(In)consciente

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    — Lana — uma voz gutural sussurrou meu nome como um cântico.

    Tudo era escuro. Parecia estar em um limbo atemporal; um vazio existencial.

    — Lana... — A voz continuou chamando-me.

    Abri os olhos e me deparei com meu próprio reflexo no espelho, meu rosto iluminado levemente pela luz do relógio digital que marcava 3 horas. Virei-me para o outro lado — ou melhor, tentei virar. Meu corpo continuava parado, enquanto eu mandava comandos de movimento.

    "O que está acontecendo?"

    Eu sabia que estava acordada. Estava, não estava?

    Por mais que me esforçasse para sair do lugar, nada acontecia. Apenas meus olhos conseguiam observar o que estava acontecendo, mas minha visão era limitada por estar com o rosto voltado para o colchão. Podia sentir a umidade do tecido contra a lateral de minha face, tinha babado enquanto dormia mais uma vez. Diante de meu reflexo conseguia ver que meus músculos nem ao menos tremiam pelo esforço. Meus membros eram inúteis ali.

    — Lana... — sussurrou a voz levemente em meu ouvido, fazendo-me sentir uma breve brisa, mesmo que a janela estivesse fechada.

    Um arrepio percorreu minha espinha. Uma sensação de horror começou a crescer e senti como se alguém me observava. Meu corpo começou a ser pressionado contra o colchão, como se a gravidade aumentasse. Meus pulmões começaram a sentir a pressão, fazendo-me respirar mais rápido e com dificuldade. Uma pontada de desespero crescente borbulhava dentro de mim.

     Alguém — ou alguma coisa — estava ali comigo. Sua presença era tão forte que se tornou inegável. Uma sensação gelada percorreu todo o meu corpo e meu coração acelerou.

    Comecei a chorar. O terror tomava conta da minha mente e eu não conseguia pensar em mais nada. Pelo espelho conseguia ver uma sombra mais densa que o escuro habitual do quarto. Fechei os olhos, assustada, não querendo ver o que estava ali. "O que os olhos não veem o coração não sente, não é?".

    Então, senti algo agarrando meu tornozelo e fui arrastada. Gritei a plenos pulmões, totalmente em desespero. Senti que o chão estava forrado de folhas e meu corpo foi retalhado por diversas pedras pelo caminho, tão afiadas que pareciam pequenas navalhas. Abri os olhos e virei o corpo o suficiente para ver as costas da criatura que me carregava. Estava tão escuro que apenas conseguia ver sua silhueta monstruosa.

    Tentei segurar no chão, fincando meus dedos na terra, sem me importar se bateria em algo. Mas meus dedos apenas escorregaram, fazendo longos sulcos pelo caminho, e minhas unhas quebraram na carne. A terra e as pedras faziam a carne exposta doer ainda mais, porém, eu não conseguia parar de cavar o solo, em uma tentativa desesperada de fugir.

    Até que finalmente tudo parou. Eu ainda gritava, aterrorizada, até perceber que estava em minha cama. Parei de gritar e respirei fundo, absorvendo as informações. Olhei no espelho e vi meu corpo intacto, a dor era apenas uma lembrança amarga.

    Eu continuava imóvel, mesmo que parecesse ter me debatido para sair do sonho. Dirigi o olhar para algo acima de mim, e gritei com a boca fechada ao ver dois olhos brilhantes flutuando, brincando com minha imaginação e deixando um desconforto doentio.

    Fechei os olhos novamente, rezando para qualquer deus me socorrer. Eu não era uma boa pessoa, mas não merecia aquilo. "Por favor, vá embora. Por favor, por favor, por favor...", supliquei intensamente, brigando contra uma densa névoa que se formava em meu consciente.

    Subitamente comecei a cair. Mesmo abrindo os olhos apenas conseguia encarar o vazio. Senti meu corpo rodando e o vento batendo em todas as direções. Meu coração parecia que ia parar ao mesmo tempo que disparava.

    — Lana — chamou aquela voz.

    Ao mesmo tempo que a ouvia, senti o impacto contra o chão e me vi encarando um teto conhecido. Por mais que eu estivesse paralisada, não precisava me encarar no espelho.

    Senti-me sendo observada novamente, aquela presença pesada e tangível que me deixava enjoada. Senti como se algo pressionasse com força minha cabeça pelos dois lados, como se tentasse amassá-la. Um vulto espreitava na lateral do guarda-roupa, como se estivesse esperando por algo.

    Eu já não aguentava mais aquela situação. Juntei todas minhas forças e comecei a lutar contra a gravidade. Meus músculos protestaram, mas finalmente consegui mover as pernas. Com um esforço descomunal saí da cama, quase caindo com o rosto no chão. De joelhos, comecei a engatinhar até o interruptor. Normalmente eram necessários apenas quatro passos para chegar até ele, mas o caminho parecia longo. Rastejava lentamente, cada movimento exigindo mais de mim. Até que finalmente cheguei na parede. Meus olhos acompanhavam o trajeto penoso que meu braço fazia para chegar ao destino. Se eu conseguisse acender a luz, tudo estaria acabado. Então, finalmente, meu dedo deslizou pelo interruptor e ligou a luz.

    No mesmo instante tudo girou, como se eu estivesse em um tornado e me vi acordando na cama. Minha mente já não tinha mais aquela neblina e eu podia me mexer livremente. Ninguém na casa tinha se levantado, apesar da dor em minha garganta. A luz estava apagada e o relógio marcava 2 horas e 58 minutos.



Baseado em fatos reais

As não tão aventuras de LanaOnde histórias criam vida. Descubra agora