Moça sem rosto

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Estou em um lugar tranquilo, calmo e de paz, estou no paraíso? Esse é o céu?
Vejo uma mulher de costas, cabelos ondulados abaixo do ombro, vou me aproximando para vê o rosto dela, mas ela não tem face, o seu rosto é como um sol em dia quente, brilhante que tenho que fechar os olhos pois é impossível ficar com os mesmos abertos.
A moça está grávida e pela voz doce ela tá cantando, mas seu canto parece embargado, acho que ela chora enquanto suas mãos alissam sua barriga.
Eu me deito no chão e parece haver um vidro entre nós pois não consigo chegar e tocar na moça.
Seria ela a minha mãe? A minha mãe me amava? Me desejava? Eu era amada por ela?

_Bolsa de sangue de O-, no quarto 37, não parem a massagem cardíaca, liberem a sala do trauma agora.

Acordo em um lugar totalmente desconhecido, choro e tento sair dele, será que ele fez de novo e antes me dopou?
Quando tento sair sinto algo em meus punhos, eu estava amarrada na cama, minha barriga dói, a minha cabeça dói ainda mais e parece que está tudo girando, acho que vou apagar.

_Socorro, chame a neuro agora, paciente do 37 está com convulsão me ajude a coloca lá de lado. - escuto tals palavras bem de fundo, vejo um alvoroço e sinto meu corpo tremer, e como eu sinto frio, muito frio e meus olhos se apagam, o meu coração que antes batia acelerado agora está calmo, ironia em meio a tanta agitação ele se acalmou e enquanto no silêncio do meu quarto ele pulsava mais veloz que uma porche.

_Carrinho de parada 1,2,3 afasta !
Fica comigo mocinha, você não vai desistir agora, eu sei o que aconteceu .....

O mundo parece parar quando a mulher desconhecida diz que sabe o que aconteceu, e pela primeira vez eu não quero mais morrer e luto para sobreviver.
Não, eu quero voltar, eu quero acordar, ela acredita em mim, alguém sabe que eu não quis,Deus me deixa voltar, cérebro me acorde é uma ordem, abra meus olhos.
Eu forço, tento, tento e não consigo, não escuto mais nada, mais vou sentindo meu corpo mais relaxado, será que agora acabou de vez?

Volto para o meu sonho, paraíso ou vida pós morte eu não sei.
Mas estou de volta e enfrente a moça, eu não consigo vê o meu pai, quem ele é? Eu não sei nem o nome da minha mãe, nunca vi uma foto da mesma só sei que possívelmente ela morreu no parto e eu fui levada ao convento, para ficar com as outras órfãs.
Eu nunca fui escolhida por nenhuma família, não sei o que é um lar amoroso, um colo de mãe e proteção paterna.

Escuto um barulho irritante, a moça some, e eu sou tirada do paraíso, o que está acontecendo?
O barulho continua, até que consigo abrir os olhos, a claridade me incomoda, tento me levantar mais acho que estou amarrada a cama, eles acham que eu sou uma Suicida, de fato eu sou né.
Sinto dor em várias partes do corpo e minha cabeça parece que está pesando uns cem kilos.
Tento me levantar, mas a dor só aumenta, um enfermeiro passa pelo corredor e entra no meu quarto, eu fico com medo, ele toca em meu braço e choro de forma incontrolável, pois me lembro do abusador, das vezes que ele tocou meu corpo e mesmo limitada tento afastar o enfermeiro de mim, grito pra ele sair e ir embora.
Entra uma médica no quarto que fala pra ele ir embora, ele obedece a ordem e se retira, ela fecha a porta e fica só eu e ela, pela voz eu acho que é a moça que acredita em mim, sorrio em meio a tanta dor e lágrimas.

_Eu tô aqui, agora você não está mais sozinha. - ela me abraça, e eu sinto algo diferente, o amor é isso? É isso carinho? Ah como é bom um abraço, quero ficar aqui pra sempre.

As mágoas de uma menina Onde histórias criam vida. Descubra agora