As asas de um javali

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    Certo dia ensolarado e calorento, um pequeno porco selvagem arrastava consigo alguns gravetos secos. O caminho era sinuoso, com a gramínea ressecada e as pedras espalhadas por todo lado. Mesmo com o sol torrando seu couro e a vegetação lhe incomodando, a criatura continuou determinada, completamente alheia aos animais que a observavam.

    Cochichos e gargalhadas acompanhavam a árdua tarefa. O porco já não sabia mais quantas vezes tinha passado por ali, carregando pedras, gravetos e as melhores folhagens que conseguia encontrar — apesar de na savana não ter muitas opções.

    Uma hiena, tão astuta e irônica, soltou uma risada descontrolada, apontou para o porco selvagem e disse:

    — Você é uma piada em quatro patas!

    — Ele acha que vai conseguir alguma coisa rastejando assim. — Outra hiena comentou e riu ruidosamente.

    O porco se limitava a continuar sua tarefa, arfando e suando como nunca. Ele precisava continuar, antes que as chuvas chegassem e a vegetação ficasse muito úmida.

    As girafas comentavam que ele nunca ia alcançar alguma coisa na vida, afinal, ele apenas ficava andando de um lado para outro carregando lixo. Elas, ao contrário dele, eram grandiosas e enxergavam muito além com seus longos pescoços.

    As zebras sorriam solidárias, reconhecendo seu esforço, mesmo não entendendo o que ele estava fazendo. Elas sabiam como o mundo ali podia ser hostil, ninguém precisava de mais coisas ruins.

    Um abutre que passava por ali todos os dias, ao pôr do sol, acompanhava a pobre criatura até a curva do desfiladeiro. Algum dia, aquela poderia ser sua refeição de ouro.

    Em algum lugar dentro do desfiladeiro, o cansado porco selvagem colocou os gravetos que carregava em uma grande pilha ao lado de um buraco. Era difícil encontrar os gravetos do tamanho que precisava e ainda as folhas certas. Naquela vegetação rasa, as poucas árvores que existiam, tinham suas roupagens bem lá no alto. As girafas se recusavam a ajudar, não querendo abaixar suas cabeças para ele, então, ele precisava procurar no pé das árvores as melhores folhas, menos secas possível.

    Deixou-se cair no chão, exausto pelas viagens durante todo o dia. Finalmente era hora de descansar...

    — Você conseguiu mais! — Uma pequena criatura surgiu de um buraco na terra.

    — Logo vamos poder construir o seu sonho. — O porco sorriu.

    — Fiz o jantar — disse o suricato, entregando um pedaço de madeira com vários insetos.

    Por mais que preferisse roedores e frutas, comer insetos não era de todo ruim, quando conseguia se distrair do sabor amargo.

    — Meu sonho parece impossível, mas... — O suricato começou.

    — Não venha com essa! — interrompeu. — Você procura pela sua família, enquanto eu te ajudo no seu sonho, não é esse o trato?

    — Sim... — falou acuado.

    — Estamos quase terminando, não pode desistir agora! — bufou e ficou satisfeito ao ver que o amigo balançava a cabeça como um sinal de concordância.

    Ao finalizar o mirrado banquete, ambos se recolheram para dormir. O pequenino entrou em sua toca subterrânea e o outro se aconchegou em um punhado de folhas que dizia ser sua cama majestosa.

    O suricato, tão pequeno e indefeso, encarava o escuro de sua toca e pensava nas injustiças do mundo. Estava longe de sua família, apesar de não entender como tinha parado ali, tão ao norte de sua terra natal.

As não tão aventuras de LanaOnde histórias criam vida. Descubra agora