Impasse

551 97 75
                                    

Mike não era bom em futebol. Ele era todo desengonçado. Por outro lado, fazia um ótimo papel como ator no clube de teatro. No fim da aula, quando terminou de arrumar o palco junto com os outros alunos, procurou Bright pelos corredores da escola. O encontrou arrumando a mochila, tentando enfiar dois livros dentro dela, perto dos armários. A cara dele não era boa, havia uma carranca no rosto. As sobrancelhas estavam juntas e a franja do cabelo quase cobria um dos olhos. Mike pulou animado em cima dele e não recebeu nem mesmo um sorriso em resposta.

— Ih... qual é o problema?

— Você sabe muito bem qual é o problema.

— O Win? Pensei que a tensão entre vocês já tivesse passado. Há quanto tempo ele tá no time? Uma semana?

— Uma semana e meia. — Corrigiu, fechando a bolsa e a colocando no ombro. — Ele me tira do sério de uma forma que eu não sei explicar. Me irrita o fato dele fingir que não me conhece. É como se nada tivesse acontecido naquele bar.

— E você quer ficar relembrando isso pra quê? Pra vocês saírem no soco outra vez e o diretor expulsar os dois da escola?

— Não. Não, Mike. Eu não sei.

— Ele é um bom jogador, tá ajudando o seu time, vive marcando gol nas partidas e quase nunca dirige uma palavra a você. Sabe o que eu acho? Que você tá precisando de sexo. Tá muito estressadinho pro meu gosto.

— E eu acho que você tem que ir pra casa do caralho.

— É, você tá precisando de sexo.

— Me larga. — Empurrou os ombros, se afastando do amigo. Começou a andar, sendo seguido por ele. — Preciso vencer os campeonatos, ir pra faculdade, e o resto eu resolvo depois.

Olhando Mike, discutindo, distraído, Bright esbarrou em quem não deveria no corredor, e quase, quase derrubou Win no chão e pisou em cima dele. Odiava aquele sorriso debochado no rosto dele, odiava o cabelo preto arrumado, odiava o olhar que brilhava em maldade, odiava tudo em Win. Ele era tão desgraçado. Falso. Pensando bem, ódio era pouco para descrever o que Bright sentia por ele.

Mike, muito atento e com medo de uma discussão, puxou Bright pelos ombros e os levou para fora da escola. Fora dela, Bright grunhiu e Mike decidiu se afastar antes que sobrasse para si.

— A minha peça estreia em três semanas. Se você não for me ver, pode dar adeus à nossa amizade.

— Hã? — Perguntou, pensativo. A cabeça não trabalhava direito. Era sempre daquele jeito quando Win estava por perto. — Que peça?

— A minha peça, Bright. Eu comentei com você ontem à noite. Olha o seu celular.

— Lembrei. E eu vou. — Forçou um sorriso. — Sobre o que é mesmo?

Animado, Mike não parou de falar sobre o clube de teatro. Bright prestou atenção por alguns minutos, até Win aparecer em seus pensamentos. E a frase de Mike. Talvez estivesse precisando de sexo mesmo. Não transava desde o último campeonato, há alguns meses, no ano passado, quando uma garota bonita deu em cima de si e todo mundo estava meio alterado por causa de toda a bebida que foi oferecida para os alunos em uma festa. A transa foi boa, mas não a melhor. Na verdade, Bright não se lembrava se alguém já havia o marcado. Achava que não. Não tinha encontrado a pessoa certa, ainda.

Em um outro bairro, Win abriu a porta de casa, vendo Khaotung correr para beber água. Eles voltavam de ônibus, mas precisavam andar dez minutos até chegar em casa. Win estava acostumado, por praticar exercícios físicos, mas Khaotung era o oposto de si. Sedentário, se cansava rápido. Win pediria que o irmão jogasse futebol com ele, caso ele não fosse uma negação. Além do mais, Khaotung tinha um sonho meio peculiar em trabalhar como ator. Win dava a maior força, ainda que tivesse as suas dúvidas. Khaotung era um menino muito tímido.

AntagonistasOnde histórias criam vida. Descubra agora