na varanda um senhor tomava café sentado na varanda, Yusuf corre até ele, sendo recebido carinhosamente pelo homem.
_Yusuf, que bom que voltou, sentimos muito sua falta. Veio para cuidar da sua tia?
_ Vim buscar minha tia para morar comigo, tio Erem.
_ Ela ficará feliz em ver você pequeno.
O senhor se levanta e cumprimenta os visitantes.
_Este é Yamam Kirimli, tio de Yusuf querido.
_ Bem vindo, mas por favor, não magoe a menina. Ela tem passado por coisas difíceis.
_ Não se preocupe senhor, minhas intenções são as melhores. Onde a encontro?
_ Kerem foi levar comida para ela, já deve estar voltando. Ao longe eles veem uma picape se aproximando. _ Olhe, ele está chegando.
O carro para e dele sai um homem jovem, alto, cabelos e barba pretos, olhos castanhos claros.
O senhor Erem os apresenta e pergunta por Seher.
_ Não encontrei em parte alguma papai, voltei com a comida. Ele fala enquanto se abaixa para abraçar Yusuf. _Vem aqui me abraçar amigão, nunca mais deixe sua tia, ouviu? Yamam estava com os pulsos fechados devido a raiva que sentiu ao presenciar a intimidade do sobrinho com o homem recém chegado.
_ Eu vim com meu tio buscá-la tio Kerem.
_Bem vindos, ela ficará feliz. Mamãe, onde acha que ela pode estar? Estou preocupado.
_ Ela sempre ajuda na colheita filho.
_ Perguntei aos trabalhadores, ela estava lá mas já saiu, segundo eles. O menino puxou a calça de Kerem pedindo atenção.
_ O que foi amigão?
_Você olhou perto da ponte de pedras?
_Boa garoto, como não lembrei disso, venha, vamos encontrá-la. Vocês vêm?
Os quatro caminham na direção indicada por Yusuf.
Chegaram lá e de longe puderam ver a figura da jovem que sentada à beira da ponte parecia olhar o vazio. Yamam a observou atentamente, era linda, o reflexo da água causada pela luz do sol parecia criar em volta dela uma redoma, passando a impressão de que se tratava de um anjo. Yusuf a chama enquanto se aproxima, ela olha em direção deles, parecia não acreditar no que via. Se levanta lentamente, assim que se coloca de pé e dá o primeiro passo, um estampido alto causa rebuliço entre as aves causando barulho com o bater de asas. Olhos verdes buscam os escuros… ela como em câmera lenta tomba e cai nas águas, Yamam salta, mergulhando em seu socorro enquanto grita para que Nedim encontrasse o atirador. Kerem pega Yusuf no colo.
Aflito, Yamam nada até ela que em vão tentava não submergir, a dor a impedia. Ele a alcança e trás até a margem. A carregando leva até um local seguro. Em todo o tempo ela o olhava.
Seus olhos se cruzam, ela estende a mão e acaricia a face dele.
_Não tenha medo, cuidarei de você.
_ Queria somente ter sido sua amiga, amor… Seher perde os sentidos.
_Yamam, vamos levá-la ao hospital, urgente. Já enviei meus homens para ajudarem Nedim na busca ao bastardo que fez isso.
Yamam, com ela no colo, corre até o carro, a coloca no banco de trás da picape conforme orientou Kerem. Neste momento se lembra do sobrinho e como se lesse seus pensamentos Lyah diz para ele ficar tranquilo pois cuidaria do menino. Yamam que ia com Seher em seus braços partiu em disparada rumo ao hospital, tendo como motorista o anfitrião. Assim que chegam ela é levada para a cirurgia.
Agora ambos aguardam por notícias dela.
_ Você parece sincero quanto a ela. Kerem interrompe o silêncio.
_ Qual sua relação com ela? parecem íntimos. A voz de Yamam era de ciúmes.
_ Digamos que somos cúmplices de alguns crimes?
_Não entendo?
_Conheci Seher a alguns anos, nossa amizade é sólida e incondicional, nos amamos.
As unhas de Yamam feriram a palma de suas mãos, tamanha a força que aplicava sobre elas tentando conter a raiva que sentia, mas porque se sentia assim, pensava Yamam. Ela era apenas a tia de Yusuf. _O que quer dizer exatamente? O telefone do homem toca, ele atende.
_ Mamãe te ligou? Não amor, ainda não tenho notícias, ela está em cirurgia, já chegou? Que bom que já estava à caminho antes de tudo acontecer. Estou na porta do centro cirúrgico.
Yamam ouviu mas se manteve em silêncio, uma jovem loira de olhos azuis, emocionada chega e se aninha nos braços de Kerem.
_Não chore amor, pense positivo. Ela sairá dessa.
_ Nossa amiga, não merece isso, amor.
Yamam os observava, amor para cá, amor para lá, confuso, tentava entender o relacionamento deles entre si e também com a tia de Yusuf.
_ Querida, este é Yamam Kirimli, Yamam, está é Zeynep, minha noiva.
Um alívio imediatamente tomou conta do tio. _Noiva? Mas e Seher? Achei que…
_ Yamam Kirimli. A jovem estende as mãos em um cumprimento. _ Prazer em conhecê-lo. Explicando, eu e Seher estudamos juntas, ensino médio e faculdade. Você mudou muito, está ainda mais bonito. Ela olha para o noivo que fingia ciúmes. _ Não fique bravo amor, só estou sendo sincera.
_ Me conhece? Como?
_ Eu o via no mercado sempre que voltávamos da escola. Seher sempre fazia questão de passar por ali, eu não entendi o motivo na época pois era o caminho mais longo. Entendi anos depois. E olhe só, o destino é mesmo estranho. Estamos aqui hoje, juntos, esperando que ela vença mais esta dificuldade. A jovem começa a chorar novamente. _Kerem, ela merece ser feliz.
_ Ela será meu amor, nós a faremos feliz.
O médico anuncia que a cirurgia foi bem sucedida, a bala atingiu uma cavidade abdominal mas não prejudicou nenhum órgão. Ela logo estará bem. Kerem ligou para avisar em casa, deixando a todos felizes pela notícia.
Pouco tempo depois Nedim chega, conseguiu pegar o atirador que confessou o nome do mandante. IKbal kirimli e sua irmã eram as responsáveis pelo atentado, o motivo alegado foi que Seher impediria o casamento de Yamam com Zuhal, que perderia a fortuna caso isso acontecesse.
_Meu Deus, de onde tiraram esta ideia? Eu e Zuhal ou eu e a tia de Yusuf? Jamais me casarei, isto sim é certo.
_Nunca se casará senhor Yamam? Pergunta Zeynep.
_Não, esta é a maior verdade da minha vida.
_Ouviu Kerem, ele nunca se casará. Sabe o que tem que fazer.
_Seu amor, sei. Não se preocupe.
_Do que estão falando?
_Nada Yamam. Agora se quiser pode voltar a Istambul e leve Yusuf com você, quando ela estiver melhor, irá ver o sobrinho. Por agora ela só precisa de nós. Os amigos. Kerem foi direto e assertivo, não deixando segunda opção para o homem.
_Eu quero vê-la.
_Não, não deixaremos que a veja. Desta vez foi rude. _ É saiba que faremos tudo que estiver ao nosso alcance para que jamais a veja. Conseguiremos autorização judicial para que tia e sobrinho se encontrem. Senhor Nedim, obrigada por tudo, agora por favor, leve seu amigo daqui imediatamente.
_Não tem o direito de decidir por ela, senhores.
_Temos, para protegê-la temos todo o direito. Por favor se retire.
Meus pais estão trazendo Yusuf para que o leve.
_Vamos Yamam, melhor irmos.
_Não irei a lugar algum sem a tia de Yusuf, eu prometi a ele e vou cumprir.
Novamente Kerem pega o telefone. _Entre com uma medida restritiva contra Yamam Kirimli e sua família a favor de Seher Kerimoglu imediatamente.
Irado, Yamam dá um soco na parede e depois vai em direção ao homem. _O que pensa que está fazendo? Como assim me proibir de aproximar da tia de Yusuf.
_ Já a machucou demais senhor, e saiba que ela não está sozinha pois tem a mim, Zeynep e meus pais, portanto, saia imediatamente daqui.
A enfermeira avisa que a paciente está no quarto e acordada, Yamam ao ouvir a informação se apressa e entra antes de todos, trancando a porta atrás de si. Ela estava com o rosto virado para o lado contrário à porta mas se virou ao ouvir o barulho da chave. Tinha lágrimas nos olhos.
_Estava chorando, sente dor?
_Não, mas escutei a discussão e não quero ser motivo de discórdia. A única coisa que desejo hoje é poder cuidar de Yusuf.
_Venha conosco, more na nossa casa e cuide dele.
_Não acho correto é sua casa e sei que sempre me detestou.
_Quem te disse isso?
_Minha irmã, na única carta que recebi dela.
_Como poderia te detestar naquela época se a primeira vez que a vi foi no dia da entrevista?
Tem certeza de que foi sua irmã que escreveu?
_Era a letra dela.
_Outra dúvida, por que naquela época ou mesmo agora o que penso sobre você é tão importante?
_ Não quero impor a Yusuf um relacionamento tóxico, portanto, vamos combinar assim, seremos amigos. Aceita ser meu amigo?
_É o que iria te propor quando vim até você.
Ela estende a mão selando assim o acordo, ele aceita mas além de apertar uma ele pega as duas, as beija na seguinte ordem, uma após outra, costas e palmas respectivamente. Imediatamente o verso da canção Amiga de Carla Pires vem à mente de Seher...
"Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...
Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei prá minha boca!"
Os olhos se encontram e assim permanecem por algum tempo até que batidas insistentes à porta os trazem à realidade, Yamam beija-lhe a testa, dá um breve sorriso e vai destrancar a porta dando passagem aos amigos que demonstraram irritação, pouco tempo depois, Yusuf rompe porta adentro, trazendo consigo flores. Yamam o coloca na cama, sobrinho e tia se abraçam, beijam e por fim se despedem com a promessa de um reencontro em breve.
Uma semana foi o tempo que Seher esteve hospitalizada, de Istambul Yusuf ligava todos os dias. Depois deste período esteve em casa sob cuidados dos amigos, estavam todos no café da manhã quando o telefone tocou, uma emissora a convidou para ser enviada especial para cobrir um conflito na fronteira entre a Turquia e Síria. Sem pestanejar ela aceitou a proposta e no dia seguinte foi para Istambul.
Na mansão…
_Nedim, tem mais de vinte dias que nós voltamos e ela não voltou para Yusuf. O pior é que não sou bem-vindo pelos amigos o que me impede de visitá-la.
_Yamam, sente algo por ela?
_Nos propusemos amizade, mas não nos falamos mais depois disso. Ele ainda falava quando Cenger anunciou que Seher havia chegado. Nedim se despede e vai embora. Seher entra no escritório apreensiva, ela sempre se sentia assim diante dele,
_ Oi
_Oi Seher, entre.
_Precisamos conversar, tem algum tempo?
_Claro, venha e se acomode. Estou te escutando.
_Eu irei para a Síria amanhã como correspondente de guerra. Vim avisar e me despedir de vocês.
Num salto ele se levanta. _Como assim? Ainda está se recuperando do atentado e vai se meter em meio a uma luta armada?
_É o meu trabalho.
_Se aproximou de Yusif para isso? Para fazê-lo sofrer? Melhor nunca ter aparecido.
_Por isso deixei ele aqui naquele dia, entendi que não sou suficiente para ele.
_E agora me diz isso com toda calma do mundo? A ira dele era notória, ele gritava a todos pulmões e lá embaixo se ouvia os gritos. Suma daqui. Nunca mais apareça diante de mim.
Ela chorava ao deixar o escritório. Imaginou que ele iria se irritar, mas ele ficou possesso. Ela descia as escadas e ouviu algo se quebrando, furioso, ele deve ter jogado algo no chão, pensou ela.
Yamam estava imensamente contrariado, como assim ela se colocaria em risco, o que seria de Yusuf se algo acontecesse a ela? Pensava ele. Mas como num passe de mágica seus pensamentos tomaram outro rumo, ele a maltratou, ela devia estar com medo e ele a maltratou, precisava de um amigo e ele agiu como um grosseiro. Ele sai às pressas do escritório a tempo de vê-la sair pela porta depois de se despedir de Yusuf e os outros, correu escada abaixo, a encontra no jardim, prestes a entrar no táxi.
_Seher, não vá, fui um insensível.
Ela se vira para ele sem entender a mudança repentina. Ele vai ao motorista o dispensando.
_Você veio até mim, me avisou da sua missão, sei que está com medo e não encontrou em mim o amigo que prometi ser. Venha para dentro. Vamos conversar.
Seher ainda surpresa com a mudança repentina dele o acompanha. Na sala todos também estavam surpresos como ela.
_ Passe a noite aqui, amanhã te levo ao aeroporto. Tudo bem? Não chore mais, tudo ficará bem.
_Obrigada.
_ Assim fazem os amigos, se apoiam.
Eles jantam em família. Às vezes a lembrança da viagem vinha à mente dos tios que se olhavam, olhos verdes e escuros por diversas vezes se encontram. Após todos se recolherem eles ainda permaneceram na varanda vendo as estrelas. Ela acaba adormecendo e ele a leva no colo para o quarto, a coloca na cama mas não consegue deixá -la. _Está apaixonado Yamam. Murmurou para si mesmo o homem que lentamente se inclina para beijá-la. Assim que seus lábios se encostam ela abre os olhos. Mesmo assustada ela mantém o olhar, ele sem desviar os seus volta a beijar a jovem que retribui o gesto, o beijo se torna mais íntimo e eles se rendem ao desejo, pela porta de acesso da varanda a lua testemunha o encontro dos corpos dos amigos apaixonados...
Yamam acorda e Seher não está mais em seus braços, estar no quarto de hóspedes, assim como o lençol, que trazia mais uma evidência, comprova que não foi um sonho, como muitos outros ele teve.
Ele olha as horas. _Maldição, perdi a hora, ela já partiu.
Durante todos os quarenta e cinco dias, a família se sentou diante da TV acompanhando as notícias sobre o conflito. Vê-la pela tela dava a sensação de que ela estava bem. Naquela noite todos estavam acompanhando o noticiário ao vivo e atrás dela uma bomba explode, os olhos dela pareciam buscar os dele que viram terror nos dela, houve interrupção na transmissão. Yamam pega o celular e liga para ela. Fora de área. Faz outra ligação. _ Kerem, não consigo falar com ela. Se tiver notícias me avise. Por favor, peça a Zeynep para verificar, já que elas têm a mesma profissão talvez seja mais fácil.
_Quinze dias sem notícias Nedim, quinze, sabe o que é isso? Fui à emissora e como não sou parente eles não dão informação, nem o irmão dela que é policial tem informação. Vou enlouquecer se continuar assim. Logo agora…
_Logo agora o quê Yamam?
_Nedim, me apaixonei por ela, logo agora que descobri não a encontro. Nedim sorriu
_ Como descobriu amigo?
_ Li em um livro alguns sintomas. Batimento cardíaco acelerado e calor intenso ao ver a pessoa amada, também cantarolar uma música com apenas uma palavra.
_ Música com apenas uma palavra? Nunca ouvi falar disso.
_ Seher, Seher, Seher, Seher, Seher… o nome dela tamborila em minha mente como uma batucada o dia inteiro.
Nedim solta uma sonora gargalhada que ecoou pela mansão. _Não ria amigo, estou perdidamente apaixonado.
Ele mal acabou de falar quando Cenger anuncia a tia de Yusuf. Yamam descendo a escada de dois em dois degraus chega à sala onde a encontra sentada no sofá, com a mesma roupa do dia do atentado no noticiário, no rosto e braços alguns pequenos cortes…
_Oi.
Yamam se ajoelhou diante dela. Olhava aflito. _Você está bem? Precisa de um médico?
_ Estou bem, não se preocupe, apenas me sinto cansada.
Seher conta a todos que logo depois daquela explosão, inúmeras outras aconteceram, junto com sua equipe ela fugiu dali mas às estradas foram bloqueadas e tiveram que se esconder em um vilarejo próximo à fronteira por dias. Um dos amigos foi alvejado e morto. O carro em que estavam foi destruído em meio ao conflito e eles tiveram que andar por dias até atravessarem as divisas.
_ Tem fome menina?
_ Não Adalet, na verdade, nada que coloco no estômago permanece. Mas aceito água e se possível, um banho. Posso tomar um banho?
_ Claro que pode, Neslihan, providencie a banheira do quarto de hóspedes. Cenger pode pedir que tragam algumas roupas? Tamanho "P", sapatos, 36. Estou certo?
_ Não sei como sabe, mas sim está correto.
Ele se aproxima e baixinho, fala no ouvido dela. _ Você esteve em meus braços querida amiga.
Enrubescida ela fecha os olhos, não sabia como se comportar.
_Venha, vou te ajudar a subir as escadas. Nos lábios ele tinha um sorriso de cumplicidade. Assim que ela se levanta tudo parece rodar e escurece. A última coisa que vê são os olhos dele, que aflito chamava seu nome, Seher, Seher, Seher…
No hospital, depois de algum tempo ela abre os olhos, e Yamam a olhava. Ficaram assim, em silêncio até que o médico entra.
_O que ela tem doutor?
_Está desidratada, exausta e também tem outra coisa. O que o senhor é dela? Marido?
_Não senhor é meu amigo. Responde Seher.
_ Preciso que ele se retire para que possamos conversar senhorita?
_ Doutor, não pretendo ir a lugar algum, ainda mais sabendo que tem alterações nos exames.
_ Senhorita, ele é seu marido, noivo ou namorado? Ela com a cabeça nega tais relacionamentos. _Senhor se retire ou chamarei os seguranças para que os direitos dela sejam preservados.
_ Por favor Yamam, depois te digo o que é.
_Promete?
_ Prometo.
Ele se retira e espera no corredor por vinte e minutos que pareceram uma eternidade. O médico sai, ele imediatamente entra e a encontra em prantos. Yamam aflito a abraça.
_ O que foi linda, me diga.
_ Preciso ficar sozinha Yamam, por favor.
_ Você prometeu que contaria.
_Vou contar, apenas preciso de um tempo para assimilar a notícia. Tome um café e em dez minutos retorne, pode ser?
_Tudo bem, vou comprar o café e já volto.
Ele sai, ela arranca o cateter intravenoso e se veste rapidamente, fugiria antes que ele voltasse era o que pensava, mas foi surpreendida por ele que diante da porta aguardava os dez minutos passarem. Agora novamente seus olhos se encontram, os dela tinham um misto de susto, constrangimento e arrependimento, os dele, triunfo por tê-la surpreendido, mágoa e medo do que ela possa ter.
_ A senhorita novamente fugiria de mim? Volte imediatamente para a cama e não discuta comigo. Ela veste novamente a camisola do hospital enquanto ele chama a enfermeira que retorna com o cateter.
Assim que estavam a sós ele quebra o silêncio.
_ Estou escutando senhorita. O que o médico diz que a deixou apavorada, primeiro chorou e depois tentou fugir?
_Eu… Sem coragem ela desvia os olhos de onde novas lágrimas brotam.
_Você o quê? Está me deixando aflito. Não confia em mim é isso? Vamos, me diga sem rodeio.
_ Eu. Estou….
_ Seher, vamos, diga logo. Você está o quê?
_ Grávida. Eu estou grávida.
Ele se emociona, olha para ela, anda de um lado a outro, passa as mãos nos cabelos, volta a olhar para ela… _ Eu,você, nós… nós teremos um bebê?
Seher estava muito envergonhada para olhá-lo nos olhos. _Me desculpe, não fiz de propósito. Aconteceu, nós, aquele dia, sem nos proteger. Ela chorava sem parar.
Ele a abraça, sentado na cama. _Ei, não chore, não se envergonhe, foi linda aquela noite. Foi quando tive certeza que estava apaixonado. Eu te amo Seher, não imagina o quanto temi por sua vida nestes últimos quinze dias depois que desapareceu.
_ Você me ama?
_ Sim, eu te amo. E você, o que sente por mim?
_ Te amo desde o ensino médio.
_ Como assim?
Seher conta das idas ao mercado, da vontade de ser no mínimo sua amiga, da surpresa ao ver seus irmãos apaixonados, a reação do pai, enfim do amor secreto que sempre carregou consigo. Ele a beija. _Quer se casar comigo, Seher?
_ Aceito.
Duas semanas depois, dia do casamento, todos estavam envolvidos com o evento, no andar térreo os amigos, noivo, Yusuf e moradores aguardavam o momento da noiva descer, quando uma canção envolve o ambiente.
"Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.
Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!
Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...
Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei prá minha boca!"
Yamam sobe as escadas para se encontrar com sua noiva, nos olhos lágrimas de emoção, no coração a alegria de ter encontrado em uma única mulher a amiga e a amada. Ele abre a porta, Seher pelo espelho o olha, lentamente ela se vira. Olhos verdes e escuros. Ele toma as mãos dela entre as suas, beija cada uma delas depois a sua boca.
_ Minha linda amiga, minha eterna amada. Meus beijos a ti pertencem. Não são mais uma fantasia, são reais.Te amo.
Fim.
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CONTOS MUSICAIS DE DRUMOND
FanfictionA cada capítulo um conto, inspirados na obra Emanet, cada um deles inspirado em músicas das mais variadas nacionalidades e gêneros. Uma divertida aventura a partir de experiências musicais vividas pela autora. Boa viagem caro leitor...