Aliado

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O ano novo chegou e tudo voltou ao normal. Para alguns, as coisas voltaram a ser como eram, para outros, as novidades chegaram com pressa e não havia como fugir do que a vida tinha para oferecer.

As aulas voltaram, como sempre acontecia, e novamente, o time de futebol da escola estava pronto para voltar à ativa e ganhar a maioria dos campeonatos. Eles eram muito bons. Mesmo. Ganharam mais partidas do que perderam. Naquele ano, porém, o time precisaria se esforçar mais do que o normal, já que era o último ano da escola e muitos usariam o talento do futebol para inúmeras vantagens. A faculdade era uma delas. O principal foco naquele ano, para o time, era recrutar os melhores, fossem veteranos ou calouros. Para Bright, o futebol era mais importante do que qualquer coisa, e ninguém seria capaz de entrar no seu caminho para destruir os seus sonhos ou atrapalhar os seus planos.

Foi na segunda semana de aula, quando tudo estava muito tranquilo, que Bright decidiu abrir os testes para o novo time. Alguns alunos haviam mudado de escola, ou se formado, e consequentemente, o time acabou perdendo jogadores. Como era o capitão, havia muita responsabilidade nas suas costas, e estava tudo bem, porque era o que Bright gostava de fazer. Futebol era a sua única paixão.

No vestiário, já vestido com o uniforme, Bright terminava de amarrar o cadarço da chuteira quando Dew apareceu silenciosamente no local. O capitão levantou a cabeça e esticou os lábios, dando um sorriso como cumprimento. Dew mexeu a cabeça e não demorou para que começasse a falar.

— Ansioso? Sei que você gosta da época de testes.

— Tô com um certo medo.

— Medo de quê? — Perguntou, se encostando na parede da frente.

Dew era o goleiro do time e muito quieto. Sempre com um olhar misterioso. Apesar de fazer parte do time desde sempre, Bright achava que não o conhecia por completo. Mas ele era bom, de todo jeito, como goleiro e pessoa. Só preferia ficar na dele.

— De não conseguir bons jogadores. Esse ano é a nossa última chance de vencer.

— Nós sempre vencemos, Bright.

— Digo, vencer mesmo. Na vida. Muitos do time querem usar o futebol pra ter um futuro brilhante, inclusive eu, e você também. Se não formos bons, já era. Temos que impressionar.

— Acho que você esqueceu que somos um dos melhores times da cidade. — Ao ouvir aquilo, Bright riu, sem graça. — É verdade. E é tudo graças a você, por ser um ótimo capitão.

— Valeu, Dew.

Bright se levantou, indicando com a cabeça para o outro para que saíssem dali e fossem direto para o campo aberto. Muitos alunos já estavam ali, e de repente, uma confiança atingiu Bright em cheio. Ele sentiu, por um momento, que poderia vencer e fazer daqueles garotos vencedores da mesma forma.

— Façam uma fila, por favor.

Os alunos obedeceram ao pedido gentil. Olhando Bright daquela forma, mansinho, ninguém poderia imaginar que ele saiu no soco com um mero desconhecido, quase um mês atrás. Para a sua sorte, ninguém o perguntou sobre os machucados na mão e no rosto, porque já sabiam o óbvio. Bright era fechado e não dava liberdade para que enfiassem o dedo em sua vida pessoal.

Bright não gostava de fazer discurso, ainda que ele fosse o capitão do time e se achasse no direito de passar confiança. Às vezes, ele decidia falar algumas palavras de conforto aqui e ali, nada muito extraordinário. Na realidade, ele preferia mostrar mais com gestos a com palavras.

Cumprimentando e decidindo conhecer todos ali, falando de um por um e apertando a mão de cada aluno, Bright se viu contente por ter gente disposta a dar o melhor naquela equipe. Se eles fossem bons jogadores, Bright se sentiria no paraíso.

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