Inimigos

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Era tudo um borrão para Bright. Ele não fazia ideia de quem estava em cima de si, socando o seu rosto e prendendo o seu corpo no chão sujo daquele bar. O que sabia, era que ele era muito forte. Bright tentou sair debaixo dele, rolando os dois corpos pelo chão, e agora, ele estava na vantagem. Em cima do desconhecido, ele revidou a violência que recebeu com mais dois socos, sentindo a mão arder pelo machucado recém-feito. Não se importou, de qualquer forma. Aquele merdinha precisava aprender uma lição.

Foda-se se seria expulso do bar e foda-se também se perderia a final do campeonato envolvendo o seu time favorito de futebol. A única coisa que queria era matar aquele homem que pulou em cima de si cheio de fúria, apenas porque havia dito que o time dele era o pior do mundo. Tudo bem, Bright foi grosso e falou muito mais do que aquilo, ele simplesmente humilhou o desconhecido e o xingou sem nem o conhecer, e pior, falou mal do time dele, em voz alta, para que todos pudessem ouvir. Bright pisou na bola. Por um momento, achou certo o estranho partir para a briga, mas não era como se fosse deixar barato.

Alguém decidiu separá-los e Bright mal enxergava direito. O inimigo já havia ido embora, afastado por outro grupo, e Bright foi levado para o lado de fora do bar. Não conseguia nem mesmo abrir os olhos direito, ou pensar no resultado do jogo que estava assistindo. Ele queria desaparecer naquele momento.

— Você precisa aprender a ficar de boca fechada.

— Eu não preciso de conselhos agora, Mike. — Rebateu.

Mike podia ser o seu parceiro, o seu melhor amigo, o cara que estava lá desde quando ainda usavam fraldas, mas Bright sabia o quanto ele era inconveniente tentando fazer com que andasse sempre na linha. O que Mike não sabia, era que não havia jeito para Bright. Ele sempre seria aquele garoto de pavio curto, e muito mais. Ele falava o que pensava, era impulsivo, grosseiro, e pior, mimado. Estava acostumado a ter tudo o que quisesse. Só que, no fundo, lá no fundo mesmo, bem no fundo, ele era uma pessoa boa. Capitão do time de futebol da escola, um bom amigo, um cara leal, divertido quando resolvia se encher de taças de vinho. É, ele era bom, apesar de tudo.

— Você não precisava falar mal do time do cara. Pior, você não devia ter levado pro lado pessoal. Começou a xingar o garoto do nada. Quer saber de uma coisa? Bem-feito pra você por ter apanhado. — A cabeça de Bright estava prestes a explodir, e a última coisa que ele precisava era de Mike enchendo os seus ouvidos com palavras que entrariam por um lado e sairiam pelo outro. — Eu espero que você tenha se arrependido de dar aquele showzinho.

— Não me arrependo nem um pouco.

— Você é muito orgulhoso. Porra...

— E daí?

— Sabe que a culpa foi sua.

— Mike, quantas pessoas no mundo não brigam por futebol? Isso não dá o direito daquele filho da puta avançar em mim.

Sentados no meio fio da calçada, Mike decidiu dar uma folga ao amigo, enquanto observava o rosto machucado, prendendo o riso. Bright sempre foi daquele jeito, e quando podia, se envolvia em brigas. Por outro lado, encaixou a cabeça entre os joelhos e fechou os olhos inchados e doloridos, dando graças a Deus por estarem no fim do ano. Logo, um ano novo começaria, e talvez as coisas fossem diferentes.

Suspirando, sentindo tudo doer, em meio aquelas reflexões, Bright jurou para si mesmo que, se colocasse os olhos naquele desgraçado de novo, seria capaz de matá-lo.

— Me solta, porra.

Win nem mesmo sabia quem era a pessoa que estava o segurando nos braços há alguns minutos, e nem queria saber, para ser sincero. A vontade que tinha era de procurar o imbecil que xingou o seu time e falou todas aquelas merdas na sua cara, só para surrá-lo ainda mais, até que ele percebesse que não era um cara que levava desaforo para casa.

Por sorte, Khaotung estava ali, no meio da rua, andando de volta para casa, junto com Win, impedindo que ele voltasse ao bar e terminasse de acabar com o outro garoto. Na mesma proporção que Win era gentil com quem o tratasse da mesma forma, ele era impaciente e violento quando o provocavam. Win não se orgulhava daquilo e precisava de muita terapia para se livrar daquele comportamento. Khaotung sabia quem era o verdadeiro Win por serem irmãos, e ainda que fosse o mais novo, cuidar dele era a sua prioridade.

— Que vontade de matar aquele filho da puta.

— Relaxa, Win. Já passou.

— Juro por Deus que se eu olhar aquela carinha debochada mais uma vez, pode ter certeza de que eu não vou hesitar em nada.

— Você já não bateu nele o suficiente? — Win se calou, e apesar do silêncio, Khaotung viu como ele se acalmou aos poucos. Os cortes na mão e no rosto ainda sangravam, mas ele não se importava com aquilo quando a fúria era maior do que tudo. — Bom, pelo menos não chamaram a polícia.

Khaotung sorriu aliviado por ele estar mais tranquilo, e andou alguns passos mais rápido até estar perto dele. Mesmo com dor no corpo, Win fez o esforço para passar o braço pelos ombros do irmão, agradecendo apenas mentalmente por ele sempre estar ao seu lado. Infelizmente, Win tinha aquele problema de orgulho. Era o seu pior defeito, definitivamente.

— Estaríamos ferrados. O pai não tem dinheiro nem pra fazer a feira do mês, imagina pra pagar uma fiança.

Apesar das risadas, aquela era a mais pura verdade. A família de Win estava quebrada, e pior, com dívidas. As coisas desandaram bastante quando a mãe dos garotos decidiu fugir, levando consigo o que tinha de valioso na casa e o dinheiro na conta que dividia com o marido. Por sorte, o pai deles tinha um bom emprego e estava se reerguendo aos poucos. Só que, como havia dívidas para serem pagas, eles precisaram mudar o estilo de vida. A primeira mudança foi trocar de escola.

O novo ano estava prestes a começar e Win não sabia o que esperar depois de ter deixado tudo o que conhecia para trás. Mas era com a mágoa que tinha da mãe e a vontade de proteger a família, que ele enfrentaria o futuro de cabeça erguida.

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