— Cuidado! — A garota gritou por impulso.
O garoto parou repentinamente, assim que a ouviu. Suas distrações ainda iam levá-lo à morte.
— Ainda bem que você é esperta. — Ele lançou um sorriso para trás e coçou a cabeça.
— Não é difícil ser mais esperta que você, Loki. — Ela retrucou.
Loki voltou seu olhar para o abismo à frente. Mais um passo e ele certamente estaria no mundo dos mortos.
— Você consegue usar suas asas novamente? — questionou, enquanto vasculhava sua mochila.
O silêncio era estranho. Olhando novamente para a garota, pode perceber que ela evitava encará-lo, provavelmente envergonhada.
— Nana? — chamou.
— Acho que uma tempestade está por vir — comentou, alheia ao que ele queria.
Os cabelos negros voavam a sua volta, enquanto ela direcionava os olhos castanhos para cima. Loki viu lágrimas se acumulando, então, resolveu continuar procurando o anel que precisava.
— Quem precisa de asas quando se pode flutuar? — Ele sorriu, a pegou pela cintura e colocou o anel no dedo.
Nana abriu a boca para dizer algo, mas logo a fechou, surpresa pelas palavras repentinas e a gentileza escondida. Ele não era um dos melhores para a missão, mas ela não poderia deixá-lo para trás.
O caminho pelas montanhas de Truth era traiçoeiro e muito gelado, mas era o único jeito de chegar até o destino. Apesar de mortal, a paisagem era linda, dando para ver as cidades ao horizonte sob a luz do pôr-do-sol. Nem parecia que aquelas cidades ao leste estavam cheias de pessoas traiçoeiras e vazias. Nana não conseguia entender porque os deuses permitiam que tantas pessoas daquele tipo continuassem por ali. Será que eles gostavam?
Quanto mais alto, mais perigos os aguardava. Já tinham cruzado com uma mãe urso e um grupo de harpias insanas. Se não fosse por Nana e sua habilidade com armas, talvez o garoto não estivesse vivo até aquele momento.
Loki ficou com as bochechas ruborizadas pensando que ele era muito mais fraco que Nana. Apesar de ter diversas engenhocas que ajudavam nos obstáculos, ele era fraco e atrapalhado. Às vezes não entendia porque ela o chamava para as missões, mesmo sabendo que precisaria ficar de olho. Pelo menos a Ordem ele sabia que o mantinha por respeito aos seus pais; apenas como uma obrigação. Mas e Nana? Será que ela gostava de suas invenções?
"Eu podia colocar em prática o treinamento de Faerea. Mas é inútil se eu tenho medo de machucar qualquer criatura", cerrou os punhos e prometeu a si mesmo que se Nana estivesse em perigo, ele agiria.
Olharam para cima, o cristal de Licantropia estava escondido em algum lugar nas cavernas amaldiçoadas. Aquele lugar era uma das poucas esperanças. Logo a lua azul iria aparecer, e, então, não teriam mais tempo.
Diziam que o cristal protegeria o continente da ira de demônio ancestral. Poderia ser a última esperança da cidade — apesar de ninguém realmente saber o verdadeiro poder daquele objeto.
Ali nas montanhas, desviando de abismos repentinos e passando por caminhos muito estreitos, Loki começava a pensar se tudo aquilo realmente valeria a pena. Vários membros da Ordem foram mandados para lugares distintos, à procura daquele artefato. Mas será que, depois de cem anos, alguém encontraria?
Ele foi surpreendido por um puxão. Um grande animal surgiu em sua frente, onde — instantes antes — ele estava.
— Fique atrás de mim! — Nana sussurrou e ficou à frente. — Preste mais atenção, cabeça de vento.
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As não tão aventuras de Lana
AventuraColetânea de diversos gêneros dedicada ao 1° Torneio Literário de Aranduka. Para acompanhar o torneio siga o perfil: @TorneioLiterario aqui no Wattpad